26 de dezembro de 2024
Publicado em • atualizado em 12/07/2023 às 08:47

Muito barulho para nada: a falta que um bom palanque faz

Foto: Skitterphoto/Pixabay
Foto: Skitterphoto/Pixabay

Alguns políticos estão especializando em falar o que as pessoas querem ouvir, inclusive dizendo com propriedade o que elas não gostariam de escutar. Vão nas redes sociais e xingam os professores, por exemplo. Ou comparam Deus com um caudilho. Viram notícia e se refestelam na baba da inteligência popular artificial dos que veem genialidade onde há boçalidade política.

Dizer bobagem com espaço garantido no Instagram e impulsionamento ilimitado passou a ser a nova onda dos que se pretendem conectados com os novos tempos. Antes, dizia-se de juízes, promotores e jornalistas que não podiam ver geladeira aberta que já começam a discursar. Agora, a prequela é tal: basta alguém levantar um celular para que um político feche o cérebro e abra a boca, como diz, maldosamente, um amigo.

Exagero, claro. Tudo isso só para dizer que tá exagerado e mal organizado. Há exemplos muito bons de políticos que conseguem achar a forma, ajustar o conteúdo e mostrar sua identidade nas redes. Porém tem exemplos também de quem beira o ridículo. E aí está o ponto: o limite entre o bem feito e o ridículo é tênue, muitas vezes fica a uma frase de efeito deslocada. O que se vê então é o resultado contrário do pretendido: em vez de criar algo, quem se atreve acaba destruindo seu maior patrimônio político: a imagem.

Nem tudo que funciona para Bolsonaro ou Lula, funciona para um bolsonarista ou lulista. Soa óbvio? Soa, fácil perceber, mas soar não quer dizer entrar na cabeça. Em Goiás tem um ou dois que são capazes de andar com bosta na botina e óculos de Deadpool mas não sabem somar os pixels de suas deliberações e bandeiras. Defendem a liberdade dos pássaros dentro da gaiola e não têm dúvida de que são rês de lote. E são mesmo.

Armar palanque não é difícil. Abrir espaço de fala está daqui pra li. Tem gente especializada para tudo, hoje. Inclusive para ligar megafones para quem não tem nada a dizer. Resta o básico para quem quer futuro longo na política: preparar-se para o seu ofício. Levar a política a sério, tanto no sentido de exercer a missão quanto no de permanecer em ação. Saber o que está fazendo é básico e estratégico. Dar bobeira só para causar não é lacrar, é encalacrar-se na própria mediocridade.

Vassil Oliveira

Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).