19 de novembro de 2024
Publicado em • atualizado em 21/07/2023 às 14:33

Quando os filhos viram pais

Foto: Reprodução
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Observava discretamente enquanto aguardava na sala de espera. Um rapaz, na casa dos 30 anos de idade, com toda a paciência e calma do mundo, recomendava à mãe, uma senhorinha de aparência frágil, que não limpasse o nariz no vestido. “Isso não é elegante, mamãe. Já falamos sobre isso, se lembra?”. Ele deu a ela um lenço e ela o obedeceu, como quem obedece um pedido do pai. 

Os nossos pais nos preparam para muitas coisas na vida, nos ensinam a andar de bicicleta, usar os talheres, amarrar o cadarço do tênis. Mas entre as poucas coisas que ninguém fala e nem ensina, está o fato, e tudo que ele carrega junto, de que um dia, inevitavelmente, os filhos se tornam pais dos próprios pais. 

A questão é que essa hora chega sem aviso, aos poucos, nos pequenos detalhes que a convivência entre pais e filhos impõe. Está na necessidade de acompanhar ao médico, na supervisão do uso de tecnologias, em acudir uma eventual aventura descabida. Pouco a pouco, as recomendações se tornam broncas, os pais ficam rebeldes e os papéis se invertem. 

Para que esse dia chegue não é necessário que uma doença os atravesse ou que a idade avançada os alcance. Basta que os filhos cresçam e se tornem adultos. A partir daí, compreendemos que os nossos pais, assim como nós, também possuem incertezas, inseguranças e medos. Como adultos, que não se sentem assim tão adultos, percebemos que os nossos super-heróis e mulheres-maravilha da infância também são eternas crianças aprendendo a viver. 

Os pais não têm noção certa de tudo que fazem, e, mesmo assim, mantêm os filhos vivos, cuidam das contas do lar e equilibram os problemas que surgem. Essa ficha me cai em momentos em que eu me vejo como a adulta responsável da casa, mas cai e depois passa, como se fosse uma máscara que visto em momentos de necessidade, como a roupa de mulher-maravilha que minha mãe vestia para dar conta de tudo. Mesmo insegura das minhas decisões, eu já tive que prestar socorro médico, dar conselhos jurídicos, cuidar e acolher. E, para meu espanto e surpresa, sempre deu tudo certo. 

Na sala de espera da Clínica eu observava o filho cuidar da mãe, enquanto esperava a minha voltar do atendimento. Se olhar ao redor, há dezenas de pais dos pais. Não é preciso ter um filho para ganhar um. A gente cuida, acolhe e ampara, como se tudo em nós já soubesse que essa hora chegaria. Não há necessidade de ensinar ou antecipar o que vem, a própria vida ensina e se encarrega disso. 

Luana Cardoso Mendonça

Jornalista em formação pela FIC/UFG, Bióloga graduada pelo ICB/UFG, escritora e eterna curiosa. Compartilho um pouco do mundo que eu vejo, ouço e vivo, em forma de palavras, afinal, boas histórias merecem ser contadas