O clima na Ordem é de campanha, embora a eleição vá acontecer ainda no segundo semestre do ano que vem. Tão longe a urna, tão perto a agonia.
Nos bastidores, integrantes da situação e da oposição não falam de outra coisa. Não pensam em outro assunto. Agem de olho no calendário eleitoral.
Só não está no clima aquele que é, em tese, o maior interessado: Lúcio Flávio, atual presidente e virtual candidato à reeleição.
Lúcio não nega candidatura. E não admite. Evita o assunto. É, em tese; e não é, na prática de uma agenda aberta ao público e do descompasso da falta de articulações políticas fechadas em gabinetes.
Mantém-se focado no exercício da presidência. Segue seu caminho. Ou estratégia.
Pelo sim, pelo não, arrumar a casa e cumprir promessas é tarefa básica tanto para quem almeja um segundo mandato, quanto para quem quer deixar uma marca positiva na história da OAB. O futuro, quem não sabe?, a Deus pertence.
Nesse ambiente, florescem situações inusitadas.
Uma delas é que uma das bases da vitória de Lúcio em 2015 – feito que marcou histórica troca de grupos no poder – foi exatamente a proposta de mais foco na gestão e menos na eleição.
Mais atenção aos interesses dos advogados, e menos, muito menos às vontades e vaidades pessoais. E de grupos fechados.
O novo contra o velho.
Lúcio Flávio, ocupado com a administração, responde a essa expectativa. E escancara o jogo alheio.
Nessa história, quem é novo e quem é velho?
E quanto mais Lúcio avança no cumprimento das promessas, mais ele se diferencia. Ele trabalha; os outros, o que fazem?
A agitação eleitoral antecipada mostra outra face da moeda na OAB goiana: o grupo que está no poder não se esgota em Lúcio Flávio. Está aberto. Tem lastro.
Porque entre os nomes mais citados para sucedê-lo estão três de seu entorno: Rafael Lara, Rodolfo Otávio Pereira e Jacó Coelho. Menos citados, porém não menos capacitados, há mais.
E na oposição, quem representa a renovação?
Nesse aspecto, a dissidência aberta por Leon Denis, que conversa com a OAB Forte e busca amparo na política estadual, talvez seja um desgaste de saída, mas um ganho de chegada.
Leon também é nome estabelecido há tempos nas disputas eleitorais e de grupos na OAB. Com Lúcio, juntou experiência com novidade, e venceu uma depois de perder algumas.
Sem Lúcio, a experiência perde a novidade, e fica a um passo do horizonte do envelhecimento como proposta.
Perde ainda a oportunidade de compartilhar os pontos positivos, os avanços, as conquistas da mudança eleita, estabelecida e capitalizada agora por Lúcio.
Uma delas: a redução substancial da dívida da OAB, que era de R$ 23,1 milhões e está em R$ 7,2 milhões.
Outra: solução para pendências nos repasses às subseções, que não recebiam de forma regular os seus duodécimos. (Esta, sozinha, um ganho de inegável potencial eleitoral.)
No geral, os feitos e realizações positivos da gestão de Lúcio Flávio não foram explorados devidamente por ele e seu grupo. Há lenha para queimar.
O silêncio de Lúcio Flávio confunde, ele pode e não pode ser candidato. Já a realidade esclarece que, se candidato, ele será forte; se não candidato, ele será não menos forte, como cabo eleitoral. Sem trocadilho. À parte o discurso oposto, e exposto na campanha extemporânea.
Se o grande desejo da classe é uma OAB acima de todos, a eleição acima de tudo é uma desordem eleita, e não uma Ordem bem constituída.
No grito de todos contra um, um por todos ecoa mais longe.
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Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).