A oposição goiana vive na esperança de um golpe de sorte contra o tucano, que tem risco de perder em 2014, mas conta com a sorte de ter a oposição que Goiás tem
Cadê oposição?
Cadê governo?
Em Goiás não existe oposição consistente, organizada e com visão estratégica. O que há é uma vontade muito grande, e um medo maior ainda de se posicionar contra o governo de Marconi Perillo (PSDB), que, por seu lado, está longe de ser o que quer parecer, ou mais: está longe de ser.
Basta olhar o comportamento dos políticos que se pretendem contrários ao tucano. Até arriscam um ou outro discurso firme; na prática, porém, veem Marconi sofrer com o caso Cachoeira mas pouco fazem para aproveitar a oportunidade de desgastar o adversário; ou se perdem na desastrada tentativa de aprovar uma CPI dos Buracos nas Estradas porque vivem na ilusão de uma força irresistível que mal resiste a uns poucos cargos no governo a um bom papo no Palácio.
Mas, e governo focado, bem avaliado, com rumo certo? Isso existe, no Estado? Hoje o que se vê: o governo tem inúmeras ações mas vive de palanque, discurso e propaganda, porque os resultados esbarram na realidade, como no caso das estradas, que parecem espetaculares nos anúncios e estão em grande parte destruídas a olhos vistos. Também se vê: promessas não cumpridas, falta de identidade e um campo de guerra de grupos de poder ávidos por mais… poder na máquina pública.
Sem oposição, sem governo, Goiás é hoje terra de ninguém: ninguém é verdadeiramente favorito para a disputa pelo governo em 2014.
Marconi Perillo é apontado muitas vezes como favorito muito mais por inércia do que por convicção. E agora, mais do que nunca é isso que prevalece, visto que a convicção de uma inevitável vitória marconista só parte mesmo de marconistas empedernidos. No mais, a desconfiança ganha espaço, no rastro do desgaste provocado pelo envolvimento do governo atual com o contraventor Carlinhos Cachoeira, e principalmente por um governo que está longe da força e da competência política dos governos anteriores do tucano.
Há muito tempo para o governador se recuperar, é fato. E não seria novidade. Em entrevista à Vinha FM, na semana passada, o secretário de Saúde do Estado, Antônio Faleiros, marconista de quatro costados – porque santilista (de Henrique Santillo, ex-governador de 1989 a 1992), feito o outro, de sangue –, observou que Marconi Perillo tem uma capacidade de reciclagem acima da média. Sim, a história mostra que o tucano costuma sair da derrota aparente para a vitória convincente com competência. Fez isso em 2001, numa arrancada que parecia improvável para uma vitória esmagadora sobre Maguito Vilela e o PMDB no ano seguinte.
No entanto, convém lembrar que Marconi está completando um ciclo de poder indireto que chega a 16 anos, e direto (ele governador) que vai a 11,3 anos até o final de 2014. A palavra exaustão, para definir o momento de Marconi no poder, é usada não pela oposição, mas por aliados seus, em conversas reservadas, cheias de preocupação.
Na campanha passada para o governo, as pesquisas já mostravam um cenário difícil para o tucano. Com dinheiro em caixa, o comando evidente da estrutura do Estado agindo a seu favor – embora o governador fosse seu adversário no momento da disputa – e uma campanha mais de força do que de discurso, ainda assim Marconi suou para derrotar um Iris Rezende (PMDB) com estrutura miúda tanto no gasto quando na ação. Eram comuns as cenas no interior de cabos eleitorais iristas pedindo material de campanha e não recebendo, ou apoiadores que iam abandonando o barco na medida em que não tinham a contrapartida financeira que buscavam nos comitês peemedebistas.
Agora, a situação de Marconi está melhor? Alguém arrisca dizer que sim e apostar a sua reputação nisso?
Marconi Perillo não é mais o mesmo. Assim como Iris não é mais o mesmo. Só não mudou o Estado, que ainda se sustenta na polarização dos últimos 32 anos, neste instante assim: Iris X Marconi. Ou Marconi X Iris.
E este é o ponto a merecer maior reflexão.
Se há exaustão com Marconi, não haveria em relação a Iris?
E por que a disputa em Goiás permanece nas mãos dos dois, no que vão fazer, em quem vão apoiar, ou se serão eles os protagonistas mais uma vez?
Porque não há sucessores para eles. Eles não se ocuparam disso (alguém acredita que chegaram a se preocupar com tal elevada visão de estadista?) e não houve viv’alma a conseguir furar o cerco de suas lideranças.
Muitos tentam.
Tenta, por exemplo, Júnior Friboi (PSB). E de que jeito tenta? Tenta apegando-se a Iris, porque, sozinho, não faz verão e muito menos entra na lista dos que são levados em conta como candidatos ao governo.
Tenta uma meia dúzia de novos peemedebistas. E como tentam? Agarrados à esperança de que Iris os levem à vitória. Não são políticos com personalidade; são todos dependentes da química irista.
Tenta Vanderlan Cardoso (sem partido). Como tenta Ronaldo Caiado (DEM). Ambos imbuídos de uma missão: edificar a terceira via na disputa pelo governo em Goiás. O que seria, ou será, um feito inédito. Caso curioso o de Vanderlan/Caiado: eles fecham portas para uma aliança com PT e PMDB; mas, apesar de discursar contra Marconi, mantém uma porta aberta até para uma conversa futura.
Enfim: a terceira via em Goiás se resume a três ou quatro partidos nanicos e a uma força que está ancorada menos nos seus líderes e mais na esperança jamais perdida de que a população goiana está cansada da polarização Iris-Marconi e que vai eleger um terceiro. Quem sabe?
Quem resolveu não tentar diretamente foi o PT. O partido está firme na aliança com o PMDB. Pode apoiar um peemedebista. Mas pode também emplacar um nome seu na cabeça de chapa. O PT joga. Joga com cartas marcadas: Paulo Garcia, prefeito de Goiânia; Antônio Gomide, prefeito de Anápolis; Rubenos Otoni, deputado federal. Joga. Joga para estar entre os ganhadores. O partido, que já foi terceira via derrotada, joga agora de um lado, e tem chances reais. Ponto.
Há mais nomes sonhando com a disputa pelo governo de Goiás. E talvez o vencedor nem esteja entre os citados nesta altura dos fatos. Talvez, mais que isso, seja este, exatamente este, o que ninguém viu ainda como o favorito ou possível vencedor, o verdadeiramente favorito. O eleito para vencer!
Mas, dirá você, de onde esse nome virá?
Eis a questão. E uma questão carregada de curiosidade.
O novo não tem partido. O novo é um discurso, uma expectativa, uma esperança, um mote. Iris foi o novo em 1982 (e antes, quando candidato a vereador e prefeito de Goiânia), assim como Marconi o foi 16 anos atrás, em 1998, contra um envelhecido Iris, depois de 16 anos ostensivamente no poder.
Memória mais recente: a panelinha peemedebista que marcou precisamente a última virada no eixo político goiano.
O novo poderá vir inclusive do grupo marconista, por mais improvável que isso pareça à luz de tudo que foi escrito até aqui.
Imaginem Marconi se afastando da linha direta da disputa e lançando um nome… novo…
Imaginem ele mostrando que, contra ele, só há velhos adversários…
Imaginem.
E como saber o que é o novo, se um nome ou um mote ou discurso avassalador?
Não é com intuição apenas.
Eis mais um diferencial de Marconi Perillo sobre os concorrentes, em especial o próprio Iris.
Porque se há uma opinião generalizada em Goiás de que ninguém se parece mais com Iris do que Marconi, e vice-versa, uma coisa os distancia, além da idade, claro: um é intuitivo; o outro, profissional da política.
Não tente convencer Iris de que uma pesquisa abrangente, ou mais, uma séria de pesquisas quantitativas, qualitativas e outras tais valem quanto custam porque seu poder de convencimento esbarrará sempre a convicção que ele tem de que conhece como ninguém o povo goiano e, em dito isto, o resto é com a providência divina.
Marconi, ao contrário, não economiza em estrutura de pré-campanha e muito menos de campanha.
Alguém já ouviu que faltou dinheiro para Iris, na reta final do segundo turno, e que, caso houvesse, ele seria o vencedor, e não Marconi? Se quiser ouvir essa avaliação não precisa procurar um irista; fale com o marconista. E alguém que conheça um mínimo de política goiana considera crível dizer que Marconi arriscaria perder uma eleição para falta de dinheiro?
E não é apenas Iris que vive de fazer política por intuição em Goiás. Tirando Marconi, é razoável dizer que o resto faz assim.
Como fazer oposição se a oposição não sabe o que dizer? E como saber o que dizer se cada um pensa que o melhor é dizer uma coisa ou outra coisa, e com tantas coisas a dizer ninguém diz nada que mereça consideração?
Perdida está, perdida anda a oposição rumo à disputa do ano que vem. Anda como quem anda em direção ao cadafalso.
Nos grupos de poder que sonham com a vitória hoje em Goiás o que manda é o achismo. É isso. A oposição quer vencer o profissional Marconi com achismo. Nesse andar, a vitória não é um construção, jamais será uma conquista; será um golpe de sorte.
Quer dizer: sorte e achismo são as armas da oposição contra Marconi. Ah, e esperança. Pois é fluente o discurso entre os ansiosos potenciais adversários de Marconi de que ele está desgastado com o caso Cachoeira, seu governo é um desaste, nada que fizer vai reverter sua vantagem etc. etc., e que o resultado disso será o reconhecimento do eleitor goiano nas urnas. Como se eleitor se guiasse pela razão…
Donde se vê que a desvantagem da oposição não está nas virtudes de Marconi, como muito se aponta; está essencialmente na sua fragilidade. Na falta de estratégia, na ausência de liderança, em subestimar o tucano e o povo goiano. Ou superestimar.
Sorte por sorte, quem tem de verdade é Marconi Perillo, de ter a oposição que o combate, uma oposição que, sem sorte, não ganha uma.
Ensina a velha sabedoria política: a vitória não é um detalhe. A vitória está nos detalhes.
Sendo assim, quem você acha que será o vencedor em 2014?
Acha mesmo?
Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).