Quero um prefeito que saiba controlar o sol. Do jeito que tá, vamos todos morrer de calor em Goiânia. Sei lá. Se não puder controlar a estrela, que controle o brilho das coisas por aqui. Que plante árvores, faça mais calçadas com sombras espaçosas, asfalte mais bairros, mas que não asfalte todo o chão. Precisamos de uma nesga de poeira, que seja, para atrair a chuva, mostrar que, ela vindo, terá distância de sobra para escorrer brincando para os córregos e os vãos secos das calçadas, sem destruir casas, sem ameaçar quem quer que seja, sem ficar senão o tempo de evaporar e voltar e voltar e voltar.
Quero um prefeito que entenda de carros, arrume as avenidas, ajuste os semáforos, facilite nosso ir e vir. Mas que antes entenda de gente, da gente, gente andarilha, gente de ônibus, gente sem carro, gente que nasceu aqui ou que chegou um dia para ficar. Quem não quer ficar em Goiânia? Um prefeitão chegado da gente, que saiba a diferença entre dar passagem aos veículos e cuidar dos passos de cada um e de todos. De que adianta uma cidade que existe apenas para os pneus? Faz falta e dá prazer uma cidade que te deixa pisar no cimento e que tenha muitas, mas muitas mesmo, pracinhas, praçonas, praças pra gente se conectar à terra. Terra é bão.
Quero um prefeito que seja absolutamente técnico quando pensar e planejar as soluções para uma senhorita capital como a nossa. Técnico de coração grande, de imensa sabedoria, intensa inteligência emocional. Cidade inteligente somos nós, o povo. É evidente o que queremos, claro o que buscamos, indiscutível o que precisamos, inadiável o que há de ser feito e insondável a intangível necessidade de nos ver e sentir batendo feito peito apertado quando andamos pelas veias e pelos veios de um por um. Já pensou uma capital viva em sintonia, viva naquilo que é coletivo, em sintonia com a vontade e os desejos individuais. Somos todos e somos um por todos.
Quero um prefeito que tire das ruas aqueles que vivem nas ruas, não por incômodo visual ou satisfação pública. Mas por decisão corajosa de quem sabe que é dando que se recebe, é perdoando que se faz uma comunidade unida. Fácil? Quem disse? Difícil de verdade é ver a pobreza vicejar em meio aos ricos confortos de quem só usa a rua para rua, nunca para casa, comida e falta de roupa lavada. Um prefeito precisa olhar os oprimidos e fazer florescer em meio às dificuldades, mais empregos, mais serviço social, mais importância para os detalhes de uma convivência cheia de medidas que cultivem a qualidade de ser e estar.
Quero um prefeito que não seja massa de manobra, que não se dobre aos lobbies da sociedade, mas que também não os negue, que reproduza consensos, quando possível, e que tenha força, determinação, independência para quebrar as mesas necessárias. Um prefeito que faça a cidade crescer com equilíbrio e justiça, sem ceder ou ser engolido pelos prédios, pelas mídias, pelos infernos que querem dominar o capital e a humanidade espiritual que não nos deixa perder a fé no resto da humanidade imperfeita e ávida de acumulação. A roda precisa girar? Que gire, mas que gire sem moer os ossos e a carne das periferias.
Quero um prefeito que pense, que sonhe, que tenha imaginação e criatividade tamanha que jamais tenha que contratar criatividade alheia, por emergência, sob alegação de falsa escassez de resultados. Quero água tratada, esgoto, queremos tudo que nos deixe tranquilos na hora do filme, da novela, do desenho, das brincadeiras nos quintais e na frente de casa. Porque isso precisa existir tanto quanto a gente na cidade. Quero um prefeito que me ouça, que eu encontre na feira, que zele por meu sossego de acordo com a missão assumida nas urnas. Um prefeito que cumpra com suas próprias palavras quando falar comigo.
Quero um prefeito sério, competente. Um prefeito que resolva. Um prefeito temente a Deus e ao povo, mas sem jamais usar Deus como desculpa ou o povo como motivo para perder a razão nas suas guerras políticas particulares. Goiânia é maior que a política, bem maior que nossos interesses, e maior ainda que qualquer prefeito, inclusive o que quero. E se digo que quero, e não que queremos, é porque não ouso falar por todos. Porém tenho certeza de que, se o prefeito que, for o prefeito que quero, e se cada um da cidade tiver o prefeito que quer, teremos, sim, o prefeito que queremos, desejamos e que merece ser eleito. Todos por um, só se for um por todos. Assim. Simples.
Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).