28 de agosto de 2024
Publicado em • atualizado em 15/12/2013 às 20:59

Marconi no ataque. Arruma a casa e bagunça a oposição

GOVERNADOR ESTÁ EM AÇÃO COMO CANDIDATO À REELEIÇÃO. UM DE SEUS ALVOS: A DIVISÃO DA OPOSIÇÃO, BASE ADVERSÁRIA PARA 2014


 

O governador Marconi Perillo (PSDB) está no ataque. Depois de um período de baixa, de desgastes, ele sai da defensiva e parte para cima dos adversários de sua reeleição, no ano que vem.

Pouco importa se as pesquisas ainda não lhe são favoráveis como gostaria. No mais recente levantamento Ibope, divulgado na quinta, 25, seu governo aparece com 29% de avaliação positiva e 28% de negativa. Nada a comemorar? Há.

Em relação à rodada anterior, ele melhorou 8 pontos porcentuais. Além disso, a aprovação de seu jeito de administrar é de 48%, igual à da presidente Dilma (PT) no Estado, e o seu índice de confiança atinge 44%, um ponto porcentual maior que o da presidente.

Mas não é o que importa. Ele passa por cima de tudo isso. Tem chão até junho, mês das convenções.

Marconi segue firme na convicção de que exalar perspectiva de poder é mais importante do que se abater agora por uma avaliação claudicante – aliás, conta com essa perspectiva para tentar reverter o negativo, identificado antes e igualmente rebatido com reação em cadeia de sua estrutura.

É esta uma característica natural sua: buscar inverter o jogo. E assim, age como se fosse ele a oposição: com virulência, críticas fortes, nunca se posicionando feito ave acuada, ‘vendendo’ o bom mesmo quando está mal. Atira como se nada tivesse a perder.

A reticência, o acomodamento, a fragilidade, o receio quem mostra são os oposicionistas. Nada de crítica contundente ao governo. Nada de confronto direto. No máximo, uma cutucada: “Falta governo a Goiás.” Isso dói em Marconi?

Semana passada, o Su­pe­rior Tribunal de Justiça (STJ) determinou abertura de processo contra o tucano por indícios de irregularidades em publicidade do governo. O beneficiado teria sido o deputado federal Sandes Júnior (PP), candidato a prefeito de Goiânia em 2004.

O que a oposição fez? Ca­lou-se. Nenhum movimento concentrado para espalhar a notícia, enfatizar o fato, capitalizar.

(Os adversários concentravam-se, neste período, em uma batalha de egos dentro de suas bases partidárias. Convocaram a imprensa no PMDB para mandar recados aos companheiros de legenda. Lançaram notas na imprensa para alfinetar correligionários.)

Em contrapartida, também na semana passada ganhou destaque a informação de que no livro ‘Assassinato de Reputações – Um crime de Estado’ é denunciada uma suposta fábrica de dossiês alimentada no governo Lula para atingir, entre outros, Marconi Perillo.

O que fez o governador? Atacou: “Aquilo foi uma ação clara de parte do PT liderada pelo ex-presidente Lula para tentar desviar as atenções do mensalão e se vingar de quem o alertou sobre o maior caso de corrupção de nossa história.”

A mesma velha história: Marconi é vítima de Lula. Reação em Goiás? Zero.

Ao mesmo tempo, durante evento de prestação de contas da Saneago na quarta, 11, o tucano fez rasgado elogio à presidente Dilma (PT). No plano de expansão da empresa, foram investidos R$ 3 bilhões nos sistemas de água e esgoto. Parceria do Estado com o governo federal petista.
“Serei eternamente grato ao senhor, ministro, e à grande parceira, grande benfeitora de Goiás, que é a presidente Dilma”, disse o tucano dirigindo-se ao ministro de Cidades, Aguinaldo Ribeiro.
Algum petista no evento? Algum oposicionista do PMDB, parceiro político do PT? Nada.

Elogios de um lado, mão pesada de outro. Nas redes sociais, no mesmo instante em que Marconi elogiava a presidente – e a todo, como se sabe –, o que se via: ataques da assessoria do governador à administração de Dilma, ao PT etc.

Na mesma quinta-feira foi votado na Câmara de Goiânia o aumento do IPTU. Para o prefeito Paulo Garcia (PT), matéria crucial, estratégica, para não limitar o orçamento do ano que vem.
O que fez Marconi: acio­nou sua base, que jogou pesado nos bastidores, cooptando aliados do prefeito. No fim, vitória dos governistas por um voto de diferença.

Nada de condescendência com o adversário. Nem dó, muito menos piedade.

É evidente também como a agenda ‘positiva’ do governador se intensificou nas últimas semanas, com inaugurações de obras e lançamento de outras. E como a reforma do secretariado se transformou em ponto de largada para o combate final.

É o outro front da movimentação marconista.

Ele não para de tentar mostrar serviço, que está no controle da administração e que tem o que mostrar – como mostra, com investimento forte.

Entre as ações de final de ano está a que prevê pagar todo o funcionalismo dia 20. Será sua boa notícia de Natal para um público que já foi mais fiel a ele, e que quer reconquistar – precisa reconquistar.

Também aí Marconi age o tempo todo atirando.

O discurso é um só: enquanto ele trabalha, a oposição apenas critica, não pensa em outra coisa senão em eleição, não tem proposta, fica na torcida do quanto pior, melhor.

Reação em contrário? Pouca. Despercebida.

De todos os pré-candidatos oposicionistas, nenhum se destaca por ter um discurso firme, azeitado, focado. Todos insistem no genérico ‘governo ruim’, ‘governo sem planejamento’. Atinge quem, isso? Sensibiliza você?

Friboi, Iris e cia
Na prática, o adversário da oposição neste momento não é Marconi. É ela própria.
O que faz o governador é alimentar essa guerra interna, com articulações e usando de todos os seus meios de comunicação. Ele potencializa para o negativo o que é natural em um processo de construção de aliança: conversas para se chegar a um acordo, difícil, porém possível.

Será coincidência que vários dos peemedebistas que incentivam Júnior do Friboi a levar a ferro e fogo sua candidatura ao governo no PMDB sejam ligados – com cargos e uma relação bem amistosa –, nos bastidores, ao governo?

Será coincidência que os mais próximos do prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela, que tem feito elogios escancarados ao governador tucano, sejam hoje a ponta de lança de Friboi?
A ação do grupo de Friboi é curiosa. Desmerece a aliança com o PT e empareda Iris. Como uma tomada de poder no PMDB – comprou, pagou, le­vou. Ao mesmo tempo, ven­de no reservado que Marconi não será candidato, porque teme o empresário.

(Sim, teme, por razões que ficam no subentendido, nada de consistente, objetivo. Curioso que os marconistas dizem o mesmo de Friboi: eles tem arsenal forte, capaz de abatê-lo fatalmente quando quiserem.)
Na semana passada, Friboi afirmou que, se o PT lançar candidato próprio, não tem problema, ele pode procurar DEM e PSB para aliança e até apoiar Eduardo Campos para presidente da República.

Como apoiar Eduardo Cam­pos, se saiu atritado com ele do PSB ao se filiar ao PMDB?

Como apoiar Eduardo Campos se o seu PMDB está na chapa de Dilma, com o vice – e logo Michel Temer, que vem a ser o presidente nacional da legenda?

Como fechar acordo com o DEM, se o presidente do partido, deputado federal Ronaldo Caiado, é um de seus maiores críticos?

Quanto a Vanderlan, a resposta veio rápida, no dia seguinte: “Como isto é possível? Não acredito que ele (Friboi) declarou isto. Só pode ser brincadeira.” E: “Não tenho o menor interesse em conversar com ele. Aliás, não haverá composição do nosso grupo com o do PMDB e PT no primeiro turno em Goiás.”

A quem interessa a pulverização de candidaturas na oposição?

Sim, porque se Friboi vai numa direção, Vanderlan em outra, Caiado (com Armando Vergílio, deputado federal e presidente do Solidariedade) em mais uma, o PT em raia própria e Iris toma o rumo de sua fazenda, fica estabelecido que na oposição unidade não existe: é cada um por si.
Em qualquer tempo e em qualquer parte do mundo, a divisão do inimigo é alvo natural do predador de plantão. Predador eleitoral, neste sentido.

Em Goiás, é conhecida uma forma de ação do governador Marconi Perillo: ele se fortalece de seu lado e atira para abalar o outro. Uma evidência disso está na formação de seu governo: aparentes ex-adversários viram auxiliares. Ou aliados contundentes.

O melhor é Marconi fora?
Para os menos atentos, poderá parecer coincidência que o fim da greve dos policiais civis tenha ocorrido justo no dia da homenagem da Câmara de Goiânia ao ex-governador Iris Rezende.
Para os que comungam da máxima de que ‘jabuti não sobe em árvore’ – se está lá, ou é enchente, ou mão de gente –, fica a lembrança de que em todos os atos oposicionistas há uma ação contrária governista.

Marconi não dá ponto sem nó. Leva a sério que eleição não se ganha, toma-se. Não dorme no ponto, nem é do tipo que conta história pra Friboi dormir.

Continua a ter como único e maior adversário ninguém menos que ele próprio; a avaliação de seu governo (se permanecer baixa, arriscaria perder?); o convencimento de que a perspectiva de poder que apresenta é consistente, tem lastro eleitoral.

Fica a questão: para a oposição, o melhor é Marconi ser ou não ser candidato?

Ocorre muitas vezes que uma forma de vitória é escapar da derrota. Ou, quem sabe: vencer por outras mãos. Novas mãos.

Vassil Oliveira

Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).