22 de novembro de 2024
Publicado em • atualizado em 08/12/2023 às 15:16

Os novos fantasmas parecem chip e não são de verdade

Eu vejo fantasmas. Mas fantasmas de verdade, daqueles que se mostram apenas em vulto, que atravessam parede e carregam bondade ou maldade espiritual. Ou vejo espíritos, como quiserem. Me entendam, por favor. Vejo também aqueles outros fantasmas mais perigosos, os que não existem. Os fantasmas que criamos na nossa cabeça e só lá vivem e assustam. Esses são os mais perigosos.

Esses fantasmas comem o cérebro do indivíduo e o controlam como se fossem um chip. É o chip da obtusidade. Assombrosos. Eles fazem o camarada ver, por exemplo, comunismo onde há cristianismo, e são capazes de levar alguém a dar tiros em crianças em nome da salvação da humanidade. Calham de ser inteligentíssimos, porém ignorantes de para quê isso serve, e aí agem ao contrário do que dizem. Parece ironia, contradição entre a fala e a prática, só que não. É algo pior: apagão de alma.

Tenho pra mim que pessoas assim carregam o vírus do déficit de bondade. Muitas, nem isso têm mais. A realidade, pelo menos, expõe o diagnóstico. Outro dia li que um assassino confessou o crime comemorando o fato de que estava há muito atrás do morto e não o encontrava, até que se encontraram por acaso numa festa. Nem pensou: sacou a arma de rapou o tiro. Ria de sua sorte. Ria do repórter espantado e indignado. Não são loucos os que fazem isso hoje em dia. São carne e unha dos seus fantasmas evoluídos.

Percebo, no entanto, que a dúvida mais assombrosa é a que duvida dos outros sem duvidar um segundo de si mesmos. Como duvidam por princípio e desacreditam de todos em tese e por concepção de vida – querem sempre enganá-lo, mesmo quando dizem a verdade (que isso?) -, vão até a morte lutando para provar que estão certos porque, lógico, o resto está errado. Como não estaria? O resto do mundo não é sua fé, logo está no plano inferior da humanidade que quer destruir a sua humanidade. Nunca duvide do que homens e mulheres são capazes de fazer uns contra os outros. Guerra? Pior: paz de cemitério.

Prefiro os meus fantasmas milenares. Gosto deles cada vez mais. Os fantasmas da modernidade povoam a Terra sem pisar no chão e sapateiam na nossa imaginação. Eis os inimigos de verdade (eu não disse ‘da verdade’, ok?). Porque nos matam de dentro pra fora, sem susto. Individuo vai para a cova acreditando que era um homem – ou mulher – virtuoso, probo, patriota, progressista, abençoado e cidadão do bem. Podem dizer que a ilusão é companheira do absurdo e promove o descolamento da retina dos impolutos, ocorre que isso não é real. Real é o fantasma condutor.

Não fujo de fantasmas. Só ando sem paciência mesmo com os que não estão para brincadeira. Ô vontade serena de mudar de operadora e tacar esses chips no diabo que os carregue. Se bem que aí seria voltarem pra casa. Saco, viu.

Vassil Oliveira

Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).