O Jornal Nacional mostrou nesta sexta-feira, 14, o discurso de um promotor indignado com o fato de durante vários anos políticos terem recebido dinheiro de caixa 2 de campanha, embora nem todo ano tenha tido campanha.
É corrupção, definiu ele, com ênfase na constatação lógica, de quem sabe das coisas e não está ali para ser enganado.
O promotor falou sem que seu rosto fosse mostrado.
A imagem que se viu o tempo todo, enquanto ele desfiava sua verve, era a do empresário Emílio Odebrecht, diante dele fazendo sua explosiva delação.
Emílio contou tudo que a empresa fez. Quer dizer: a versão dele. Provas? No geral, a palavra dele. Contou e discursou.
Como o promotor, também emitiu opiniões e desenvolveu considerações avassaladoras sobre o comportamento dos políticos. Igualmente, sabe das coisas.
Em cadeia na Rede Globo, promotor e Emílio apareciam ali como heróis de um novo País.
Porque o alvo do discurso do promotor não era Emílio nem os outros empresários envolvidos nos escândalos.
Emílio tanto sabia que até sorriu em determinado momento, enquanto o promotor falava. Sorriso de canto de boca.
Como não era o promotor e nem a Justiça brasileira com a qual os políticos e os empresários lidaram durante todo o tempo da corrupção instalada, o alvo de Emílio.
A cena é um resumo do que temos visto no País.
Os delatores são tratados com condescendência, e suas empresas ganham o bônus de aparecerem no Jornal Nacional como colaboradoras da nova Pátria em que os vilões são apenas e unicamente os políticos brasileiros – principalmente, uns, que aparecem menos na delação, porém muito mais na tela da TV.
Mais visibilidade merece ser dada à parte da delação em que Emílio ironiza os meios de comunicação: por que só agora?
Todos sabiam, porque tudo acontece há trinta anos, argumenta ele.
Veja aqui:
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Todos sabiam.
Jornalistas, promotores, juízes, todos sabiam.
Inclusive os eleitores, que viram surgir nesse meio tempo inúmeras denúncias envolvendo certos políticos, mas que mesmo assim votaram neles e os reelegeram.
Naturalmente, nem todos sabiam exatamente como eram as coisas. Emílio inclui “todos” para destacar o essencial: todos que deveriam saber, porque lidam com isso e têm instrumentos para reagir, sabiam.
Por que só agora?
Por que não a indignação de inteiro teor?
E se os políticos fossem chamados para delatar os empresários – vice e versa na apuração de tudo e todos?
Demagogia, venha de onde vier – seja de promotores, seja de juízes, ou jornalistas –, sempre será demagogia.
Um País que se faz metade ação, metade discurso nunca será um País completo.