Se espalha de forma viral pela internet a notícia de que o ministro da Justiça, Sérgio Moro, irá pedir demissão. O primeiro site a dar o “furo” foi o Antagonista.
“Sergio Moro não está nada satisfeito com as recorrentes sabotagens contra sua gestão e chegou a falar com assessores sobre uma possível demissão, caso seu pacote anticrime não seja aprovado”, diz o trecho da reportagem. Sob o título de “A renúncia de Moro”, o site diz que “Moro chegou a falar mais cedo com assessores sobre a possibilidade de renunciar ao cargo”.
O Antagonista é escrito por Diogo Mainard e Mário Sabino, ambos oriundos da revista Veja. A publicação é acusada pelo Supremo Tribunal Federal pelo vazamento de dezenas de inquéritos a cargo da Operação Lava Jato que estão sob sigilo de Justiça. Por isto é visto como um site que apoia Sergio Moro e os procuradores de Curitiba-PR.
A notícia foi repercutida pela revista Crusoé, que também faz parte do mesmo grupo liderado por Mainard. A matéria, assinada por Caio Junqueira, pergunta: “O ex-juiz da Lava Jato experimenta os percalços da política e a sabotagem do Congresso. Será que ele aguentará o jogo pesado de Brasília?”.
Pressão ou chantagem?
Numa conversa de definição de pauta no DG. conversávamos sobre o embate entre Sérgio Moro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia (DEM).
Moro disputa com Guedes o domínio do Coaf – Conselho de Controle de Atividades Financeiras. Conselho de Controle de Atividades Financeiras; órgão criado em 1986, e desde então jurisdicionado ao Ministério da Fazenda.
Guedes, que tem a dura missão de aprovar a impopular Reforma da Previdência está ouvindo apelos de líderes do Centrão (PP, PSD, PR, MDB) para que o Coaf permaneça na Economia, e não seja delegado ao MInistério da Justiça, reforçando Moro e os procuradores da Operação Lava Jato. Nesta semana Guedes bateu a mão na mesa e disse que o Coaf fica com ele.
Esta ideia sensibiliza Maia, que também trombou com Moro por conta do dito “Pacote Anti-Violência”, que tem sido criticado por juristas, constitucionalistas, deputados e entidades ligadas aos direitos humanos como o pacote que dá licença para matar.
Ao vazar, como de costume, informações sigilosas ao Antagonista e Crusoé, Moro faz uma ameaça ou uma chantagem ao presidente Jair Bolsonaro, que já amarga baixíssimas taxas de aprovação popular?
Ou Moro vai mais além, e quer se dissociar desde já do governo para tramar sua candidatura presidencial em 2022?
Deboche
Gilberto Dimenstein é um jornalista que dispensa comentários. Articulista da Folha de S. Paulo por décadas, lançou o seu Catraca Livre, como tribuna em defesa dos direitos do cidadão, direitos civil, direitos humanos e em favor da Educação.
Comentando a notícia da renúncia do ministro da Justiça, Dimeinstein abre artigo com o título, “Bolsonaro fez da vida de Moro um deboche”.
Dimenstein argumenta que “até entrar no Ministério da Justiça, Sérgio Moro era um ídolo nacional – quase apenas atacado pelas pessoas e grupos atacados por sua ação como juíz contra a corrupção”. (…) “Hoje, o Moro que era saudado não consegue mais andar na rua sem sem cobrado”.
Para Dimenstein, “rumores do pedido de demissão são provocados pela dificuldade de aprovação do pacote anticrime – Moro vê nessa dificuldade sabotagem dentro do próprio governo. Ainda está arriscado de perder o Coaf que, entre outras coisas, tem de investigar Flávio Bolsonaro”. E completa: Moro se desgastou por parecer muito flexível com Caixa 2 dos políticos – algo que ele condenava como pior do que corrupção. Seu pacote anticrime foi traduzido como licença para matar. Familia Bolsonaro está cercada de suspeitas de desvios de dinheiro”, frisa.
Lobby
Luis Nassif é outro jornalista de grandeza ímpar. Também oriundo da Folha, produz conteúdo próprio no seu Jornal GGN. Ele tem sido crítico da Operação Lava Jato e do “adestramento” dos procuradores e juízes federais ligados a operação (Moro, Gebran e outros) a instituições norte-americanas como o Departamento de Justiça e o FBI. Ele denuncia esta ligação, que é inconstitucional e lesa pátria no artigo: “Como o Departamento de Justiça transformou o compliance em uma indústria bilionária”.
Nassif revela que o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, através da Divisão Criminal de Avaliação de Programas de Conformidade Corporativa, publicou um documento de orientação de como os procuradores devem atuar nos programas de conformidade.
“É um exemplo perfeito de como a economia improdutiva turbinou a indústria do compliance e a parceria entre procuradores, escritórios de advocacia e de auditoria. “Por aí se entende que o primeiro ato do Ministro da Justiça Sérgio Moro foi disseminar pelo Ministério frases de autoajuda e profissão de fé na honestidade. Estava fazendo compliance, veja só”, pontua.
Moralismo de resultados
O messianismo moralista de Sérgio Moro e seus associados, trouxe prejuízos à economia brasileira que podem ser contados em cerca de 2 milhões de desempregados na indústria naval, construção civil com a falência de grandes empresas de engenharia e 1.400 obras federais paradas.
Quando veio a público o esquema da Lava Jato com o Departamento de Justiça para criação de um fundo de R$ 2,5 bilhões da Petrobrás e outros R$ 6,8 bilhões da Odebrecht, que seria administrado exclusivamente pelos procuradores Deltan Dallagnol e Carlos Fernando Santos Lima, ficou claro que algo estava errado no Reino de Curitiba.
Em sua entrevista à Folha e ao El País, o ex-presidente Lula chamou de “Fundação Criança Esperança do Dallagnol”, o butim lavajatista, que segundo Luis Nassif, configura uma extorção maior aos empresários do que o esquema anterior de corrupção que foi denunciado pelos procuradores.
Moro quer sair ou quer mais poderes?
Ou Moro já antevê que o barco do governo e dele próprio estão indo à pique?
Altair Tavares
Editor e administrador do Diário de Goiás. Repórter e comentarista de política e vários outros assuntos. Pós-graduado em Administração Estratégica de Marketing e em Cinema. Professor da área de comunicação. Para contato: [email protected] .