19 de outubro de 2024
Publicado em • atualizado em 18/10/2024 às 18:25

Onde foi parar o amor?

Não é novidade para ninguém que está cada vez mais difícil se relacionar. Achar o amor da vida então, tão difícil quanto ganhar na loteria. Não por falta de vontade, mas, sei lá, talvez por ausência de disposição para tentar?!

Onde foi parar o amor? Sim, aquela sensação boa de se sentir parte de alguém, cuidada, querida, necessária. Avaliando os milhares de vídeos com dicas de relacionamentos que pipocam todos os dias nas redes, percebo que não está difícil achar alguém para trocas físicas, mas as trocas emocionais, estas, estão cada vez mais raras.

Perdeu-se a disposição para a vulnerabilidade. Porque para amar é preciso uma dose de ausência de controle. Estamos todos muito armados, com medo de gostar e não ser recíproco, de se doar e não receber de volta, de ir para longe e não saber voltar para si. As relações possuem prazo de validade, eu sei, mas a sensação de merecer alguém que queira plenamente mina as incertezas alheias.

Dia desses vi a entrevista de uma atriz trans e senti na fala dela a dor de tantas outras mulheres, muitas que talvez nunca tenham experimentado o prazer de se sentirem amadas. Ela dizia: “sinto que vou ser sempre a noite e nunca o dia de alguém”. Para mulheres negras, periféricas e transexuais isso toca num lugar diferente. Quando alguém vai querer ficar?

Tenho a impressão de que, no passado, o amor encontrava as pessoas com maior facilidade. Namorar era algo tão fluido. Casamento era algo tão certo. Hoje em dia, experimentar a reciprocidade já é uma grande sorte.

Para dar certo é preciso ter a atração, a química, a física, a admiração, o alinhamento dos princípios e virtudes, e principalmente, a disposição mútua para fazer vingar. Dar match com todas essas variáveis requer um bocado de sorte.

Se há tantas pessoas em busca de alguém. Se tanto se fala sobre aprimoramento pessoal, evolução, independência. O que falta para que duas almas inteiras e repletas se encontrem e permaneçam? Só o amor já não basta mais? Aliás, onde foi parar o amor?

Numa sociedade em que, mais do que nunca, tem se falado tanto sobre performance, melhoramento, coach disso, daquilo, reflexões, análises, todo mundo aprendeu a olhar tanto para si que já não suporta mais olhar para o outro. Não há espaço para outras necessidades, outras vontades, outros quereres que não o próprio. De tanto amor próprio deixamos de cultivar o amor ao outro? Ainda assim, ter um outro ali do lado pra compartilhar faz falta. E como.

Luana Cardoso Mendonça

Jornalista em formação pela FIC/UFG, Bióloga graduada pelo ICB/UFG, escritora e eterna curiosa. Compartilho um pouco do mundo que eu vejo, ouço e vivo, em forma de palavras, afinal, boas histórias merecem ser contadas