23 de novembro de 2024
Publicado em • atualizado em 30/05/2023 às 15:22

Obra sozinha não ganha eleição

Obras em Goiânia da Avenida Leste-Oeste (Foto: Divulgação/Prefeitura de Goiânia/Imagem ilustrativa)
Obras em Goiânia da Avenida Leste-Oeste (Foto: Divulgação/Prefeitura de Goiânia/Imagem ilustrativa)

Prefeito tem agonia para lançar obra. Como se esta fosse a única razão de ser de um gestor. E põe números superlativos nos discursos, para impressionar os cidadãos e cidadãs, eleitores que são na próxima eleição: “Estamos lançando 200 obras!”, exclamam, cheios de razão. Vai entregar? Nem dez.

Claro, há exagero no parágrafo acima. Nem todo prefeito é assim. E 200 obras só se contar pintura de meio fio e tapa buraco. Mas há verdade. Principalmente depois de meio mandato, o prefeito corre pra mostrar serviços, e o que conta na sua mente é cimento erguido, placa com nome em letra maiúsculas.

A prática vem da falta de experiência com a gestão pública e com as disputas eleitorais. Tem a ver com a arrogância e o amadorismo político. Em vez de perguntar às pessoas o que elas querem, precisam, o que vai atender suas expectativas, o gestor ou gestora prefere fazer o que acha que deve fazer, ou que alguém lhe disse que deveria fazer, para ficar bem na avaliação.

São constantes as pesquisas que mostram que o que o eleitor mais quer, na maioria das vezes, é uma cidade bem zelada, bonita, florida, bonita, limpa, bem cuidada, postos de saúde atendendo bem e escolas funcionando devidamente. Obras são importantes, mas não o mais importante. E são mais importantes quando impactam a vida individualmente, como asfalto, sempre mais urgente que um viaduto.

Ou seja, sair fazendo ponte quando as pessoas querem remédio, achando que está arrasando como administrador público, é não ser bom nem para as pessoas, nem para si mesmo. E fica pior quando a comunicação embala as “obras” como cuidado do prefeito com o povo. Não funciona. A não ser para o contrário: realçar a falta de sintonia do prefeito com a população.

Pior será, para o político, se a população fizer um raciocínio simples: “Mais obras, sendo que já há tantas inacabadas? Por que não termina às que estão começadas?” Todos sabem porquê. O que separa os políticos com vida pública longa daqueles que o eleitor reza pra que terminam logo o mandato não é a agonia para começar obra, e sim a capacidade de ouvir e fazer o que a população quer e precisa de verdade. Conciliar sua vida pública com a vida do público. Republicanamente.

Há vários instrumentos para ouvir as pessoas. Ir aos bairros e conversar com a gente simples, em vez de apenas receber no gabinete as chamadas lideranças e confiar que elas representam não os próprios interesses. Fazer pesquisas qualificadas e guiar-se por elas. Andar pela cidade sem escolta, para verificar com os próprios olhos como estão as calçadas, o comércio, o ânimo da gente. Tirar do peito a arrogância de quem acha que sabe tudo para que haja espaço ao que vier das ruas. Simples assim.

Obra não ganha eleição. Só obra, muito menos. Obra não tem alma. O que ganha é rua e urna.

Vassil Oliveira

Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).