Reportagem especial de O Popular neste domingo, assinada pela jornalista Karla Araújo, mostrou a precariedade das rodovias estaduais goianas, notadamente no Sudoeste, Extremo Sudoeste do Estado, Mato Grosso Goiano, Norte e Entorno de Brasília.
Tratam-se de estradas que conduzem boa parte da produção de grãos e proteína animal do Estado em municípios do Sudoeste e Extremo-Sudoeste como Chapadão do Céu, Itarumã, Aporé, Mineiros, Serranópolis, Jataí, Rio Verde, Santa Helena, Acreúna, Caiapônia, Edeia, Porteirão, Vicentinópolis; no Mato Grosso Goiano na região de Iporá, Moiporá, Doverlândia, Piranhas, Baliza ou ao Norte em Porangatu, Novo Planalto, Crixás, entre outras.
As águas de março e abril fragilizaram a massa asfáltica nestas rodovias. Se uma grande frente de obras de operação tapa-buraco não for feita imediatamente, os furos no asfalto se transformarão em crateras, e ao final do período chuvoso, o prejuízo será ainda maior, com a necessidade de reconstrução de grandes extensões destas rodovias.
Não obstante este estado de calamidade, o órgão do Estado dedicado à manutenção das rodovias encontra-se semi-paralisado. A reportagem revela que extinta Agetop, que um dia se chamou Crisa e hoje é denominada Goinfra ainda não tem os diretores nomeados em três áreas fundamentais: Obras Civis, Obras Rodoviárias e de Manutenção Rodoviária.
O presidente da Goinfra, Enio Caiado, disse à reportagem de O Popular, que está analisando mais de 30 currículos, para compor o melhor staff possível, e que “não tem data, mas como já estamos na fase final, em breve teremos os três diretores”.
O estado das rodovias, infelizmente, desmente o presidente da Goinfra. Há pressa sim em colocar as máquinas e técnicos nas rodovias. A cada semana de chuva os trechos já danificados pioram, e outros, que ainda resistem começam a ceder. Vai chegar o período da safra e as rodovias correm o risco de ficarem intransitáveis.
Goiás tem tradição no cuidado com rodoviais. É um dos Estados com maior malha viária do país, e a décadas forma quadros técnicos preparados para esta tarefa, desde o antigo Dergo (Departamento de Estradas de Goás), passando pelo Crisa (Consórcio Rodoviário Intermunicipal) até a Agetop (Agência Goiana de Transporte e Obras Públicas), agora denominada Goinafra (Agência Goiana de Infra-Estrtutura).
Cem dias sem a devida manutenção nas estradas é tempo demais. Mais outros cem dias e pode ser tarde demais, e apenas a manutenção não bastará.
Talvez seja hora do governo parar de olhar para o retrovisor e se concentrar no pára-brisas do carro. Olhar para frente. Parar de ver fantasmas em tudo, porque se o governo for procurar um marconista em cada gaveta da Agetop, vai encontrar também um irista, pois juntos estes governadores dominaram 36 anos da política em Goiás, de 1982 a 2018. A maioria dos técnicos concursados ou comissionados é oriunda destes períodos.
Há esqueletos no armário que devem ser exumados e mostrados à população. As denúncias de corrupção e malversação do dinheiro público devem ser investigadas. Mas as denúncias não são mais importantes que o dia a dia do Estado. A moralização do serviço público não pode prejudicar a economia goiana e o ir e vir dos cidadãos.
A economia brasileira vive os reflexos negativos dos excessos cometidos pela Operação Lava Jato. A cada dia os grandes jornais mostram que a ação draconiana dos jovens procuradores do Ministério Público Federal de Curitiba quebrou ramos inteiros da economia, como a indústria naval, de petróleo e gás e construção civil, levando à beira da falência empresas de engenharia de padrão internacional, como a Odebrecht, Andrade Correia, OAS, tendo como resultado 1.400 obras paralisadas no país, e o desemprego de mais quase dois milhões de trabalhadores somente na construção civil, que contribui para a triste estatística de 13 milhões de desempregados.
Goiás foi severamente afetado pela Lava Jato com o desmantelamento da Galvão Engenharia,que já tinha vencido a licitação para a duplicação da BR-153. Com os recursos todos bloqueados pela operação, a Galvão desistiu da obra, e a BR-153 vem se deteriorando a cada ano, ostentando o sinistro título de Rodovia da Morte.
A Lava Jato jogou fora a água sua da banheira com o bebê junto. O governo de Goiás deve ficar atento para não seguir o exemplo messiânico de caça-às-bruxas dos lavajatistas, sob pena de aplicar um remédio que mata a doença, mas também leva a óbito o paciente.
Não custa lembrar que o modus operandis da Lava Jato estão sendo questionados pelo STF (Supremo Tribunal de Federal) e pela própria PGR (Procuradoria Geral de Justiça), depois que veio a público o imoral fundo firmado entre os membros da Lava Jato, o Departamento de Estado dos Estados Unidos e a Petrobrás para que os procuradores de Curitiba ficassem com R$ 2,5 bilhões da Petrobrás, para serem administrados ao seu bel prazer num fundo que eles mesmos criaram.
Esta proposta indecente foi repetida em dose ainda mais cavalar com a Odebrecht, no valor de R$ 6,8 bilhões. Este ato repete com requinte as crueldades da inquisição, onde além de jogar as pessoas na fogueira, os investigadores do Tribunal do Santo Ofício, faziam o butim e ficavam com os tesouros das vítimas.
O cuidado com a coisa publica é necessário. O povo votou por mudanças de costumes e contra a corrupção. Mas não se pode confundir zelo com o dinheiro público com uma cruzada santa, que ao invés de curar feridas, deixa sequelas ainda mais dolorosas para todos.
O negócio da Goinfra é tapar buraco. Que faça rápido, antes que seja engolida pelas crateras do asfalto.
Altair Tavares
Editor e administrador do Diário de Goiás. Repórter e comentarista de política e vários outros assuntos. Pós-graduado em Administração Estratégica de Marketing e em Cinema. Professor da área de comunicação. Para contato: [email protected] .