Um dos maiores diferenciais do cidadão Geraldo Lourenço de Almeida, formado em Ciências Contábeis, pós-graduado em gestão, mestre em Administração Pública pela Universidade de Coimbra, em Portugal, e atual secretário de Finanças da Prefeitura de Goiânia, não é conhecer bem receita, despesa, ajuste de contas ou a leveza da subtração do desperdício público. Nem o peso de um orçamento restrito a traço. Mas o poder um abraço.
Geraldo tem no abraço o gosto de filho que sempre primou por festejar a mãe, Dorvina Maria de Almeida, retribuindo carinho com carinho em dobro. O abraço para agradecer ao pai, Francisco Lourenço da Silva, comemorar as vitórias com os nove irmãos, e especialmente celebrar a vida com o irmão gêmeo, Gerson, com quem mantém uma ligação apertada no peito.
O irmão mora em Brasília, onde também ele reside, ou residia, desde que seus pais decidiram trocar o interior de Minas pela fervura do Distrito Federal. Ver e aconchegar-se a Gerson é uma de suas alegrias. Ficar distante 200 quilômetros, a sua maior dificuldade hoje. “Se me perguntarem do que sinto falta em Goiânia, não tenho dúvida: do meu irmão”, revela, emocionado.
Para o cidadão goianiense, a presença de Geraldo no Paço Municipal é novidade, mas para amigos de longa data, vê-lo com frequência na cidade não causa nenhuma surpresa. Porque, se de repente ele se tornou responsável pelas contas da prefeitura, não foi de repente que chegou à capital goiana e por aqui se estabeleceu como admirador.
Ele visita a cidade há anos, profissionalmente e por lazer, por gostar, por querer. E, a depender de sua vontade, está prestes a fazer a única coisa que definitivamente ainda não fez: morar aqui. Ter uma casa para chamar de sua. Em Pirenópolis, já tem, o que significa que sua relação com o Estado de Goiás, e não só a capital, é de absoluta intimidade.
Amizade sincera
Geraldo conta como o destino o levou ao Paço. Certo dia, estava ele tranquilo em sua casa, em Brasília. Como ocorria muito, chega à sua casa o amigo de 20 anos Arthur Bernardes. Mas, desta vez, com uma motivação que ia além da divisa com Goiás. Arthur disse que estava indo pra Goiânia, para assumir uma função na Prefeitura, e queria que ele fosse junto. Simples assim.
A situação era a seguinte: o prefeito eleito, Maguito Vilela, tinha morrido vítima de COVID em janeiro, logo depois da posse, e o vice, Rogério Cruz, assumira o cargo em definitivo. Por conta disso, precisava de ajuda e Arthur fora convocado pelo partido de ambos, o Republicanos, para colaborar com a gestão. O objetivo: ajustar a gestão ao perfil de Rogério e, claro, colocar teorias em prática.
Na hora, Geraldo riu, disse que estava bem na capital federal, e não esticou conversa. Arthur, porém, insistiu, e com um argumento matador: só assumiria a nova missão em Goiânia se o amigo o acompanhasse. Seria uma soma de virtudes. Um, com perfil técnico; o outro, político por excelência. Combinaram então que a conversa continuaria depois que Arthur tomasse posse, se tomasse, ou seja, caso a história se confirmasse. O que, enfim, logo aconteceu. Arthur foi nomeado para a Secretaria Municipal de Governo. Geraldo, cumpridor de promessa, nem titubeou: arrumou a mala e rumou para Goiânia.
Chegou trabalhando. Os primeiros decretos que marcaram o início da administração com a nova cara já foram obra de sua experiência. Assim que preparados, Arthur imediatamente pediu que fizesse uma apresentação detalhada ao prefeito, e que também apontasse rumos, sua visão, uma proposta de caminho.
A apresentação começou às 20h e só terminou depois de uma da manhã. “Foram mais de cinco horas de apresentação e conversa. Eu pensei: ou o prefeito gostou muito ou é muito educado”, brinca, ciente da responsabilidade de Rogério Cruz. Na prática, ocorreram as duas coisas.
Rogério gostou a ponto de chamá-lo de professor e pedir que repetisse a apresentação, mas agora aos seus auxiliares diretos. Ele topou, porque também se identificou com o que viu no encontro. “O prefeito escutou, questionou, mostrou que é sensível. Está à altura do cargo”, observa. Cuidou unicamente de registrar que seu objetivo era colaborar, não estava ali com pretensão de cargo ou qualquer benesse.
O encontro com os secretários, presidentes de agência e assessores diretos do prefeito aconteceu dois dias depois e acabou marcando um antes e depois na gestão. Isso porque os decretos foram publicados um dia antes e mexeram com os ânimos de vários dos ali presentes, o que, somado a esta reunião, precipitou a saída de vários emedebistas da administração.
Segundo Geraldo, por conta dos decretos, ele precisou mudar a sua apresentação, retirando e acrescentando alguns pontos. Optou por uma visão objetiva, focada na conceituação e importância da boa governança, com críticas eventuais à burocracia interna.
Por isso e porque os decretos naturalmente apontavam para uma mudança de prioridades, com a desconcentração de poder, era natural, admite, que surgissem reações contrárias. E elas vieram rápido. “Quem concentra poder, não quer dividir”, observa. “Mas quando você divide poder, você democratiza a decisão. A gestão fica transparente. E tem gente que não gosta disso.”
Uma pergunta, em especial, chegou certeira, ao que parece como provocação: “Governança nasce de decreto?”, questionou um secretário. Geraldo, com paciência, antes de responder diretamente, procurou deixar claro seu objetivo ali: estava falando de conceitos. Quanto aos decretos, eles eram claros em determinar levantamentos sobre a estrutura existente, para conhecimento do prefeito.
“Como governar sem conhecer a administração? Era disso que se tratava”, esclarece. Depois de ponderar e detalhar o objetivo traçado, cuidou de responder o que lhe foi perguntado. “Governança é diretriz”, disse. “Tem a ver com ética, valores, integridade, moral, transparência, partilhar decisão. É maior que governo, maior que gestão. Governança nasce na consciência das pessoas.”
A saída dos emedebistas não é comemorada por Geraldo. Ao contrário. Ele lamenta. “Goiânia perdeu porque poderia ter os dois grupos (gestores emedebistas e republicanos). Não quiseram dividir o poder, queriam concentrar.” Com a Secretaria de Finanças sem titular, o prefeito Rogério Cruz pediu-lhe que assumisse a secretaria executiva da pasta, o que fez. Hoje, concentra a Executiva e o comando das Finanças. Sem apego a cargo, diz que fica enquanto for a vontade do prefeito.
De bem com a vida
“Não vim pra ficar, mas estou achando muito bom”, Geraldo deixa escapar, com um suspiro divertido. Gosta de conhecer pessoas, tranquilo quanto ao futuro, faz sua parte na Secretaria de Finanças. Ele tem lugar garantido em Brasília, como auditor concursado da Secretaria de Economia do Distrito Federal. Poderia se contentar com isso. Se está em Goiânia, é porque não foge à luta.
“Tenho prazer de trabalhar na área em que estou. E seria gratificante ficar e fazer um bom trabalho. Mas a decisão é sempre do prefeito. Cargos não são pessoais”, insiste. “O que me move é fazer a coisa certa para quem precisa”, reforça, deixando sobressair a sensibilidade humana, em vez da habilidade com os números.
Essa sensibilidade, que se afina com a do prefeito, é motor de suas ações, explica. “Meu pressuposto é: ter dinheiro em caixa e não ter nada sendo feito ou funcionando na cidade não dá respaldo a ninguém. A gente tem que realizar com o que a gente tem. Com o pouco e com o muito.”
“O cidadão quer saber se tem moradia, ponte, viaduto, posto de saúde, escolas, se a cidade funciona. Ele quer ser bem atendido”, detalha. “Não estou lá (na Secretaria de Finanças) pra dizer no final do ano: ‘tem tantos milhões no caixa’. Como também não estou lá pra quebrar a prefeitura ou deixar isso acontecer com decisões erradas. Ter dinheiro em caixa não é tudo; tem que realizar políticas públicas para os goianienses. É preciso ter competência para usar os recursos, o que nem sempre acontece. Eu prezo por isso.”
A sua concepção do papel do gestor e da responsabilidade da gestão não foi aprendida na escola, foi sentida e aprendida ao longo de sua vida, enfatiza. Tem a ver com cultura e berço familiar, e não com simples estatística.
Geraldo nasceu em Tiros, Minas Gerais. Vai fazer dia 2 de julho 53 anos, 48 deles vividos em Brasília. Nunca perdeu contato com sua terra natal, para onde sempre viajou para rever parentes, visitar amigos, jogar bola. Apesar da origem humilde, sem estudo, de seu pai e sua mãe, na roça, todos os seus irmãos frequentaram boas escolas.
Além do curso em Ciências Contábeis, ele é formado em Direito, tem pós-graduações em Auditoria Interna e Externa e em Direito Tributário e Finanças, e o mestrado na Universidade de Coimbra, com ênfase em PPPs (Parcerias Público Privadas), morando em Portugal nos anos de 2011 e 2012. Por ser auditor concursado no DF, está cedido à Prefeitura de Goiânia.
Sempre se aperfeiçoando na sua área, como gosta de dizer, Geraldo trabalhou por muitos anos no tesouro, com planejamento, orçamento, gestão administrativa e, claro, finanças públicas. Em um dos governos do DF, cuidou especificamente de projetos e obras, organizando e canalizando recursos para obras prioritárias. Em 2010, assumiu a Secretaria de Governo.
Em 2014, foi chamado para ajudar na transição para o novo governo, de Rodrigo Rollemberg. Feito o trabalho, escolheu onde ficar. Assumiu a presidência da BRB-CFI (Sociedade de Crédito, Financiamento e Investimentos S.A.), a financeira do BRB (Banco de Brasília). Permaneceu no cargo de setembro de 2015 a abril de 2019. Recebeu a empresa deficitária, recuperou-se e deixou-a sadia. Representa cerca de 20% do resultado do BRB.
“Estou em casa”
Geraldo Almeida se sente à vontade em Goiânia. “Aqui estou em casa”, garante. A saudade do irmão gêmeo é compensada com idas regulares a Brasília para vê-lo. Gerson tem Síndrome de Down, e ambos, uma sintonia fina, cercada de carinho. “Normalmente poeta é quem escreve sobre amor. Mas o Down não precisa escrever nada, ele é amor naturalmente”, quase declama, com suavidade na voz.
Apreciador de vinho – de preferência, tinto seco -, ele diz que começou a beber aos 30 anos. “Vinho é alimento, é vida”, define. “Bebo sempre que estou em boas companhias. Como eu não ando em má companhia, então sempre tomarei vinho”, acrescenta, com a lógica de um leve sorriso, que depois muda para uma expressão séria, para que a próxima frase seja apreciada sem moderação: “Tenho relação forte com as pessoas de quem eu gosto, independente de ser pobre, rico ou o que for.”
Raramente Geraldo vê TV. Evita as notícias negativas – o que não quer dizer que não acompanhe os acontecimentos do mundo e, sim, da cidade. Prefere a energia positiva de outros afazeres e gostos. Amante de MPB e saxofone, se diz capaz de ficar horas em casa ouvindo música, ou em silêncio.
Para equilibrar corpo e espírito, sempre praticou esporte. Aliás, praticou “saúde”, prefere dizer. Jiu jitsu, box, academia, futebol, já fez de tudo. Herança da terra dos pais, seu time do coração é o Atlético Mineiro. Conta que mantém uma relação forte com Deus, a quem começa o dia agradecendo pelo ar que respira. “Não reclamo da vida. Tento fazer o melhor de mim para os outros, porque tenho que corresponder aos outros aquilo que recebo deles”, explica.
De bem com a vida, com as pessoas e com o trabalho que desenvolve, Geraldo é todo amor por Goiânia, assunto que vai e volta na conversa. “Aqui tem uma coisa que poucos lugares têm: um povo acolhedor”, festeja. “Se perguntar onde fica tal lugar, as pessoas vão te falar sorrindo.” E tem mais: “A cidade é bonita. Tem estrutura boa. Muito já foi feito, e há muito ainda a ser realizado.” Resultado: “O meu compromisso é dar o meu melhor para a cidade. E não farei nunca o que não acredito.” Goiânia, claro, não espera menos. Essa conta, fecha.
Altair Tavares
Editor e administrador do Diário de Goiás. Repórter e comentarista de política e vários outros assuntos. Pós-graduado em Administração Estratégica de Marketing e em Cinema. Professor da área de comunicação. Para contato: [email protected] .