Não é de hoje que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem alertado ao PSDB para a necessidade de uma renovação. O último recado foi dado esta semana e abordado pelo jornal Valor Econômico.
FHC pediu para que os integrantes do partido ouçam “a voz das ruas”.
Após ler este alerta, me veio uma pergunta: o quê diz a “voz das ruas”, em Goiás, sobre o governo do PSDB?
Continuo com a dúvida.
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FHC manda PSDB buscar militante na rua
Valor Econômico – 30/11/2012, com texto de Vandson Lima
“Muitas vezes jovens me dizem “eu quero militar no PSDB”. E eu me pergunto: o que eu faço com ele? Vai ser do gabinete de alguém? Isso não é militância. Militar é com a sociedade, na rua, no núcleo de trabalho. É ali que tem de estar o PSDB se quiser ter organicidade”. Assim o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso definiu sua angústia em relação ao futuro do PSDB.
FHC participou de um encontro com os 176 prefeitos tucanos eleitos em São Paulo, que contou ainda com outras passagens notáveis: um Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, inesperadamente engraçado alertando a prefeitos que estes devem aprender a “se virar” no cargo, em vez de esperar que outros poderes lhes ajudem; e José Serra, candidato derrotado na disputa pela sucessão paulistana, que chegou de surpresa, só que tão atrasado que a programação já havia se encerrado.
Logo de início, o presidente estadual do PSDB, deputado Pedro Tobias, criticou o prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD), aliado na disputa pela capital, mas que tão logo a eleição terminou, colocou-se como parceiro do eleito Fernando Haddad (PT). “Aliado como esse nós não queremos mais. O Kassab só chegou a ser prefeito por causa do PSDB. Mal acabou a eleição, foi com o PT. Acredito até que foi antes da eleição terminar”, acusou.
Presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Barros Munhoz (PSDB) tocou em assunto delicado ao alertar a sigla sobre o desgaste causado por 20 anos de governo tucano no Estado e, consequentemente, para as dificuldades que Alckmin deve enfrentar ao concorrer à reeleição em 2014. “Depois de 20 anos, até a gente enjoa da gente. O poder desgasta a essência como partido”. Causou ainda burburinho ao dizer aos prefeitos: “O grande inimigo que vocês vão enfrentar é o Ministério Público. Eu não tenho medo de dizer. Fazem perseguição política e não há quem os puna”.
Em sua palestra, a mais aguardada do dia, FHC defendeu que o PSDB se abra aos jovens e às mulheres e fale de maneira clara à população. O ex-presidente fez críticas ao uso da legenda para atender às vontades de alguns em detrimento do que é melhor para o partido. “Não podemos mais basear nossas escolhas na vontade de cada um”. Da mesma forma, mostrou-se descontente com a costura de alianças “tortas”, sem lastro ideológico: “Ganhar ou perder faz parte da eleição. O que não pode é fazer alianças tortas, porque aí se perder a eleição você perde tudo.”
FHC também clamou que o partido volte a ouvir a “voz das ruas”. “Precisamos ter seminários, mas para ouvir, chamar as pessoas para que elas nos digam o que elas sentem, o que querem e como veem o mundo para que possamos ajustar o nosso discurso”, defendeu. O evento ocorria no Jockey Club, local onde a elite paulistana se diverte apostando alto em corridas de cavalos.
Não foram poucos os novos prefeitos tucanos que reclamaram dos preços praticados nos restaurantes do local e proximidades. Vindos em muitos casos de cidades pequenas, vários aproveitaram a oportunidade para tirar fotos com os correligionários ilustres e, não raro, pediam a repórteres para que os fotografassem com a pista do Jockey ao fundo.
Chamado a encerrar o evento, o normalmente contido Alckmin fez uma palestra bem humorada na qual falou até palavrão. De início, alertou os eleitos que “política é que nem mosca no mel: atrai tudo que é picareta, safado querendo vender coisa para o governo”. Prefeito que achar que governo estadual ou federal vai resolver os problemas das prefeituras, afirmou o governador, “já começou errado”. “Dia desses, estava fazendo a barba no banheiro e ouvindo a televisão. Os repórteres cobravam um prefeito da região de Sorocaba porque tinha caído uma ponte na zona rural há dois meses. E ele respondeu “ah, eu vou pedir para o governador, tenho certeza que ele vai ajudar”. E eu pensando “p*, não é possível, é prefeito e não arruma uma ponte? É muita acomodação”.
Para Alckmin, os novos governantes municipais têm de assumir a gestão já sabendo onde cortar gastos. “Senão, vocês vão só varrer rua por quatro anos”, alertou.
No fim, enquanto Alckmin posava para fotos com os presentes, Serra chegou para surpresa de todos. “Peguei um baita trânsito de 40 minutos”, justificou. Sua presença não era aguardada, tanto que a direção divulgara que ele estava em viagem. “Vou à Europa nos próximos dias”, contou. O tucano não quis falar de política nem deu pistas sobre seu futuro. “Ainda não estou afim de falar.”
Altair Tavares
Editor e administrador do Diário de Goiás. Repórter e comentarista de política e vários outros assuntos. Pós-graduado em Administração Estratégica de Marketing e em Cinema. Professor da área de comunicação. Para contato: [email protected] .