28 de agosto de 2024
Publicado em • atualizado em 15/06/2014 às 13:55

Marconi, Iris, Vanderlan, Gomide e a desunião perfeita

(Texto originalmente publicado no Tribuna do Planalto.)

Para quem gosta de paralelos históricos, aqui vai um.

Em 1998, a oposição estava cansada de perder para o PMDB, mas estava unida. O ensaio de união ocorrera dois anos antes, quando o tucano Nion Albernaz foi eleito prefeito de Goiânia. Os peemedebistas pareciam unidos, mas não estavam. O governador Maguito Vilela titubeou, anunciou que não queria reeleição, e, quando quis recuar, era tarde: Iris Rezende tinha se estabelecido como candidato.

Venceu Marconi Perillo com o apoio de PFL (hoje DEM), PSDB, PPB (atual PP) e o PTB – mais o pequeno PSDC. De lá para cá, o PMDB sempre esteve dividido entre maguitistas e iristas; já a ex-oposição permaneceu unida. Na disputa pelo governo como oposição, Maguito foi derrotado duas vezes e, Iris, uma. Venceram, separados: Iris duas vezes em Goiânia, Maguito duas vezes em Aparecida.

E o PT? O PT apoiou o PSDB e aliados em 1998, ajudando a derrotar o PMDB. Em 2008 e 2012, juntou-se ao PMDB em Goiânia para derrotar o PSDB e aliados. Este ano, o PT caminha para ter candidato próprio ao governo, como teve antes e não chegou nem ao segundo turno.

Desde sempre, sonhou-se com a vitória de uma terceira via em Goiás. Um candidato que furasse o cerco da tradicional polarização representada por Arena e MDB na disputa pelo governo. Registre-se: a Arena hoje (PP e DEM) está no governo com o PSDB. Nos embalos da candidatura de Vanderlan Cardoso (PSB), o sonho é este: a população goiana, cansada da polarização Arena x MDB, inevitavelmente escolherá um terceiro nome. Como terceira via está muito estigmatizado, os vanderlistas até acharam um jeito de dourar a pílula: passaram a chama-lo de ‘Nova Via’.

Também sonha vencer o velho embate político, Antônio Gomide (PT). Por isso se apresenta como o ‘novo’. Por isso e porque essa ideia do ‘novo’ é velha ganhadora de eleição. Por exemplo: em 1998, vestiu-se como ‘tempo novo’. Agora, o ‘tempo novo’ tem a mesma idade do ‘tempo velho’ peemedebista: 16 anos de poder. Logo, raciocionam os gomidistas, está aberto o campo para Gomide. Tem outro motivo a animar os petistas. Em 2000, Arena (PSDB e aliados) e PMDB se enfrentaram em Goiânia, mas quem venceu foi um terceiro nome: Pedro Wilson, do PT.
Eis, pois, que a terceira via este ano está dividida, com Vanderlan e Gomide correndo na mesma linha. Mas também está desfeito o ninho ‘aliado’ ao PSDB, já que Ronaldo Caiado, com o DEM, caminha para anunciar aliança com Iris Rezende, para ser candidato a senador. Como segue desunido o PMDB, com iristas de um lado, friboizistas – apoiadores de Júnior Friboi, que retirou-se da disputa – de outro e, meio lá, meio cá, Maguito Vilela. É a desunião perfeita.

Há tempos se desenha no Estado um novo reordenamento de forças. Ele já está acontecendo. Sem ideologia, sem limites, sem medo de ser feliz. Repare no que pode acontecer em um provável segundo turno em Goiás. Caso se confirme o desenhado pela história e na pesquisa Verus/Diário da Manhã divulgada na semana passada, vão em frente Marconi e Iris. Mais uma vitória da polarização. Vencendo Caiado, o cenário será este: PT e PSB apoiam o PMDB, e o ‘novo senador’ apoia o PSDB (de Marconi e Aécio Neves), uma vez que Caiado é inimigo mortal do PT (da presidenta Dilma Rousseff), de quem os peemedebistas são siameses com Michel Temer na vice-presidência e na chapa da petista que busca a reeleição.

No primeiro turno, já haverá fato curioso: Iris apoiando Dilma, muitos de seus aliados pedindo votos para Eduardo Campos (PSB) e Caiado defendendo Aécio. Ou Iris apoiando Campos etc. etc. Claro, o cenário poderá ser outro. Pode ir Gomide para o segundo turno. Ou Vanderlan. Mas nada que não aponte para o mesmo rumo e a mesma direção. A desunião de hoje é apenas o primeiro passo da reordenação de forças que se verá amanhã. Vença quem vencer.

 

Vassil Oliveira

Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).