Temer está comprando apoios no Congresso e deputados estão vendendo apoios no Congresso. O negócio agora é este. Sempre foi este. O Brasil está assistindo a um filme de relações explícitas, com a diferença de que a porta da sala está aberta para quem quiser entrar. Lá em Brasília, ninguém é de ninguém, mas pode ser, se o preço for honesto. O preço, insisto. Na sala, é ver para crer.
A indignação do deputado federal goiano Delegado Waldir (PR), substituído em rede nacional – ele disse que ficou sabendo pela imprensa – na CCJ porque todos sabiam que não votaria contra a aceitação da denúncia da PGR contra o presidente Michel Temer (PMDB), é só o escancaramento de mais um caso típico de política como ela é.
O Delegado Waldir esbravejou no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), os dedos em arma atirando para matar (gesto imortalizado em vídeo-montagem com som de balas ao fundo), com moral e cívica indignação. Esbraveja agora ao ser sacado do rito de um possível impeachment contra Temer, que chegou lá da Presidência na crista da onda de quem via o diabo nos governos anteriores, e não admitia que ficasse o dito pelo não dito.
Como o Brasil que temos é fruto do Brasil das ruas, e não das urnas, o Delegado Waldir que se vê é resultado do Delegado Waldir que se viu no palanque. Fato: não há mais o que esconder na República. Não há mais como negar que o arroubo da paixão instantânea pela mudança do que está aí finalmente se encontrou com a realidade do que somos aqui. E aí a vida ensina que quem espera mudar a sua (vida) apenas cobrando mudança na (vida) do outro, não encontra saída. Aqui está o xis da questão.
Temer oferece cargos, emendas, almoços e jantares de forma tão natural, que nem espanto causa às pessoas que outro dia se indignavam com um encontrozinho que fosse de Dilma com um ministro do STF. Gilmar Mendes não sai do Palácio. E daí? Isso não significa ‘Volta, Dilma’. Quer dizer ‘Fora, Temer!’. Quer dizer que é hora de manter a compostura, em vez de deitar em berço esplêndido. De arregaçar as mangas, para não ceder à seletividade das virtudes.
Pouco a pouco, o Brasil vai se ajustando à ordem dos tempos. Uns chamam isso de cair a ficha. Acho que é respiro, depois do suspiro. Faz parte da política o acirramento de ânimos, como fazem parte da vida o amor e o ódio. Mas assim como a vida não é só uma coisa ou a outra, é tudo ao mesmo tempo, a política se constrói nos atos e desatamentos. Consumida a fúria das manifestações externas, vamos às outras, as internas, sem a fúria, embora com a mesma intensidade.
O PT cometeu erros no governo e na política. Os brasileiros pagam por isso, e o partido também, em sentido diferente. Mas não só o PT cometeu erros. A simplificação das coisas passa longe de resolver a coisa toda. O Brasil é maior do que os descaminhos de um partido apenas, e muito superior aos males de origem da sua política, à esquerda ou à direita. O que nos divide, não nos representa.
No balcão de negócios estabelecido, você decide se dá o seu preço a Temer e seus apoiadores, ou se cobra quanto vale o seu País.
Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).