13 de setembro de 2024
Publicado em • atualizado em 25/05/2014 às 14:26

O desabafo equivocado do empresário Ronaldo

 

O jornalista Paulo Nogueira pergunta, em artigo, que há “tanta coisa para sentir vergonha, e o atraso nas obras da Copa é que desperta nele indignação ululante?”

Ele afirma que testemunhou a aflição dos ingleses sobre o estado das obras para as Olimpíadas. Foi necessário que o prefeito de Londres acalmasse os ânimos deles.

É fato que “só vamos ter uma ideia precisa das coisas, como numa festa, na hora em que efetivamente começar a Copa”, disse o jornalista.

No artigo, Paulo Nogueira faz um correto questionamento à declaração de que o jogador e empresário Ronaldo Nazário se sente envergonhado com os atrasos de obras da Copa no Brasil.

Veja a argumentação do jornalista:


 

A “vergonha” de Ronaldo ajuda a alimentar um sentimento macabro de autodesprezo entre os brasileiros: não servimos para nada, é o que se deduz de suas palavras.

Somos ineptos. Somos burros. Somos piores que todos. É o Narciso às avessas de que falava Nelson Rodrigues.

Você não constrói um país dando chibatadas morais em você mesmo.

Uma das coisas mais nocivas espalhadas pelos colunistas de direita hoje é exatamente isso: o país é um horror. Banânia, segundo um deles.

Fora lançar as pessoas num estado inútil de depressão, isso só serve para tentar semear entre os inocentes úteis a convicção de que a direita – como os generais na ditadura – conserta tudo. Aspas e pausa para me livrar da irritação.

Ronaldo não parece ter motivação política nenhuma, embora sua frase tenha sido alardeada com júbilo pelos profetas do apocalipse.

Foi apenas uma imensa tolice, provavelmente.

Vergonha ele poderia ter tido da barriga com a qual envergou, tantas vezes, a camisa do Corinthians em troca de dinheiro milionário.

Vergonha ele poderia ter dito que tem, como lembrou um leitor do DCM, da desigualdade social brasileira.

Que lindo seria se ídolos como Ronaldo rejeitassem a iniquidade. Avançaríamos em velocidade muito maior rumo a uma sociedade escandinava, ou próxima disso.

Lastimável, mesmo, é a sorte de muita gente que perdeu sua casa por conta das obras da Copa.

Os jogadores brasileiros, caso ganhem a Copa, deveriam dedicar o título especialmente a eles, os removidos – nossos irmãos invisíveis.

Que venha a Copa. Que ela traga e alterne, como o esporte sempre faz, euforia e lágrimas, de acordo com os resultados positivos ou adversos.

E que carreguemos, isso sim, quaisquer que sejam as circunstâncias, os removidos em nossas lembranças. Eles e os operários mortos nas obras.

Que os mortos sejam lembrados. Que virem nome de ruas, que se crie um monumento para eles. Que suas famílias sejam exemplarmente indenizadas.

O resto, para lembrar a grande frase shakespeariana, é silêncio – e a torcida para que tudo corra bem na Copa.


 

 

 

Altair Tavares

Editor e administrador do Diário de Goiás. Repórter e comentarista de política e vários outros assuntos. Pós-graduado em Administração Estratégica de Marketing e em Cinema. Professor da área de comunicação. Para contato: [email protected] .