05 de setembro de 2024
Publicado em • atualizado em 13/02/2020 às 09:23

Paulo Garcia. O homem que queria ser lembrado

Ex-prefeito Paulo Garcia e repórter Samuel Straioto no Paço Municipal (Foto: Arquivo DG)
Ex-prefeito Paulo Garcia e repórter Samuel Straioto no Paço Municipal (Foto: Arquivo DG)

Goiânia foi surpreendida neste domingo (30), com a notícia da morte do ex-prefeito da capital, Paulo Garcia (PT). Desde que terminou o mandato no dia 31 de dezembro do ano passado, ele praticamente se ausentou da vida político-partidária. O petista tinha o desejo de ser lembrado no futuro pelas suas realizações enquanto chefe do Poder Executivo Goianiense.

Escrevi um artigo no dia 31 de dezembro de 2016, apontando erros e acertos na gestão dele. Quero aqui após a sua morte aprofundar em alguns elementos. Paulo Garcia herdou a Prefeitura de Goiânia, de Iris Rezende no dia 1º de abril de 2010 e ficou até o final do ano passado. Foram 6 anos e 9 meses.

Neste período não tenho dúvidas que fui o repórter que mais acompanhou o prefeito em agendas públicas. Por várias oportunidades, Paulo Garcia chegava até determinada região e lá estava eu, o esperando. Escolas em lugares mais afastados da cidade, vistorias em praças, que a “Grande Imprensa” não dava muita atenção, eventos considerados pequenos, mas que sabia que ali poderia render boas entrevistas e uma forma de estar altura dos meus colegas de imprensa que atuavam em veículos de maior estrutura e surpreendê-los com alguns furos. O que aconteceu ao longo dos anos.

Paulo e eu não éramos amigos, mas sabíamos nos respeitar. Ele me respeitava enquanto repórter que de perto acompanhava a administração. Eu o respeitava enquanto prefeito, sabia das virtudes e fraquezas enquanto gestor. Quando Paulo descia do carro oficial da prefeitura, bastava olhar para o semblante dele para saber se eu teria ou não boas informações a serem repassadas ao público.

O acompanhei em inúmeras situações, mas sem dúvida, duas me chamaram muito atenção. As duas considero um privilégio enquanto repórter. Ao lado de Alexandre Parrode do Jornal Opção, tive a oportunidade de acompanhá-lo um dia inteiro, desde o momento em que saiu do prédio onde morava até o final do dia. Daqui a pouco detalharei mais sobre esta ocasião. A segunda vez foi quando o acompanhei de bicicleta da casa dele, até a Prefeitura de Goiânia.

O prefeito de uma cidade tão grande como Goiânia tirar momentos de trabalho para dizer o que ele pensa a alguém insignificante como eu, um simples repórter, profissão desvalorizada na sociedade, mal remunerada, com atrasos de salários, em muitos casos aqui na nossa cidade, e a todo momento exposto a riscos, por uma série de fatores que posso detalhar melhor em outra oportunidade.

No dia em que o acompanhei, vi de perto aquilo que foi um grande peso na sua vida política e até mesmo pessoal: a rejeição que as pessoas foram tendo por ele, devido a uma administração mal avaliada, com equívocos e a consequência de alguns erros são sentidas até hoje pelo Goianiense, por exemplo, a crise do lixo, que a Comurg tanto na gestão dele, quanto atualmente, insiste em dizer que está tudo normal e não está. Mas a gestão dele também teve acertos, como desenvolver políticas de mobilidade urbana e recuperar áreas ambientais degradadas.

Andamos por muitos lugares na cidade, vistoriando obras principalmente. As pessoas sempre lhe faziam pedidos, mas bastava se afastar um pouco do prefeito, criticavam a gestão dele, não acreditavam nele enquanto político, isso o enfraqueceu, foi perdendo popularidade. A citada crise do lixo era sinônimo de incompetência, Paulo não conseguiu recuperar a imagem de bom gestor, mas tinha desejo de ser lembrado pelas gerações futuras. O petista saiu com uma marca bastante negativa. Sua última entrevista coletiva, no dia 29 de dezembro do ano passado, chegou a ser melancólica.

Em outra oportunidade quando fomos de bicicleta da casa dele até a Prefeitura, primeiro quero dizer que aceitei o convite, porque não acreditava que ele faria isso. Ele havia anunciado em uma inauguração no Jardim Guanabara que iria de bicicleta trabalhar. Na época, meu preparo físico era excelente, diferente de hoje, que aqui também não quero detalhar as razões, mas que são alheias à minha vontade. Quis então saber se ele suportaria, e foi bem.

Paulo Garcia me disse a respeito do desejo de ser lembrado pelas gerações futuras, como o prefeito que começou a implantar na cidade uma efetiva política do cicloativismo, viabilizando espaços mais adequados para o transporte por meio de bicicletas. Hoje, quase 8 meses que deixou a prefeitura, as pessoas se lembram, principalmente quando as ciclofaixas estão apagadas, ficou o legado.

O ex-prefeito em algumas oportunidades também se mostrou desanimado com a política. Pedidos e mais pedidos em troca de alguma coisa. No dia em que o acompanhei no carro oficial, um importante político o ligou, que aqui não vou citar o nome ligou para Paulo Garcia, pedindo que ele desse alguns cargos a determinado grupo para acalmar ânimos políticos. Ele se dizia decepcionado com algumas práticas políticas.

Paulo Garcia ao longo dos anos, sempre tratou as pessoas como realmente devem ser tratadas, gostando ou não delas. Publicamente nunca o vi xingar ou ofender uma pessoa, mesmo em momentos tensos, como no lançamento do corredor T-7, em que um grupo de comerciantes fez duras críticas a ele.

Paulo ficava bravo, respondia de forma ríspida, mas não era pela pergunta em sim, mas a forma com que ele era questionado. Se fosse de forma dura, respondia com um já tradicional: “Você está equivocado em suas informações”. Se de uma maneira mais branda, ele respondia, talvez não como nós repórteres gostaríamos, mas trazia um ponto de vista.

Para encerrar este artigo, outro ponto relevante eram os horários de entrevistas. Se fosse no Paço, o então prefeito sempre atrasava. A média de 20 minutos. Se fosse fora do Paço, o prefeito sempre se adiantava numa média de 5 minutos.

Há ainda outras inúmeras histórias a serem lembradas no período que pude acompanha-lo enquanto prefeito, por exemplo, a inusitada forma com que escolheu o então secretário de obras Washington Ramalho, atendendo um pedido da esposa, ou ele andando no cavalinho do Mutirama. Paulo tinha conhecimento sobre a história da cidade e era bastante comum se emocionar ao se lembrar como era determinado ponto de Goiânia, antes de transformações urbanísticas.

Neste artigo, deixo o pesar pela morte, manifesto solidariedade à família. Que Deus possa consolar o coração de cada um em um momento tão difícil, quando já não há mais o fôlego de vida no homem, soprado nas narinas por Deus, quando a alma que veio da eternidade volta para a eternidade. Paulo Garcia, descanse em paz!

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