28 de agosto de 2024
Publicado em • atualizado em 13/02/2020 às 09:44

Prévias do futuro da oposição em Goiás

Informa a coluna Giro, de O Popular desta quarta-feira, 27, que “um grupo de deputados e prefeitos do PMDB goiano tem discutido estratégia para realizar em março prévias para a escolha do candidato a governador da oposição”.

Não há referência a quem faz parte do grupo. Ma há o registro de que “não por coincidência, é a sugestão do senador e pré-candidato Ronaldo Caiado (DEM)”.

Continua a nota:

Mas, antes de qualquer mobilização maior, o trupo quer bancar no final deste ano pesquisas quantitativas e qualitativas no Estado. Além dos nomes de Caiado e do deputado federal Daniel Vilela (PMDB), deverá ser incluído também o do ex-prefeito Maguito Vilela. “Queremos avaliar todas as possibilidades e potenciais nomes antes das prévias”, diz um deputado estadual, que não participou do encontro do PMDB com Daniel Vilela sábado em Jussara. Como o grupo dos Vilela no PMDB é contra antecipar a definição de candidaturas, prefeitos e deputados deste grupo querem mobilizar os demais no partido para que exijam as prévias. “A decisão para 2018 não pode ser mais no campo emocional, e sim racional. Queremos ganhar a eleição”, diz o peemedebista.

Curiosa essa ideia de prévia. Avancemos na perspectiva.

Quais partidos participariam dessa prévia? Ou seria apenas no PMDB e no DEM?

Saber quais partidos participariam responderia a outra pergunta: quais partidos formam, de fato, a oposição em Goiás?

O senador Ronaldo Caiado tem realizado encontros com amplo grupo de legendas. Muitas, porém, grudadas no governo estadual. Ficam na oposição, quando chegar a hora? Reparo a isso foi feito por Daniel Vilela, que não acredita que o grupo permaneça o mesmo lá na frente.

Qual grupo conduziria as prévias?

Qual o tamanho desse grupo que quer prévia? Por que não dá as caras?

Como o grupo que propõe não é nominado, fica difícil saber a sua consistência. Hoje, o que se tem na oposição, é isto:

1 – de um lado, nomes do PMDB e de partidos variados defendendo Caiado como candidato da oposição. Nomes. Não é um movimento. Pelo menos, ainda não;

2 – de outros lado, nomes do PMDB e de partidos aliados defendendo Daniel como candidato da oposição. Nomes. Não é um movimento nem dentro do partido. Pelo menos, ainda não;

3 – de lado a lado, ações que mostram muito mais divergência do que convergência. Caiado e Daniel não estão afinados em uma estratégia que aponte para um afunilamento futuro. Parecem mais em confronto. Nessa visão é que a proposta das prévias emerge mais como ideia de caiadistas para emparedar os vilelistas (com neologismo e tudo).

4 – de todos os lados, sobram convicções sobre a necessidade de união, como a expressa na declaração do peemedebista que não é nomeado na nota: “A decisão para 2018 não pode ser mais no campo emocional, e sim racional. Queremos ganhar a eleição.” É o senso comum. Tipo de coisa com a qual todos concordam. Mas também o tipo de declaração que serve ao maniqueísmo da conveniência de um lado e de outro: é recado de Daniel para o que é visto como arrogância de Caiado; é recado de Caiado ao que é visto como intransigência de Daniel.

Outra pergunta: até a prévia, qual a estratégia? Haverá diálogo?

De novo, a falta de estratégia dos oposicionistas. Uma regra como as prévias só pode ser criada dentro de um ambiente de entendimento contínuo. Em uma situação de conversação constante. E isso é exatamente o que não existe hoje.

Não há registro de encontros para alinhamento entre Caiado e Daniel. Não há ações conjuntas deles. O que há são movimentações isoladas de parte a parte. Caiado está indo ao interior falando em nome da oposição, e Daniel também indo falando em fortalecimento da unidade e do PMDB. Mas sem que isso signifique ação casada. É cada um por si e contra si.

Para que haja condições de negociação lá na frente, no momento da prévia; para que o processo não resulte em desgaste de grupos e em fissuras incontornáveis, é necessário que tudo seja estabelecido em bases sólidas. Senão, as prévias serão guerra, jamais oportunidade de conciliação e arregimentação dos oposicionistas.

Mais uma questão: quem fará a pesquisa? Quem conduzirá a sua realização, como termos a serem respeitados e pontos a serem considerados?

Ainda em aberto, aí: de onde parte a proposta de prévia? Quem faz parte desse ‘grupo’ ao qual a nota se refere (e nenhum reparo aqui à notícia, porque é legítima a preservação de fonte)? Quem pode conduzir esse processo?

Com dois lados em disputa aberta na oposição, e uma disputa que sobe o tom a cada passo, fica evidente a falta de um líder mediador. Um líder, senão acima de qualquer suspeita, ao menos respeitado por todos, acima de tudo.

Natural, neste aspecto, que se pense no prefeito de Goiânia, Iris Rezende, como árbitro da busca de unidade da oposição. Mas Iris está focado na administração da capital, e já avisou que só tratará de eleição no ano que vem. Falta-lhe, portanto, tempo – ou, quem sabe, motivação. Resta saber para onde ele direcionará sua energia. Sem tergiversação. Aí é imprescindível não perder de vista Dona Iris. Passa por ela qualquer definição no partido.

Natural, também, seria o ex-governador Maguito Vilela como juiz. Mas ele é apresentado como coordenador da pré-candidatura de Daniel, que é seu filho. Isenção comprometida, portanto. O que faz surgiu a dúvida: por que ele é citado como possível nome na prévia, como está na nota? Porque, na visão dos apoiadores de Daniel, alimentar a pré-candidatura de Maguito ao governo é uma forma de marconistas e caiadistas tentarem esvaziar a sua, que está oficialmente posta. Irrita, não pacifica.

Nos últimos anos, o PMDB perdeu lideranças importantes, que fazem falta nesta hora. E os novos não mostraram, até agora, competência para assumir os rumos da legenda de forma a reconstruir o que está quebrado, e levantar o que está caído. Nos outros partidos também faltam referências de liderança incontestável. Há muitas vontades, porém poucas capacidades.

Há donos de partidos, donos de mandatos, no entanto ninguém legitimado pelo consenso da serenidade e da respeitabilidade, virtudes presentes sempre naqueles que personificam a construção de projetos em ambientes de grande divergência política, como o da oposição goiana, onde muitos querem a mesma coisa, mas poucos estão dispostos a abrir mão das vontades pessoais em nome de um projeto coletivo.

Outra pergunta: a quem interessa de verdade a prévia, ou antes, disseminar essa ideia?

Pode ser uma coisa de Caiado. Pode ser uma coisa dos governistas tentando implantar discórdia na oposição. Pode ser uma iniciativa de fato bem intencionada. Como não há nomes na informação, a dúvida mais age contra do que a favor da unidade da oposição. Qualquer que seja a fonte do interesse, este é o ponto básico para qualquer consideração. Ou ilação. Ou teoria da conspiração.

Por fim: até quando Caiado e Daniel vão conversar em público sobre o futuro da oposição, em vez de buscar o entendimento olho no olho?

Porque, do jeito que tocam suas pré-campanhas, senador e deputado parecem estar mais brigando do que convergindo. Assim, mais espaço dão para o adversário desconstrui-los, do que esperança aos que verdadeiramente sonham com uma oposição coesa.

Daniel e Caiado podem mirar a história. Antes de 1998, o que havia em Goiás era um PMDB unido e uma oposição dividida. Exemplo maior dessa divisão ocorreu em 1994: Lúcia Vânia e Ronaldo Caiado candidatos a governador perderam para Maguito Vilela.

Em 1998, os peemedebistas se desentenderam internamente, e os oposicionistas convergiram para o nome de Marconi Perillo, que venceu Iris. Desde então, o grupo marconista briga internamente, mas se une eleitoralmente. Ganhou todas no Estado. PMDB e demais oposicionistas, brigam sempre, antes e durante as campanhas. Perderam todas.

Mas que Daniel e Caiado olhem a história não para se fustigarem. Sim, para aprenderem com os erros e acertos. E para acharem juntos, quem sabe, o caminho da vitória. O da derrota está pavimentado.

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Leia mais:

A unidade da oposição em Goiás na teoria e na prática

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Vassil Oliveira

Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).