“Numa guerra todo mundo perde alguma coisa. […] cada um perde aquilo que mais estima”. Acredite ou não, essa frase é de um livro infantil, publicado em 1957 pelo escritor francês Maurice Druon. Arrisco dizer que muitos dos adultos envolvidos em guerras físicas e ideológicas de hoje em dia o tenham lido na infância, afinal de contas, “O menino do dedo verde” é um clássico. Pena que foi esquecido.
Digo que foi esquecido pois não há como não lembrar de palavras tão impactantes e realistas, e ainda assim, optar por travar guerras. É a mais pura verdade, ninguém sai ileso de um combate desses. Se não for ferido fisicamente, será moral ou psicologicamente. Ninguém ganha, todos perdem.
Na minha cabeça de adulta que leu “O menino do dedo verde”, a motivação de guerras, por mais explicativas que sejam, ainda não me fazem sentido. Não há argumentação para o fato de se bombardear, atacar, matar e causar tanto sofrimento direto ao próximo, sem levar em conta que o retorno será coletivo e imediato.
No livro, o pai do tal menino do dedo verde é dono de uma fábrica de canhões e munições, mas se diz totalmente contrário às guerras, apesar de lucrar bastante com elas. O fato curioso é que o mesmo dinheiro ganho com o sofrimento alheio é o que mantém o menino isolado em sua bolha de privilégios. Até o momento em que ele transpassa a redoma do mundo perfeito em que vive e tem contato com as mazelas da vida real. Não há como escapar.
Tisto, o menino do dedo verde, tem percepções sobre a vida muito mais profundas que os adultos que o circundam, apesar de ter sido criado em uma realidade diferente. Questiona sistemas, pergunta coisas óbvias, que muitos de nós sequer percebemos, traça soluções mais sábias, todas vindas do olhar puro de uma criança, que não vê sentido nas brigas e soluções que os adultos encontram para os problemas da vida.
Quanto mais tempo uma guerra dura, mais perdidas e sem sentido as motivações se tornam. Briga por território para quê, se no final das contas metade daquela população será dizimada. Quem habitará aquelas terras? Mais petróleo para quê, se o líquido escuro que vai jorrar do chão, no fim de tudo, será puro sangue inocente? Enquanto todo o resto sofre, os verdadeiros culpados por isso tudo repousam com suas famílias em segurança, mas sem o descanso mental tão valioso. Na guerra todos perdem, por mais que alguns achem que não.
Na história do menino do dedo verde, a magia está no fato de Tisto ter o poder de transformar tudo que toca. Ele leva amor onde falta, semeia flores e alegria até nos cantos mais cinzentos. Aqui, na vida real, não é bem assim. Nem mesmo uma pandemia, que acreditávamos ter sido capaz de transformar e humanizar essa geração, foi suficiente para demonstrar o que verdadeiramente importa nessa vida. Depois dela, duas guerras já foram instauradas. A humanidade se perdeu. Nós perdemos aquilo que mais estimamos: o amor.