07 de agosto de 2024
Publicado em • atualizado em 04/06/2012 às 12:29

R$ 6 milhões da Delta. Mas… Cadê o dinheiro?

Dois casos ocorridos nos últimos dias, aparentemente desconectados, carregam fatos curiosos, que podem abrir nova frente de investigação no caso Cachoeira, em Goiás, e envolvem o ex-prefeito de Goiânia, Iris Rezende, o governador Marconi Perillo (PSDB), os secretários estaduais Thiago Peixoto (Educação, PSD) e Daniel Goulart (Articulação Institucional do Governo, PSDB), o prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela (PMDB), e, de leve, o atual prefeito da capital, Paulo Garcia (PT).

A eles.

No domingo, 27 de maio, o secretário de Articulação Institucional do Governo de Goiás, Daniel Goulart, apresentou denúncia no Programa Paulo Beringhs que, confirmada, atingiria em cheio Iris Rezende.

Segundo ele, o dono da construtora Delta, Fernando Cavendish, e o diretor da empresa para o Centro Oeste, Cláudio Abreu, visitaram na segunda quinzena de maio de 2009 o então prefeito Iris Rezende com duas sacolas. “O que haveria nelas”, ele mesmo perguntou, para deixar evidente que falava de dinheiro vivo.

Pelo relato do secretário, o encontro teria ocorrido no Paço Municipal, sede da prefeitura. A prova da denúncia? “O Thiago (Peixoto) contou isso, e não pediu reserva”, falou. Thiago Peixoto é deputado federal licenciado, secretário estadual da Educação, está no PSD, mas foi eleito pelo PMDB e até sua aproximação com o governador Marconi Perillo, era visto como seu possível adversário em 2014.

Daniel tentava, na hora, mostrar que nem Leonardo Vilela (tucano que confirmou conversa com Cachoeira, inclusive para articular politicamente sua candidatura a prefeito da capital goiana) nem o governador Marconi Perillo tinha o que temer nas apurações do caso Cachoeira, mas que o PMDB e Iris tinham muito o que explicar. “Marconi é vítima de Cachoeira e do lulismo”, afirmou.

Thiago Peixoto, testemunha ocular do relato, está em silêncio sobre os fatos. Não disse nem mesmo como foi parar no encontro para ser isso, testemunha ocular. A não ser que…

O outro fato é deste final de semana. Segundo reportagem da revista Veja, dados do Coaf, o órgão do governo federal que identifica transações suspeitas de lavagem de dinheiro, mostram que a Delta Construções, considerada braço empresarial de Cachoeira, repassou R$ 6 milhões a uma empresa cujo proprietário trabalhou para a prefeitura durante a gestão de Iris.

Informa a revista que a GM Comércio de Peneus e Peças Ltda recebeu dinheiro da Delta entre novembro de 2009 e maio de 2010, por meio de depósitos bancários. O dono da empresa seria Alcino de Souza, nomeado para cargo comissionado no município. À Veja, Alcino contou que recebeu R$ 1,5 mil por mês para emprestar o nome à empresa e sacar o dinheiro na conta.

E para quem ia o dinheiro? Para Fábio Passaglia, ex-diretor de Compras e Licitações da prefeitura e presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Aparecia (Ippua), que cuida de obras na administração de outro peemedebista, Maguito Vilela, em Aparecida.

É a partir daqui que a história ganha ares de suspense.

A declaração de Daniel Goular tinha endereço certo: sugerir que Iris, ou sua administração, teria ligações com Cachoeira. A reportagem de Veja também aponta para um caso de difícil explicação para o ex-prefeito. Ocorre, porém, que em histórias de suspense nem tudo é o que parece.

Ao jornal O Popular, neste domingo, Iris contou que Fábio foi nomeado diretor de Compras em Goiânia em 2005 e que ficou no cargo menos de um ano, quando o teria demitido por conta de uma denúncia. O relato de Iris, segundo o jornal:

“Ele Iris) conta que, durante a licitação para compra de 50 caminhões para limpeza urbana, em abril de 2006, um empresário que participava da concorrência chegou até seu gabinete com a informação de que Fábio e outro auxiliar, o ex-secretário de Comunicação Luiz Antonio Ludovico, lhe pediram dinheiro. ’E você deu?’ perguntei a ele (Fábio)”, conta Iris. Ele disse ‘não’. O crime de corrupção não se concluiu, então eu não tinha porque levar essa denúncia às autoridades. Mas demiti os dois em questão de minutos.”

Iris falou outra coisa. Disse que Fábio Passaglia foi indicação de Thiago Peixoto, seu ex-aliado. E garantiu que não conhece Alcido de Souza. Thiago, por meio de sua assessoria, também falou, tornando a história mais curiosa. Confirmou que é amigo de Fábio e afirmou que ele, Fábio, teria sido indicação da filha de Iris, Ana Paula.

Tem mais. Informa a reportagem de O Popular que Fábio é empresário e tem participado de concorrências públicas da atual gestão do prefeito Paulo Garcia (PT), que assumiu com a renúncia de Iris no início de 2010 para se candidatar ao governo e é candidato à reeleição. O nome de Fábio surge em uma ata de fevereiro de 2011, como representante da Terra Pneus e Lubrificantes Ltda, interessada na locação de máquinas à prefeitura.

Resumindo: Thiago e Iris, tidos e havidos até 2009 como filho e pai políticos, romperam porque Thiago se aproximou de Marconi, que é acusado no caso Cachoeira e que, como tal, foi defendido em um programa de TV por Daniel Goulart, que quis colocar na fogueira também Iris, usando o nome de Thiago, que já foi citado em gravações do caso Cachoeira, como ‘prova’ testemunhal, mas Thiago, em vez de passar recibo de tudo, calou-se em um caso e, no outro, devolveu a bola para Iris, colocando na história a filha dele, Ana Paula, que cresceu amiga de Thiago e Daniel Vilela, o primeiro filho de um velho aliado do pai, Flávio Peixoto, que hoje presta serviços ao PSDB do Tocantins, e o segundo, deputado estadual pelo PMDB e filho de Maguito, que já admitiu que até jogava bola com Cachoeira e que, vejam só, contratou Fábio, o amigo de Thiago que liga tudo e todos.

A pergunta é: para quem foi o dinheiro recolhido por Fábio Passaglia? Para Iris? Para Thiago? Para ninguém?

Enfim: cadê os R$ 6 milhões?

Não é uma boa história para ser esclarecida na CPI do Cachoeira, em Brasília?

(Publicado no http://www.brasil247.com/pt/247/goias247/62812/R$-6-milh%C3%B5es-da-Delta-Mas-Cad%C3%AA-o-dinheiro.htm

Vassil Oliveira

Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).