28 de agosto de 2024
Publicado em • atualizado em 11/02/2021 às 08:38

Pequi é cultura

Embalagem de pequi em estabelecimento comercial de Goiânia (Foto Altair Tavares)
Embalagem de pequi em estabelecimento comercial de Goiânia (Foto Altair Tavares)

Pequi é comigo mesmo. Gosto demais. Aliás, como dizem lá na minha terra, gostar mesmo eu gosto é da minha mãe, de pequi, vish!!

Essa história de uma cidade mineira ser a capital do pequi não sei tem cabimento, todos sabem, mas a discussão é boa.

Goiás valoriza sua coisas? Olha que falei coisas porque é mais abrangente. Poderia ter dito cultura.

Pequi é cultura? Pequi é a gente. Coisa que somos, ainda que nem todos gostem. Dois dos meus filhos não gostam (conste: o terceiro ama).

Pequi tem a ver com cultura, identidade, com literatura, música, com tudo quanto há. E nem falo só do caroço. As árvores tortas, a casca ranhenta, a personalidade que se impõe. Isso nos representa.

E não ter colocado ainda o pequi no palco também é muito nossa cara. Gostamos de falar bem da gente, mas na prática falamos igual ou mais, o que temos de ruim.

Não valorizamos quem e o que somos na proporção que merecemos. Temos um orgulho danado de falar que somos goianos, só que esse orgulho muitas vezes está mais para a acepção mais negativa da palavra.

Tomar nosso protagonismo como pátria do pequi é como mexer em caixa de marimbondo. Mexeu com um, mexeu com todos. Mas até onde vamos com isso? Até o orgulho ferido ou o orgulho valorizado?

Há tempos não temos valorização da cultura como merecemos em Goiás. Vivemos de cultura de evento. Com o vento (trocadilho inevitável), nossa essência passa batido, só se sobressai o fato noticiado e, logo, esquecido.

Ir fundo no que somos, no que fazemos, no que produzimos na música, na literatura, no teatro, na pintura, no cinema, ir fundo aí e mais, que é bom, nenhum governo vai.

Por isso somos o Estado da música sertaneja mas ficamos entre nos orgulhar e renegar o sertanejo. Por isso temos tantos outros talentos e nem nos damos conta, a não ser quando ganham palco nacional.

De lá para cá, valorizamos; de cá para lá, só quando o reconhecimento também vem de fora. Coisa mais sem noção, né não?!

Goiás do pequi está ameaçado faz tempo, e a culpa não é de Minas Gerais – inté porque, se num tem trem mió que ser goiano da gema, Minas é daquipracolá.

Mais vale um prato de pequi com caldo e a nossa cultura conhecida, valorizada e divulgada do que um gosto contrariado.

Vassil Oliveira

Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).