29 de agosto de 2024
Publicado em • atualizado em 05/07/2014 às 15:19

Mitos eleitorais não vencem sozinhos

Texto pulbicado no Jornal Tribuna do Planalto

Marqueteiro não ganha eleição. Propostas também não. Muito menos discurso elevado, propositivo, que fale apenas sobre o que será, sem perder tempo com o que já foi, podia ser. O contrário disso é mito eleitoral. Porque nada é 100% capaz de decidir uma disputa.

Pode até ser que uma jogada de marketing seja decisiva. Pode ser. Mas aí é como gol aos 46 minutos do segundo tempo. A bola talvez entre, talvez não entre. O mais provável é que não entre, porque lances assim costumam ser atos de desespero, ou de sorte, ou sacadas fundamentais, não mais que sacadas, nem menos que fundamentais.

Proposta, então, é coisa para se dizer, nem sempre pra se fazer como recurso infalível para a vitória. Quem vai decidir votar em fulano porque ele, sensibilizado com o desmatamento em Goiás e preocupado com o curso do Araguaia, promete cumprir na íntegra a legislação ambiental?

Parece heresia pensar que ninguém faria isso. Só que o comum é o cidadão dizer que quer, sim, meio ambiente preservado, e no entanto trocar o seu enlevado voto – gigante pela própria natureza da moralização nacional – pela aguardada autorização para que possa finalmente providenciar aquela queimadazinha no cerrado que deveria ser reserva. Quer dizer: quem muito cobra jeito do sujeito é o primeiro a se sujeitar ao nacional jeitinho.

Eleição se ganha pelo conjunto da obra. O detalhe que define só define quando o restante jogou bem ou no mínimo jogou o necessário. Por isso os experientes fazedores de campanha costumam dizer com propriedade que em uma eleição, quando as coisas começam a dar certo, nada segura.

Porque os acertos costumam ser nada mais que erros dos adversários. Nesse caso, se a campanha estiver bem, azeitada, no momento em que a bola quica na área, fica fácil chutar pra gol e marcar. Ou seja: para dar certo, a campanha precisa estar no ponto quando o cavalo passar arreado.

Campanha tem que ter rumo, boa comunicação, bons advogados e um bom candidato. E qual a medida exata do “bom”? A medida das coisas funcionando no rumo certo. Porque campanha sem rumo, se perde; campanha com rumo acertado, ainda que momentaneamente se perca ‘no’ rumo, volta para o prumo e segue.

Logo, a “panelinha” de 1998 – sacada genial para definir a familiocracia peemedebista liderada então por Iris Rezende, não venceu sozinha a eleição para Marconi Perillo (PSDB). Logo, também, qualquer que seja o mote deste ano, inclusive contra Marconi, não será bala mortal de ninguém. Logo, um bom mote com uma campanha acertada, no rumo correto, é que fará cada bala valer um tiro de canhão.

Mas que rumo é este? No fim das contas, nada ainda será decisivo se o alvo não for precisamente o que está no coração e na mente do eleitor. Nem o melhor marqueteiro, nem o maior volume de dinheiro, nem o melhor candidato poderá vencer se contrariar a vontade do eleitor. Não a vontade relativa ao que ele quer ou parece querer. Mas a vontade recôndita, aquela que está no fundo da alma, e que se traduz em seu sentimento verdadeiro.

O governador Marconi Perillo é favorito na eleição deste ano em Goiás. No entanto, se o eleitor estiver cansado dele, não confiar em suas propostas, ou simplesmente quiser outra coisa, nem por milagre ele vencerá. Iris é o contraponto de primeira hora do governador. Mas se não se apresentar acertadamente, não convencer como a alternativa decisiva, nem por milagre ganhará.

Vale o mesmo para Antônio Gomide (PT) e Vanderlan Cardoso (PSB) – e para todos os demais candidatos a governador. Gomide é a cara do novo. Mas de nada adianta ser novo se não for a cara do desejo dos goianos. Apenas ser novo não credencia ninguém a ganhar uma eleição. Vanderlan é diferente? É a ‘mudança segura’? Pode ser, e pode ser que não seja bem isso que o povo quer.

Outro mito de eleição é achar que dinheiro basta para alguém chegar em primeiro. Dinheiro ajudou o PMDB em 1998, mas à frente quem chegou foi o PSDB e aliados, que poucos recursos tinham. Dinheiro demais não bastou para uma vitória tranquila de Marconi em 2010. Com pouco, muito pouco, o PMDB quase levou.

Eleição é um negócio caótico em todas as direções. Mas tem lógica quando se diz que ganha quem merece – por méritos lisonjeiros ou por força maquiavélica. Ninguém governa por ter chegado em segundo lugar honroso. Governa quem vence – custe o que custar, goste-se ou não disso, feliz ou infelizmente. O que se tem: quem perde, sempre perde por merecimento. E ponto.

Mito até ajuda a ganhar eleição. Mas, na mesma medida, também ajuda a perder. Então, ao trabalho!