Nos meus anos de solteira, que foram muitos, desenvolvi o hábito de fazer coisas sozinha. No começo não foi fácil, sobrava vergonha e medo de julgamentos alheios e faltava coragem. Mas aos poucos, fui vencendo o que me limitava. Primeiro, um passeio no shopping, afinal, ninguém repara muito em uma mulher fazendo compras sozinha; depois, um cinema, no escuro ninguém se atém se a pessoa do lado está acompanhada ou não; por fim, já conseguia ir à cafeterias. Minha última meta, agora, é ir a shows e lugares mais lotados, mas isso é papo para outra hora.
Nesses meus anos de solitude, aprendi a apreciar minha própria companhia, a entender que, na verdade, por mais que as pessoas nos observem, elas estão muito preocupadas consigo mesmas, e logo voltam a seus próprios mundos e você deixa de existir. Digo isso porque nessas minhas saídas solo o que mais gostava de fazer era reparar nas pessoas próximas. Na minha cabeça, tentava montar uma narrativa para cada uma delas: o casal no primeiro encontro; as amigas que estão se reconciliando; mulheres de meia idade que se reúnem para falar mal dos maridos e filhos.
O observar silencioso nos ensina muito sobre a vida. Nos faz compreender que nenhuma experiência é única. As pessoas possuem manias, jeitos estranhos de comer, falar, se comportar. Todos fofocam, reclamam, tem cacoetes e peculiaridades. Sejam pobres ou ricos, em algum ponto, todos nos assemelhamos em situações sociais.
Por mais que as vezes eu montasse histórias mirabolantes na cabeça, algumas delas, acredito que até mesmo reais, me vi observando humanos sendo humanos, e isso me gerou empatia em muitos momentos. Percebi que é fácil identificar casais no primeiro encontro, já que os olhares e o jeito tímido e contido de se portar entregam que ainda não há intimidade suficiente. Também aprendi a detectar casais de anos, mas ainda apaixonados; a cumplicidade se sente no ar.
Casais de amantes também passaram a ser óbvios, há um desejo e uma certa posição de alerta constantes para detectar qualquer iminência de alguém conhecido ao redor. Mas, o meu tipo de casal preferido de observar são os de idosos, especialmente os que ainda se amam em cada simples ato de carinho e cuidado. Antes, eu só observava, logo, passei a admirar e desejar um futuro igual.
A moral da história é que, para ter companhia, antes tive que aprender a ser sozinha, e sendo sozinha, entendi que nunca estamos mesmo sós, em qualquer lugar que seja. Há sempre alguém a nos olhar, seja porque a roupa ou alguma característica física chamou atenção, ou porque temos algo que o outro gostaria de ter e ser. Seja por vergonha alheia ou admiração, somos vistos o tempo todo. Mas isso não nos torna especiais, nos torna apenas humanos.
Dizemos muito sem palavra alguma, essa é a beleza da coisa. Me entregando a coragem de estar só, percebi que não há motivos para ter vergonha de fazer coisas sozinha. No final das contas, essa é a parte que menos interessa aos olhos curiosos, como os meus. O que desperta a atenção do outro diz mais sobre ele do que sobre nós, e sempre será parte do que está dentro e não fora de cada um. Acho que isso explica a minha predileção por casais, visto que da minha solitude, aprendi a observá-los com admiração. O que o outro escolhe ver a gente nunca tem como prever, então, só vai, mesmo sozinha, no todo, isso é só um detalhe.