As indefinições de dois fatos travam a política goiana. Isso, e um outro fato: uma dívida de campanha maior que a que o tucano assumiu com o contraventor Carlinhos Cachoeira. Uma dívida de tucano para tucanos.
Um dos fatos: o peso do relatório do deputado Odair Cunha (PT) sobre o governador tucano Marconi Perillo, na CPMI do Cachoeira.
O outro: Jardel Sebba (PSDB) assumirá ou não a prefeitura de Catalão? (Desdobramentos: haverá nova eleição? Adib Elias (PMDB) poderá assumir?)
Ambos, e o outro fato, apontam para o óbvio: o enfraquecimento político de Marconi.
No governo, a expectativa até o início da semana passada era de que o relatório de Odair Cunha pegaria leve com Marconi, para não dar espaço a novas investigações que pudessem abrir a caixa-preta da Delta.
Isso confirmado, seria uma boa notícia, capaz de motivar ações e reações para ajudar o tucano a criar musculatura e voltar a sonhar com a reeleição. O melhor dos mundos. Vá lá: o menos pior dos mundos – para os marconistas de carteirinha.
E aí está uma das razões para o adiamento da reforma da equipe do governo, como anotado aqui no DG. A outra, claro, e como também pontuado aqui, tem tudo a ver com Jardel e seu grupo.
Marconi não tem muito o que fazer senão esperar.
Pior será – e tudo indica que será – o relatório pegar pesado com o governador.
Nesse caso, ele lidará com as desconfianças que já existem e com conclusões que o jogam além do fundo do poço da desconfiança popular.
Some-se a isso a impotência diante das espertezas do atual presidente da Assembleia Legislativa (e quem sabe, prefeito de Catalão), Jardel Sebba, e do presidente que vai assumir no Poder Legislativo, Helder Valin. Tem-se, aí, o quadro da real situação de Marconi: ele não sabe o que fazer, nem como, muito menos quando. Porque, em seu próprio governo, não pode, não tem poder para nada, e fora dele é mais insegurança.
Quer dizer: sem o povo e cada vez com companheiros de menos e atravancando seu caminho, Marconi está mais para um zumbi político do que para governador.
Contra o relatório, Marconi pode fazer pouco; contra a movimentação de Jardel e Valin, menos ainda.
Os dois tucanos “amigos” apertam o cinto porque pode chegar a eles, por exemplo, o afastamento do governador. Direta ou indiretamente. Na Casa, o futuro de Marconi. E isso poder custar caro.
Mas e se Jardel assumir a prefeitura de Catalão?
É engraçado ouvir as respostas a esta pergunta.
Há quem advogue a ideia de que Jardel virar prefeito é ótimo, porque o confinaria a Catalão, afastando-o, e parte de seu grupo, do Palácio das Esmeraldas.
Mas, há também quem veja nisso uma doce ilusão, uma vez que ele continuaria com poder de caneta, de mídia e com amigos no poder da Assembleia.
Marconi, na verdade, tem uma dívida, ao que parece, impagável com Jardel, Valin e o grupo.
Foi na Assembleia que Marconi montou trincheira de resistência, ao governo Alcides, contra o governo Alcides. Lá foram acolhidos aliados e sustentadas ações estratégicas que ajudaram no retorno ao Palácio. E isso custou caro.
Exatamente entre o que “custou” e o que “custa” caro está Marconi. A conta é alta porque o faz refém sem saída aparente.
A conclusão óbvia: das contas de campanha de Marconi, a maior não é a que ele tem com Carlinhos Cachoeira, e sim a que assumiu com o grupo Jardel-Valin.
Jardel-Valin fazem no governo Marconi o que nem Cachoeira conseguiu. Porque ainda fazem. E planejam fazer muito mais.
A agiotagem eleitoral de Cachoeira é suave diante da de Jardel-Valin. Diante deles é que Marconi agoniza.
Aliás – como anotou o ex-prefeito e ex-governador Iris Rezende em carta publicada em O Popular (e reproduzida pelo DG) – “Goiás agoniza”.
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Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).