Hoje, o Brasil precisa muitos mais de bombeiros do que de incendiários, para a superação das diversas crises. Ocorre que há muito mais interessados na colocação de fogo nos conflitos dentro do país do que aqueles que busquem um caminho que tenha como centro os interesses maiores do povo brasileiro. A crise não interessa a ninguém, e ninguém sai ganhando com ela. Ao contrário, o prejuízo econômico é de todos.
No campo da busca de um caminho centrado no acordo, pareceu bastante equilibrado o artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso – “Cartas na Mesa’- publicado em diversos meios de informação. Nele, FHC considera que “é preciso abrir o jogo: não se trata só de Dilma ou do PT, mas da exaustão do atual arranjo político brasileiro”.
Sobre o sistema eleitoral, que está na raiz dos problemas, FHC recomenda a reformulação da legislação partidária e eleitoral. O nó é político: eleições com a legislação atual resultarão na repetição do mesmo despautério no Legislativo. Há que mudar logo a lei dos partidos, restringindo a expansão de seu número, e alterando as regras de financiamento eleitoral para evitar a corrupção. Por boas que tenham sido as intenções da proibição de contribuição de empresas aos partidos, teria sido melhor limitar a contribuição de cada conglomerado econômico a, digamos, X milhões de reais, obrigando as empresas a doarem apenas ao partido que escolherem, e por intermédio do Tribunal Superior Eleitoral, que controlaria os gastos das campanhas”.
De sua experiência política, FHC enxerga que a proibição de doação de empresas para campanha eleitorais vai levar o dinheiro ilícito para as candidaturas, além do caixa dois e financiamento pelo crime organizado com complete destruição do sistema. Nisso, ele pode ter razão e o tempo dirá.
A mensagem do ex-presidente tem lógica, mas é discurso que, repetido, parece não ser novo. No entanto, é a insistência do líder do maior partido de oposição (PSDB) que torna as ideias relevantes e, por isso, deve ser consideradas para o debate.
No discurso, muito panfletário, de diversos segmentos percebe-se uma insistência da saída pela ruptura, e até pela violência. Há uma alimentação reiterada de atitudes antidemocráticas que torna o momento preocupante para a história do país. Radicais de extrema esquerda e de extrema direita disputam o espaço das opiniões, dos parlamentos, das redes sociais, com um preocupante desligamento total da compreensão da realidade do país e da real necessidade de que o interesse nacional prevaleça ao invés dos interesses partidários ou de grupos. Há muitos mais forças agindo contra o país do que é percebido pela maioria da população, escreveu o jornalista Luis Naciff no artigo “Lava Jato: tudo começou em junho de 2013”.
Ao invés de violência, acordo. Para fortalecer a democracia, mais democracia. Para sair da crise, convergência para os interesses nacionais. Aos que desrespeitaram a Lei, mais Lei. Numa sociedade em conflito, mais diálogo para que o país saia da crise. Para disputas eleitorais, campanhas e voto do eleitor. Não é com violência democrática que a democracia avança.
Altair Tavares
Editor e administrador do Diário de Goiás. Repórter e comentarista de política e vários outros assuntos. Pós-graduado em Administração Estratégica de Marketing e em Cinema. Professor da área de comunicação. Para contato: [email protected] .