24 de dezembro de 2024
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Rogério Cruz e os seus reais marqueteiros de plantão

As obras são o que Rogério tem para mostrar, mas não será fácil fazer convencer a população que ele merece uma segunda chance. (Foto: Leoiran)
As obras são o que Rogério tem para mostrar, mas não será fácil fazer convencer a população que ele merece uma segunda chance. (Foto: Leoiran)

O prefeito Rogério Cruz mantém firme seu objetivo de ser candidato à reeleição em Goiânia e segue o fluxo da estratégia que parece ser a sua desde sempre, sem sopro de marqueteiro: a aposta na entrega de obras. Ele se esforça mais nessa direção do que em outra, apontada por pesquisas que tentam captar o sentimento atual e as expectativas da população: a melhoria da qualidade dos serviços públicos e a atenção básica ao bem funcionamento da cidade. Isso uma tradução livre.

É uma escolha e uma aposta. Não quer dizer que ele está errado, apenas que optou por este caminho. Uma das razões é que tem obra pra entregar e não tem tempo para fazer o que as pesquisas indicam, a não ser o que um batom permite. A Comurg, por exemplo, tornou-se um peso para esta gestão. Um diferencial de desvantagem eleitoral. Ponto de desgaste. E não há qualquer sinal de que algo será feito para mudar essa realidade. Rogério terá de ganhar “apesar” da Comurg.

E antes que leiam isto como uma avaliação minha sobre a empresa, deixo claro que se trata mesmo do que esta gestão fez com com ela: criando caos, em vez de soluções, para tristeza dos servidores e dos goianienses. Na prática, a coleta de lixo gera estresse, a falta de embelezamento – “Nion, esse é bom”: lembram do mote? -, cuidado com as sujeiras que tanto mal-estar causam e tanto contaminam a baixo autoestima, não estica tudo isso deveria existir e, não existindo até agora, não haverá tempo para convencer o eleitor que existirá ainda este ano (e na próxima gestão, se reeleito?).

As obras são o que Rogério tem para mostrar hoje. Mas é bom que se diga: por mais positivo que obras, em princípio, são, não será fácil fazer disso carro-chefe capaz de convencer a população que a atual administração merece uma segunda chance. Exatamente porque as pesquisas citadas mostram que a população, enfim, e em resumo, está contaminada pelas falhas nas áreas que mais gostaria de estar bem atendida. Um desafio de comunicação, daqui pra frente: antes a frustração causada pela administração na sociedade, será preciso dourar a pílula do que ela menor quer para esconder ou pelo menos minimizar o impacto negativo do que ela mais quer.

Será um pouco subverter a ordem: a comunicação terá de correr à frente da gestão. E de forma certeira, mostrando cirurgicamente as coisas e criando um conceito arrebatador, o que hoje não existe. E eis aí outro ponto complicado, pelo histórico de como a gestão trata a sua comunicação. Seria preciso, por exemplo, que os recursos de comunicação – já limitados pela média do ano eleitoral – fossem investidos tão somente em comunicação, sem desvio de origem e método, vamos dizer assim. Da pra acreditar que a gestão atual fará isso? Sim, pela fé; pelos fatos, não.

Mas estamos falando apenas de uma ponta, a da comunicação institucional. Porque a outra demandará esforço igual ou maior. A destinada a “vender” o candidato, no sentido de apresentá-lo como viável, como o melhor para a cidade e o único capaz de atender as expectativas do goianiense em relação ao futuro. Sim, desse mesmo público que está deveras descontente – segundo as pesquisas, bom repetir – com a realidade atual da mesma gestão. Tarefa hercúlea. Para bom marqueteiro, bom gestor de comunicação – que o prefeito finalmente tem na Secom – uma equipe que tenha a meta não como tarefa, mas missão de vida profissional.

Rogério Cruz só estará fora do jogo da própria sucessão se desistir ou se não conseguir definitivamente se viabilizar até as convenções. Depende mais dele do que de alianças que geram expectativas mas que se sabe desde logo impossíveis. O prefeito e o prefeito candidato tinham um rumo até ontem; hoje a direção estratégica é outra e se isso não for ajustado, nada mudará. Rogério Cruz está ouvindo um círculo vicioso de pessoas que o fazem fazer a mesma coisa sonhando com resultado diferente. Não é por aí, todos sabem, muitos contam que inclusive já disseram isso a ele. Gente que está desistindo, jogando a toalha. Como ajudar alguém que não quer ser ajudado? Como eleger alguém que está cercado de professores e doutores em fracasso eleitoral – ou necessitados da derrota para vencerem na vida?

Rogério Cruz é viável eleitoralmente. Inviável, prova-se cada dia mais, é vencer os estrategistas internos que lutam por sua derrota. Estes são os seus verdadeiros marqueteiros e comunicadores velando por seus dias na prefeitura.

Vassil Oliveira

Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).