22 de novembro de 2024
Publicado em • atualizado em 08/04/2023 às 09:54

Meu coração é vermelho tristeza

Como uma creche pode se tornar sinônimo de trincheira de guerra?
Como uma creche pode se tornar sinônimo de trincheira de guerra?

Não há lugar seguro no mundo. Tudo bem. Entender isso faz parte do nosso autocuidado. É da vida. O perigo faz soar o alarme da razão, acelera o coração atento. Mas e quando o sentido da frase se torna literal: a nossa casa não nos protege mais, a creche não é lugar pra deixar despreocupado os filhos e filhas, e um simples bate-papo se torna sinônimo de trincheira de guerra?

Chega um tempo em que o medo de morrer passa a vir antes da sede de viver, com poesia e tudo. Chegou. As notícias carregam o mundo nas entrelinhas, e não como voo da imaginação livre e fértil. Carregam como pedras, carregam como Sísifo moderno, enganando o sonho de uma sociedade justa e moral.

As mudanças fora da gente estão empurrando a evolução interior para o fundo, estão socando nossos sentimentos em vez de revolver o solo para novas plantações. Os robôs inteligentes estão chegando e, pelo jeito, vão nos pegar como os vemos sem a IA: automatizados, analógicos, despreparados para liderar. Só nos restará seguir em frente assim mesmo. Seguidores de latas, porque sequenciadores de nadas.

Estamos esperando que alguém arrume essa bagunça. E bagunçar cada vez mais a natureza das coisas, a vida como ela deveria ser (onde foram parar nossas utopias?), mostra-se nossa maior contribuição.

A bagunça não está lá fora. Está no solo estéril que estamos cultivando dentro, com nossos pensamentos, nossas convicções, nossas veleidades derrotadas pelas vozes de comando de quem nos quer derrotados por nós mesmos para lutar as batalhas deles próprios como camicases emocionais.

Preste atenção aos fatos. Veja como as notícias dos outros dão notícias do que estamos deixando de ser. Não ser verbo e substantivo.

Vassil Oliveira

Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).