13 de setembro de 2024
Publicado em • atualizado em 11/05/2017 às 20:02

O espetáculo do depoimento

O depoimento do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva à Justiça Federal, em Curitiba, em processo que será julgado pelo juiz Sérgio Moro, ganhou contornos de um espetáculo que tornou-se um dos fatos importantes da história política brasileira. A começar pelo fato de que o petista poderia ser ouvido por teleconferência, mas a presença dele na capital do Paraná representava, em termos simbólicos, que a justiça também alcança até os mais importantes nomes da política nacional.

Lá estava um Lula que ansiava por desabafar e preparado para repetir, seguidamente, uma pergunta: Onde está a prova de que o tríplex do Guarujá é de minha propriedade? Do outro lado, um juiz com uma sequência de perguntas que, mesmo que repetitivas, buscavam cumprir uma formalidade, afinal o ex-presidente não iria admitir qualquer culpa.

O encontro, que também teve a participação de procuradores da República como meros coadjuvantes, foi carregado de ironias, críticas e até uma certa dose de cinismo. Lula foi Lula com todas as letras, Moro foi Moro com o que ser esperava dele.

Então, quem venceu o embate? Ou deu empate? Criou-se um leque de torcedores dos dois lados que alimentaram um grande interesse pelo histórico depoimento e que repercutiram bastante o conteúdo divulgado em vídeo. Afinal, qual dos dois times pode cantar vitória depois do que aconteceu em Curitiba?

Para os aliados de Lula, o depoimento foi um dos ápices da campanha de resistência promovida em todo país para a defesa da imagem do principal líder petista. Eles viram que o ex-presidente ganhou a disputa ao fazer a pergunta que não se cansou sobre as provas e também nas críticas que fez à perseguição sofrida por ele no combate de boa parte da “grande mídia”.

O petista apontou o dedo para os seus acusadores e criticou o vazamento seletivo das delações premiadas e desabafou, diretamente, contra o juiz Sérgio Moro quando criticou a divulgação do áudio entre ele e a presidente Dilma Roussef. No desabafo, sobrou até para a ex-presidente quando Lula confirmou que fez reunião com políticos todos os dias e que, se Dilma tivesse feito o mesmo, não teria sofrido o impeachment. A lista de fatos que exaltam Lula é grande, para seus apoiadores.

Para os adversários do petista, e animados torcedores do juiz Sérgio Moro, a situação, logicamente, é inversa. O magistrado colocou perguntas duras e levou Lula a culpar a esposa Marisa Letícia por contatos com empresários sobre o tríplex do Guarujá e pedidos suspeitos. Moro adiantou perguntas sobre a Petrobras e a Odebrecht e levou críticos de Lula ao delírio.

Quem gosta de Lula continua a defende-lo e não é por acaso que ele lidera as pesquisas de opinião para presidente da República. Para os que vibram com o juiz Moro, ele saiu-se ganhador e cumpriu mais do que uma missão jurídica, mas uma tarefa histórica. Em resumo, Lula será condenado, ou nesse ou noutro processo e o evento acontecerá várias vezes.