Henrique Meirelles não é unanimidade, mas há tempos é apontado como sinônimo, à direita e à esquerda (parte dela), de caminho seguro para o Brasil. Um nome para fazer o País andar pra frente.
Nos governos Lula, foi fiador da estabilidade no Banco Central. Nos governos Dilma Rousseff, foi o nome de Lula para a Economia, porém ignorado por ela. O que poderia, quem sabe, ter sido a salvação dela, mas…
No governo Temer, é o fiador da promessa de retomada, da esperança de recuperação nacional, do reequilíbrio financeiro. Aquele que, mesmo que o presidente caia, “tem que ficar”.
Nunca deixou de ser potencial candidato a presidente da República. Já o era quando retornou ao Brasil para ser candidato a um mandato por Goiás, em 2002. Um sonho, admitia. Um objetivo, todos percebiam.
Os seus passos mostram a obstinação. Eleito deputado federal pelo PSDB, renunciou ao mandato e se desfiliou do partido para comandar o BC no governo petista.
Em sintonia com Lula, foi para o PMDB para ser candidato a governador, mas esbarrou no jogo de forças local. Aí transferiu o título para São Paulo e ingressou no PSD já com ares de candidato a presidente da República.
O anúncio, agora, de seu nome por parte do presidente licenciado da legenda, Gilbeto Kassab, apenas dá ares de oficial a algo que é sabidamente alimentado e buscado por todos ao seu redor, e por ele mais que tudo.
Por que agora? Essa provavelmente é a grande pergunta. Outras: ele é pré-candidato também de Temer? É candidato do chamado “mercado”, normalmente identificado com o PSDB? É pra valer?
No momento em que Temer mais balança, Henrique Meirelles ser apresentado como alternativa para 2018 não é um lance isolado. Para usar uma linguagem muito comum no meio político, ele é jogador de xadrez, e não de damas.
Por um lado, Meirelles, que dá credibilidade ao governo, pode passar agora a dar também crédito como perspectiva de um poder a ser continuado. Perspectiva de poder é moeda forte na política.
Por outro lado, o PSD pode estar se adiantando a outra mexida no tabuleiro nacional: e se Temer cair e a eleição for agora, e não no ano que vem?
É preciso sempre tentar enxergar atrás da montanha, no jogo político. E o jogo de Meirelles está sendo feito. Está posto.
Ele negou no Twitter ser pré-candidato. Disse que vai se dedicar à Economia. Fez isso depois de receber partidários e ouvir o convite para a candidatura, e com Kassab assegurando que é. Fez isso, enfim, para oficializar o sim com o não. Para dar asas à imaginação.
Os riscos, naturalmente, são muitos. Depende do desempenho da Economia. Depende da habilidade de seus apoiadores. Depende de sua capacidade de sobreviver com o fogo cruzado que certamente virá agora dos outros pré-candidatos a presidentes.
Depende de como estará o País daqui a um mês, ou dois, ou daqui a um ano. Depende de como será entendida sua pretensão no meio do povo, que sente na pele os resultados e consequências das medidas que ele comanda.
Meirelles é um bom nome na saída, como perspectiva que anima muitos, ainda que desagrade a tantos. Mas terá de ser melhor na chegada, disputando votos.
O jogo é bruto.
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Ao oficializar a pré-candidatura de Meirelles, o PSD cria um fato político nacional e coloca um ponto de interrogação na política goiana. Assunto para o próximo post.
Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).