Rogério Cruz tem como maiores adversários, da perspectiva de sua reeleição para a prefeitura de Goiânia, assessores bem próximos. Essa tese não é nova e sempre ressurge em momentos de crise. Um prefeito sem perspectiva de poder (futuro) é um ex-prefeito no poder (passado). O seu tempo presente passa a ser um só: definhamento político. Por isso, a estranheza. Se o plano é não buscar a reeleição, por que dificultar a caminhada, já que bastaria trocar passes em campo e deixar o juiz apitar o fim da partida?
A não ser que não haja um plano. Ou que o plano da não reeleição preveja também intervenções sistemáticas em qualquer outro plano que leve a uma eventual possibilidade de reeleição. Curioso que tudo fica mais caro em uma gestão que parte puxa para o norte, outra parte estica a corda para o sul, e mais outros empurram daqui e dali para leste e oeste. A relação com a Câmara fica mais tensa. O contato com a população via imprensa, que quer informação, sobe no telhado.
Em vez de andar de rodinha, de repente o prefeito está arrastando sua administração e sua imagem, contaminada pelo espanto da plateia e pelo desprezo dos próprios aliados, cada dia mais motivados pela lei da sobrevivência: é cada um por si e Deus que se vire nos trinta. O prefeito não perde só o controle de suas ideias, seus possíveis sonhos, suas metas e sua luta por uma marca e uma boa herança. Ele perde a noção de tempo e de espaços na estrutura que ele próprio nomeia e desnomeia ao som das cobranças de opositores e aliados.
Convenhamos, se o prefeito não tem um plano, alguém tem, e vai executá-lo mesmo que tenha que executar o prefeito junto. Se o prefeito compactua desse plano que o desqualifica, aí podemos pensar: não é que ele merece o futuro que se avizinha? Porque o legado de um prefeito não se resume apenas a uma administração boa ou desastrada. Há que se acrescentar aí a conta jurídica dos atos. Uma coisa é ter para si uma certeza categórica de que tudo está nos conformes da lei.
Outra é isso estar amarrado em nome de Jesus nos atos dos assessores desesperados com o fim do poder ou dos assessores que estão nem aí para a pipoca, uma vez que não serão eles a pagar para ver os tribunais de contas agirem depois. Uma prefeitura é constituída de muitas células ocupadas por indicados que obedecem a esses indicados, não necessariamente aos interesses públicos ou do prefeito. E quem está vigiando o vigia da escola? Quem está cuidando do caixa daquela agência ou daquela companhia?
O descontrole nem sempre está na cabeça dos gênios elaboradores de planos de saída que preveem vida longa e confortável. O descontrole está no que acontece abaixo das torres do castelo. Ali, quando há a convicção do descomando, do cada um por si e de que começou o velório da perspectiva de poder, tudo passa a ser feito a torto e a direito. Não há novidade nisso. Em casa que não tem dono, cupim toma conta. O que leva à questão: Rogério Cruz pode até ter inimigos, mas o que está corroendo seu futuro certamente não são eles.
Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).