16 de novembro de 2024
Publicado em • atualizado em 18/04/2012 às 15:59

O silêncio de Lúcia Vânia

“Todos nós, de Goiás, esperávamos de Vossa Excelência uma conduta como essa. […] faz as explicações com seriedade e responsabilidade. Vossa Excelência sabe da admiração que o povo brasileiro, especialmente o goiano, tem por sua trajetória. Receba os meus cumprimentos e a minha solidariedade”. Essas foram as palavras da senadora Lúcia Vânia (PSDB) sobre o colega Demóstenes Torres (sem partido, ex-DEM), em 6 de março, no dia em que o Senado fez ato em desagravo parlamentar, a essa altura já bastante enrolado com o desfecho da Operação Monte Carlo, que prendeu o empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, amigo de Demóstenes – que viria a ser depois também parceiro.

Lúcia Vânia não voltou ao tema. Nem antes, nem depois. Não criticou, mas também não defendeu o colega. Pouca gente sabe, mas a senadora tucana tinha um relacionamento conturbado com Demóstenes. Os dois estranharam-se diversas vezes na campanha de 2010. Na época, coube ao hoje governador Marconi Perillo (PSDB), na época, candidato ao governo, administrar o atrito entre os dois, sob pena de fazer água na campanha tucana em Goiás.

As queixas de Lúcia com Demóstenes sempre foram no atacado. De um lado, o absurdo dinheiro gasto na campanha do democrata, que tornava a tentativa de reeleição da senadora em uma missão quase franciscana. A disparidade era tanta que, em algumas cidades, enquanto a turma de Lúcia Vânia chegava em um carro para distribuir material da senadora e aguardar por sua presença, os cabos eleitorais de Demóstenes usavam até o reforço de helicóptero para abastecer com material cidades com menos de cinco mil eleitores. A frustração da equipe da tucana era visível.

Em muitos lugares, a campanha de Demóstenes tinha mais material até que a do próprio Marconi, candidato ao governo. Em regra, um exagero com o qual a Justiça Eleitoral acabou sendo conivente.

Além da disparidade das duas campanhas, Lúcia também tinha outra queixa. E até pior. Senadora operosa, Lúcia Vânia leva recursos a todos os municípios de Goiás, por meio de emendas, além de atuar em questões pontuais de interesse do municipalismo. Em muitos lugares, porém, Demóstenes apropriava-se de feitos da senadora em palanque. Sim, na cara dura!

Como não dava para brigar em público, restava a Lúcia Vânia reclamar em privado de tamanha desfaçatez e tentar manter o foco na tentativa de ser reconduzida ao Senado. Obteve êxito.

A rivalidade era tamanha, que passou a ser questão de honra para Demóstenes ter uma votação muito superior a de Lúcia Vânia. Se ele descobrisse uma cidade em que Lúcia estava à frente nas pesquisas internas, reforçava o trabalho para minar a superioridade da ‘rival’. A diferença de meio milhão de votos, porém, acabou sendo frustrante. Lúcia não só foi reeleita, como teve uma votação extraordinária, sobretudo se comparada as estruturas das duas campanhas.

Recentemente, às vésperas do ato em desagravo ao senador, quando ele ainda tentava manter sua reputação, Lúcia Vânia recebeu inúmeros pedidos para ajudar o colega em apuros. Ciente da necessidade absoluta de que seus pares goianos teriam de lhe respaldar naquele momento, Demóstenes plantou um assessor na porta do gabinete de Lúcia Vânia. Deu certo. Lúcia esperou o outro senador goiano, Cyro Miranda (PSDB) manifestar-se e, em seguida, estendeu o braço ao interlocutor de Cachoeira.

No momento, Lúcia Vânia está calada. E continuará. Espera o desfecho do episódio Cachoeira com a tranqüilidade de quem não tinha relação nenhuma com o bicheiro. Quanto à situação do colega de Casa, não lhe tira o sono. Não vai lhe empurrar para o cadafalso, mas também não moverá uma palha para defendê-lo.

Vingança, como se sabe, é um prato que se come frio. Bom apetite, Lúcia!

Altair Tavares

Editor e administrador do Diário de Goiás. Repórter e comentarista de política e vários outros assuntos. Pós-graduado em Administração Estratégica de Marketing e em Cinema. Professor da área de comunicação. Para contato: [email protected] .