Bastou a pressão interna aumentar para tirar o presidente da OAB-GO, Lúcio Flávio, do que parecia ser uma aprazível zona de conforto.
Assim é que o presidente de hoje não é o presidente de ontem e, se quiser ter futuro no comando da instituição, não pode ser qualquer dos dois.
A Ordem é literalmente outra, com novo desequilíbrio de grupos, e novos jogos de poder.
O presidente de hoje está em ação contínua para defender seu legado e para se viabilizar na disputa pela reeleição. Está em ritmo de campanha, ao contrário do de antes.
Do jeito que ia, Lúcio apanhava muito, reagia muito pouco. Mal defendia as realizações de sua gestão.
Por extensão, nada fazia para entusiasmar os aliados a lutar ao seu lado por um segundo mandato.
Nesse ambiente, passou a ser alvo de adversários naturais, e do chamado ‘fogo amigo’.
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– ‘Fogo amigo’ na OAB – e o inimigo à espreita Até o inevitável: a rachadura definitiva no grupo que o elegeu.
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As reiteradas tentativas de apaziguamento interno, a demora em reagir à autofagia de sua base, a falta de posicionamento frente ao crescimento dos adversários, tudo isso tem feito Lúcio Flávio ver abalado o seu maior patrimônio: a imagem do ‘novo’, da renovação.
Foi com esse discurso que ele ganhou o direito de comandar a OAB no Estado. Perder isso é perder duas eleições: a anterior – pelo sentimento de fracasso e de decepção – e a próxima – pela corrosão do discurso.
A contraofensiva de Lúcio Flávio teve início quando parece ter ficado claro, para ele, o estrago feito pelo ‘fogo amigo’ em sua base de apoiadores, que gerou ‘A OAB que Queremos’.
Ali foi prenunciado o inevitável: o rompimento entre ele e Leon Denis, agora consumado de parte a parte.
A união dos dois, simbólica na disputa passada, ganha agora outro simbolismo, o da divisão de forças, velho conhecido.
Foi juntando grupos, que Leon – dissidente histórico da OAB Forte – e Lúcio venceram.
Foi na divisão de interesses que a OAB Forte selou sua derrota.
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Duas cobranças que vinham sendo feitas de forma sistemática a Lúcio Flávio:
1) pedido de impeachment do governador Marconi Perillo (PSDB), citado nas delações da Odebrecht à Lava Jato;
2) posicionamento sobre a Operação Decantação, que apura desvios na Saneago, e sobre a participação das Organizações Sociais no governo estadual.
Significaria a OAB colocar seu peso institucional na vida política do Estado. Entre os argumentos: o fato de que a OAB entrou de cabeça no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
Posicionamento político da entidade, entretanto, não é consenso entre os associados.
Em geral, o discurso vai no caminho oposto: a OAB não tem ‘lado’; deve, ao contrário, evitar a rinha política e fortalecer sua presença institucional em temas de interesse social abrangente – e na defesa de seus próprios interesses frente ao governo.
O aval de Lúcio a um pedido de impeachment do governador sem uma motivação indefensável e sem a mobilização ampla dos filiados da entidade, no mínimo abriria a guarda para se vincular a OAB à oposição, tomando partido na disputa de 2018 pelo governo.
E este é o ponto: voz corrente entre advogados é que estaria aí a real motivação para o rompimento entre Leon – que já foi filiado ao PMDB – e Lúcio – que tem dialogado com o governo, embora sem dar sinal de adesão.
Na guerra aberta, o discurso está assim:
– para os aliados de Leon, Lúcio é governista;
– para os aliados de Lúcio, Leon quer usar a instituição com objetivo eleitoral.
A negociação de Lúcio que definiu o pagamento dos dativos é citada pelos partidários de Leon como solução feita sob medida para agradar mais ao governo do que aos advogados.
Em resposta, os apoiadores de Lúcio argumentam que Leon cobra posicionamentos da OAB em casos específicos, mas não cobra em relação à citação de peemedebistas citados na Lava Jato.
E tem o fato novo: a gravação de Temer dando aval ao dono da JBS para comprar o silêncio do peemedebista Eduardo Cunha.
Fato novo que chega com uma pergunta que remete a questões antigas: já não era de se cobrar da OAB que pedisse o impeachment do atual presidente, em razão das outras denúncias que pesavam contra ele, como pesavam tantas contra Dilma e sobre as quais a OAB se posicionou ouvindo, aí sim, o clamor da classe?
O que é visível a todos: os maiores críticos do presidente estão no grupo do ex-aliado.
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O rompimento entre Lúcio Flávio e Leon Denis ficou inevitável quando Lúcio decidiu substituir os presidentes de algumas comissões da OAB.
Foram afastados, sem condescendência, nomes ligados a Leon.
Uma questão de ordem pragmática teria motivado Lúcio a agir rápido, segundo pessoas ligadas a ele: desativar uma “bomba armada”.
Se não mexesse nas comissões, acreditam, as contas da atual gestão seriam reprovadas, produzindo efeitos e consequências muito além de eleitorais.
O episódio revelou quebra de confiança total: de Lúcio em relação ao grupo de Leon; do grupo de Leon, e do próprio, em relação a Lúcio.
Apesar dos desgastes com o ato de força, o presidente acabou se animando e animando os companheiros, exatamente por mostrar coragem de agir ‘com força’, se preciso – o que não vinha fazendo.
Nesse momento é que Lúcio teria acordado. E começado a agir, reacendendo a perspectiva de (permanência no) poder.
– Lúcio Flávio agrada advogados da capital e interior e mostra que está no jogo da OAB 2018 (https://diariodegoias.com.br/ blogs/vassil-oliveira/51912- lucio-flavio-agrada-advogados- da-capital-e-interior-e- mostra-que-esta-no-jogo-da- oab-2018)
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No rastro dessa disputa:
a) aliados de Leon argumentam que Lúcio não representa a OAB pregada na campanha – ‘OAB que queremos’ –, e aliados de Lúcio devolvem afirmando que Leon está sendo guiado por “seus radicais”, que seriam os maiores incentivadores do rompimento entre ele e o presidente;
b) um pelo outro: a antiga oposição, que demorou tanto tempo para virar situação, agora se perde fazendo oposição a si mesma;
c) a oposição organizada no grupo OAB Forte, longe da briga interna – e até estrategicamente estimulando –, ganha fôlego e espaço para se reorganizar e tentar retomar o poder no ano que vem.
Como, neste momento, estão todos divididos de alguma forma – uns mais, outros menos –, o campo para novas alianças e a formação de novos grupos está aberto.
Há conversas de toda ordem – vale o trocadilho – em andamento nos bastidores. E elas é que vão redesenhar o jogo de poder na OAB para 2018.
Algumas questões de reordenamento:
Lúcio Flávio e Leon Denis, unidos na vitória, podem se reconciliar?
Leon Denis e OAB Forte, velhos inimigos, vão se unir?
Lúcio Flávio ficará isolado ou conseguirá reestruturar-se para a reeleição?
Lúcio Flávio poderá buscar forças na OAB Forte ou em parte dela? (Ou vice-versa)
A OAB Forte vai lutar contra Lúcio e Leon?
Leon Denis e Enil Filho podem caminhar juntos, em uma ‘nova’ oposição, uma terceira via?
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A recente movimentação de Lúcio Flávio é a novidade. Efeito imediato dela está no endurecimento de Leon.
Os dois têm desafios pela frente.
Lúcio, que mostrou fragilidade ao deixar o jogo interno na OAB chegar ao ponto de rompimento no seu grupo, terá que, daqui em diante, reverter as expectativas, reagindo com habilidade.
Leon terá de convencer que sua habilidade de ser oposição não é, na verdade, uma fragilidade, por transformá-lo em um líder que só sabe fazer oposição – que, eleito, mais desagrega que agrega.
E que não se perca de vista a OAB Forte. O silêncio, quando não é resignação, é arma certeira.
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