A intenção do presidente Luís Inácio Lula da Silva foi louvável: projetar a Amazônia ao centro do debate mundial. A região vinha de forte crítica por causa das queimadas e desmatamento durante o governo de Jair Bolsonaro. A decisão carregava simbolismo, mas política não se sustenta apenas em gestos. Governar é antecipar cenários, medir riscos e agir de forma prática. Neste caso, o governo preferiu a imagem ao planejamento.
Belém não tem condições e está demonstrado pelas notícias pré-evento. A cidade convive com problemas de mobilidade, rede hoteleira limitada e deficiências estruturais que afetam até a rotina de seus moradores. Transformar essa realidade em palco para uma conferência global, que reunirá chefes de Estado, jornalistas e milhares de representantes da sociedade civil, é um salto maior do que as pernas permitem.
Exige mais que discurso. Exige estrutura.
E essa estrutura já foi demonstrada por outras cidades brasileiras. O Rio de Janeiro sediou a Rio-92, um evento que virou referência mundial. Mais recentemente, recebeu encontros de presidentes e organismos internacionais. São Paulo, com sua rede hoteleira robusta, aeroportos conectados e centros de convenções, teria sido uma escolha natural. Lula, no entanto, escolheu o caminho da simbologia política.
Só que simbolismo não vira logística. E aí está o segundo erro. O primeiro foi a escolha de Belém, sem a devida análise. O segundo foi insistir, mesmo quando ficou claro que a cidade não suportaria o evento.
O risco é óbvio: um esvaziamento da COP30. Delegações menores, dificuldades para jornalistas e ONGs, queda de visibilidade internacional. No fim, a imagem que ficará será a de um Brasil que prometeu mais do que pôde entregar.
E isso não será apenas problema de Belém. Será problema do país, e do presidente.
O mundo vai avaliar a capacidade do Brasil de liderar o debate climático e pode concluir que continuamos reféns do improviso. Lula, que desejava transformar a COP30 em vitrine política, corre o risco de vê-la convertida em retrato das nossas fragilidades.
O que nasceu como gesto de afirmação da Amazônia pode terminar como derrota política. Boa intenção não basta. A prova de governança está na execução. E, neste caso, Lula errou ao escolher Belém. A se consolidar a baixa participação prevista, será um fracasso. Como o presidente vai reverter a situação? Ou, vai prevalecer o erro da escolha do local? O fracasso não é da cidade, é do país e do presidente. Em tempo, visite Belém e conheça uma das cidades mais icônicas do país.
Altair Tavares
Editor e administrador do Diário de Goiás. Repórter e comentarista de política e vários outros assuntos. Pós-graduado em Administração Estratégica de Marketing e em Cinema. Professor da área de comunicação. Para contato: altairtavares@diariodegoias.com.br .

