28 de agosto de 2024
Publicado em • atualizado em 23/07/2023 às 23:23

Quem tem medo não se estabelece nas urnas

Cada eleição é uma guerra em particular. Conceitos como novo e mudança são recorrentes, mas não funcionam todas as vezes ou com qualquer nome (foto divulgação)
Cada eleição é uma guerra em particular. Conceitos como novo e mudança são recorrentes, mas não funcionam todas as vezes ou com qualquer nome (foto divulgação)

Quem tem medo de ataques abaixo da cintura, denúncias e tiro de informações inverídicas não pode ser candidato majoritário porque vai morrer do coração. Se tiver culpa no cartório da vida – e quem não tem? -, aí vai cair duro ao primeiro golpe. Sangue frio e couro grosso são linha de frente de candidato que sabe o que quer e topa chegar lá, nem que seja levado na maca.

Pode parecer cruel e show de hipocrisia, mas é a realidade nas campanhas. Campanhas proporcionais chamam pouca atenção. Eleitor vira a cara para muita sujeira de candidato. Campanha majoritária é carnificina, com graduação: prefeito, governador e presidente. No fim, o vencedor sobrou, mais do que ganhou. Um defeito de pé começa como mancada e termina como venda de rim.

Política não é altar para santo. Se chegou lá, tem história. Quem tem história, já foi vilão e já foi herói. É herói e é vilão. O eleitor sabe disso, porque é da mesma matéria e do mesmo espírito. Eleitor e candidato se entendem mais nos pecados do que nas virtudes. Veja a compra de voto. Se pagou, alguém vendeu. E vendeu cobrando moralidade. Quem compra, compra em nome dela, porque é o que quem vende quer ouvir no palanque. Na vida, santos são exceções. Os candidatos a tal, negociam no púlpito.

Os ataques só são sérios se afetam as campanhas. No interior, são recorrentes as campanhas com ex-prefeitos carregados de processos por malversação do dinheiro público, enriquecimento ilícito no poder a olhos escancarados, mas que se elegem e reelegem sem qualquer dificuldade. O povo os conhece bem, e por isso votam neles. Isso mesmo. São conhecidos. E assim mesmo são populares.

Em um município próximo a Goiânia, teve uma vez que só dois candidatos se enfrentaram. Ambos ex-mandatários. Ambos com pilhas de processos na Justiça por irregularidades em suas gestões. Ambos a perigo: a qualquer momento um juiz poderia tirá-los da campanha; e, caso eleito, poderia fazê-los perder o mandato. O que aconteceu? A cidade se dividiu, e não foi por Justiça. Foi por torcida. E o que venceu não terminou mandato. O que perdeu foi eleito depois.

Não é a denúncia ou o escândalo em si que define o destino do candidato. É o que o eleitor define como aceitável ou não. Corrupção não costuma derrotar ninguém. Mas um chute num cachorro, certas filmagens de traição – às vezes essas coisas funcionam a favor -, uma confissão de vontade de ficar rico, ainda que de brincadeira – Goiânia viu isso -, eis o que leva alguém ao triste destino da rejeição do eleitor. Por que? Deus sabe, mas não se mete nessas coisas. Deve se divertir. Eu me divirto.

Cada eleição é uma guerra em particular. Conceitos como novo e mudança são recorrentes, mas não funcionam todas as vezes ou com qualquer nome. Ataques também são comuns, porém o cuidado está no tom e no timing. Na dose do veneno. O que impressiona: os candidatos, mesmo os que já sabem dessas verdades de cor e salteado, preferem fazer campanhas focadas nos adversários, em vez de concentrar atenção na construção de seus nomes.

Destruir o adversário é o grande fetiche. Vale mais que construir a própria história. Falar mal do outro satisfaz muito além de falar bem de si mesmo. Satisfaz também o eleitor, que gosta mais de fofoca do que de informação. Prefere a guerra à disputa. Ataque e denúncia alimentam as feras. Propostas são a desculpa para todos parecerem o que não são. Eleição é o resultado do desamor, e não do amor ao próximo. Quem tem medo, perde por antecipação. Não se estabelece na vida política.

Vassil Oliveira

Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).