Nosso corpo fala. No entanto, raramente paramos para ouvir. Até que, de tanto tentar falar e nada mudar, ele grita. Recentemente, meu corpo gritou, em alto e bom som, que o meu modo de levar a vida me fazia mal. Descobri que algumas das minhas queixas físicas – enxaquecas frequentes, indisposição, desânimo e tantas outras dores – eram motivadas por intolerâncias alimentares. Diagnóstico: ou eu parava de comer o que me fazia mal, ou teria que continuar convivendo com os desconfortos.
Resolvi tentar. Abri mão do chocolatinho diário, o sorvete e a pizza do final de semana, o vinhozinho para relaxar. Não foi nada fácil. E ainda não é. Mas, conforme as comidas gostosas, porém não bondosas, foram saindo da minha vida, a disposição e o bem-estar físico foram voltando. Não era mágica, era só autocontrole. Foi uma escolha. Optei por viver bem mesmo passando vontade de algumas coisas.
Só que, até chegar nesse ponto de entender que a única solução era de fato abrir mão do que eu achava delicinha, mas só me fazia mal, levou um tempo. Tentei me sabotar, barganhar com meu corpo. O “é só um pedacinho”, “hoje eu mereço”, “vai passar”, me levaram a refletir sobre quantas vezes na vida eu tolerei coisas que sabia que não me faziam bem, por um simples prazer momentâneo.
Me descobrir intolerante também me levou a repensar sobre tudo o que eu fingia tolerar. Os “sins” que dizia quando queria falar não. O silêncio que fazia quando minha vontade era falar boas verdades. Os tantos sinais vermelhos que avançava pelo bem estar alheio ou, simplesmente, pelos pequenos e passageiros agrados.
Não vou dizer que às vezes não me deixo levar por minhas próprias vontades e passo mal depois. Mas, desenvolvi o hábito de pensar se o mal-estar que aquilo vai me causar futuramente compensa os segundos de prazer que me proporciona. Na grande maioria das vezes a resposta é não.
Que fique claro que esse texto não é apenas sobre comida. Essa máxima não vale somente para intolerâncias alimentares. É uma regra da vida. Até que ponto estamos dispostos e ignorar os sinais que o nosso corpo dá, para fugir das mudanças? O que você tolera mesmo sabendo que te faz mal?
São escolhas que nem sempre são fáceis. Por autodefesa, desenvolvemos questões físicas como uma estratégia que o corpo encontra de nos alertar para problemas futuros. Desde que aprendi a ter consciência suficiente para deixar de comer o que gosto, porque sei que vai me fazer mal, também desenvolvi a capacidade de não aceitar coisas que também acho que me fazem bem, naquele momento, mas sei que trarão arrependimentos depois. Meu corpo me mostrou meus limites. Se eu não me deixo mais passar por cima deles, imagina só os outros.