O governador Marconi Perillo (PSDB) decidiu agora que tem poder para governar pelos seus sucessores.
E já está em ação, em cima dos palanques itinerantes pelo interior do Estado, mesma estratégia que usou em 2001 para dar arrancada à campanha da reeleição, no ano seguinte.
Logo ele que ora indica justamente que mais uma vez será candidato à reeleição, ano que vem, ora deixa a entender que não, vai é disputar mandato de deputado federal, para não correr o risco de ser julgado nas urnas por conta de seus atos denunciados no uso e, o que se diz, abuso do poder.
Logo ele que empurra um mandato que vai pela metade de forma claudicante, em razão do tempo gasto em tentar e não conseguir explicar, entre outras coisas, as relações pecaminosas de sua administração que estão no epicentro da CPMI do Cachoeira, em Brasília.
Em ação, Marconi Perillo lançou no sábado, 15, uma obra que, de esforço seu, pouco terá além do relançamento oficial: a duplicação da GO-020, que liga Goiânia a Catalão, que por sua vez conecta-se, via BR, a outras capitais importantes do País, como São Paulo e Rio de Janeiro.
Garante Marconi que o trecho Goiânia-Bela Vista, de cerca de 45 quilômetros, começará no ano que vem, e que outro, até Cristianópolis, um pouco menor, será tocado na sequência, e que ambos serão concluídos ainda na sua administração.
Palavra de Marconi.
Depois… Aí já não será mais com ele.
“Com isso (até Cristianópolis), os próximos governadores teriam a obrigação de dar continuidade à obra, concretizando esse grande sonho de toda a região”, avisou, em fulgurante palanque armado no seu giro pela região da Estrada de Ferro, onde fica então registrado agora, para os séculos e séculos, o seu feito histórico por excelência, no rastro deste outro, de subida honra regional: nesse dia, ele governou para além de seu tempo, pelos seus sucessores, os ‘obrigados’ de hoje e, quem sabe, mal-agradecidos do futuro.
Marconi dá ordem aos novos governadores com o braço ao alto e o dedão recolhido ao meio da mão aberta e esticada. Ele tem o poder!
À parte a forma, há razão na visão de continuidade administrativa. Não fosse um pequeno detalhe, neste caso (como em outros, ao longo de seus mandatos): a duplicação até Bela Vista é promessa velha, de quando foi anunciado por ele em outro governo, portanto em outros tempos (do primeiro mandato? Ajudem aí…), que Goiânia seria ligada por via dupla a todas as cidades próximas.
Eis, pois, que a promessa que ficou pela metade ressurge nesta hora como projeto visionário.
Curioso que a rodovia em questão…
…tenha sido feita pelo seu maior adversário, Iris Rezende (PMDB), quando governador…
…tenha ganhado, há uma semana, novo nome, Jaime Rincon, que vem a ser coincidentemente o nome do pai do presidente da estatal que vai tocar a obra, a Agetop, também Jayme Rincon, que tem se destacado nos últimos meses a bater duro na mulher de Iris, a deputada federal Iris Araújo…
…e que tenha como meta na promessa de Marconi ir até Cristianópolis, exatamente na cidade Natal de… Iris.
Sobre o término da duplicação, convém perguntar:
– com a parte até Bela Vista sendo iniciada ano que vem, haverá tempo para começar a outra e terminá-la antes de Marconi deixar o governo?
– caso Marconi deixe o governo em abril de 2014 para ser candidato a deputado federal, dá pra acreditar em inauguração até lá? Pelo menos da etapa até Bela Vista, com 45 quilômetros… 45, entende?
Claro, diz o próprio, em sua vasta retórica: “Vamos começar a obra. É assim que conseguimos realizar os nossos sonhos.”
Assim: com outros concluindo o que ele mal começa.
Assim: dando à velha promessa de duplicação até Bela Vista um puxadinho de esperteza – ligar Goiânia às principais capitais do sudeste brasileiro! –, deixando para outros a “obrigação” do ônus, de sorte que a ele reste senão o bônus de discursar aos quatro cantos que ele fez, ele faz e vai fazer muito mais se… lhe derem mais um, quem sabe dois, quem sabe o mandato de um rei: até que a morte o separe de nós, goianos.
Seremos conduzidos por décadas pelo estilo Marconi Perillo de governar com honestidade: prometer, não cumprir, propagandear o que não fez (ou não fez sozinho) nem fará e depois inaugurar e/ou comemorar o feito como seu, apenas seu.
Lula e Dilma que o digam.
É assim que conseguimos realizar os nossos sonhos?
Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).