07 de agosto de 2024
Publicado em • atualizado em 13/02/2020 às 01:35

Lincoln Tejota: Wilder Morais é ‘carinhoso’ com companheiros, e Lúcia Vânia não é

O senador Wilder Morais (PP) é “carinhoso” e os senadores Ronaldo Caiado (DEM) e Lúcia Vânia (PSB) não são. Wilder faz o gesto do agrado político aos agentes políticos, o que os outros dois colegas não fazem. A definição é de um desses agentes, o deputado estadual Lincoln Tejota (PSD), e carrega um simbolismo forte do clima na base aliada do governador Marconi Perillo (PSDB).

Wilder, na definição de Tejota, cumpre a velha liturgia do gesto além do ato; do agrado, à parte o cheque para obras e benefícios. E o que sustenta as alianças e os apoios políticos senão os gestos? Caiado é oposição, então o comentário tem uma implicação com endereço certo. Mas Lúcia Vânia não é. O endereço é outro. O sentido é diferente.

Ao fazer o elogio do carinho a Wilder, Lincoln reverbera uma avaliação presente entre os governistas em relação à senadora. O de que ela briga por ela mais do que pelo grupo. O de que ela é uma adversária. Não uma adversária externa, como é Caiado. Uma adversária interna, que contesta, contra todos aqueles que se alinham de forma incontestável ao governador.

Ao argumentar sobre a falta de carinho de Lúcia Vânia, Tejota expõe essa ferida. Naturalmente, a senadora discorda. Uma das principais fiadoras da primeira vitória dessa mesma base, em 1998, ela costuma deixar claro que luta por todos, pela unidade. Porém é fato que ela luta mais que tudo para não perder o seu espaço, e que essa luta é travada de verdade dentro da base. O fogo amigo sempre foi seu maior inimigo.

São conhecidos, por exemplo, os embates dela com Marconi Perillo para ser candidata a senadora. Nunca houve condescendência de parte a parte, como convém à luta politica. Cenário parecido com o de hoje, em que ela está mais uma vez em campo lutando para não ser aposentada pelos companheiros, antes de testada pelos eleitores, nas urnas.

A reação dela é um conhecido grito de guerra: candidatíssima à reeleição, ela avisa que pode disputar o governo e, quem sabe, ou se juntar à oposição. Ela e Marconi são carne e unha, nos dois sentidos. A tensão é uma constante, da qual se aproveitam aliados em variadas ocasiões. Por exemplo: confrontar a senadora é sinal de lealdade em outra direção. Agrada quem tem que agradar.

Wilder não tem tradição política. Muitos o veem como “biônico”, na definição de Tejota. Mas tem feito a sua parte, indo até os prefeitos, vereadores e lideranças municipais, ouvindo, conversando. De olho na reeleição, ele se movimentando bastante neste momento. Sua festa de aniversário no final de semana foi um desfile de beija-mão político.

De certa forma, Wilder ‘rouba’ de Lúcia Vânia uma marca que lhe é cara: a de municipalista por excelência, que “conhece Goiás”, como dizia o mote de sua campanha para o governo em 1994. Golpe duro. Além da legitimidade política, de ver sua luta pela base questionada, ela ainda tem seu futuro ameaçado por um ‘novato’, incensado por razões tão pragmáticas.

Wilder é empresário, tem recursos para bancar a sua campanha e a de muitos mais, e isso encanta. Por outro lado, sua postulação é uma luva de pelica para fustigar uma senadora nada carinhosa. Não é coincidência o espaço que ele conquista. Significa que, independente dos meios e opiniões, ele está no jogo e jogando pra ganhar. E o jogo é bruto, não adianta reclamar.

Na entrevista, Lincoln coloca na conta do grupo da senadora o deputado federal Marcos Abrão (PPS), sobrinho dela. Recado dado. Lincoln é pré-candidato a deputado federal, e Marcos é provavelmente candidato à reeleição. Os dois têm um embate particular, e ele se dá na perspectiva maior, não há dúvida.

Lincoln não mostra condescendência nem com o presidente do partido onde ainda está. Vilmar Rocha sonha e briga nos bastidores para ser candidato a senador. Questão dele, indica Lincoln, já com um pé fora do PSD. Por Vilmar, o deputado não briga, está claro. Está cuidando de seu futuro, como mostra na motivação para sair do PSD, onde quem dá as cartas é Vilmar: quer um partido para comandar no Estado.

A disputa por espaço na base precisa ser levada em conta na perspectiva de Lincoln. Mas precisa ser igualmente levada em conta por Lúcia Vânia e por Marcos na costura do futuro políticos deles. E a declaração do deputado do PSD não é o primeiro sinal. Entre tantos está a recente arrancada do governador em criar uma secretaria uma função que já é exercida pela Agehab, desde sempre espaço assegurado a Marcos e Lúcia Vânia.

Ao contrário de Vilmar, que tem mais voz do que poder no governo, e que joga lá para a frente a definição de apoio a Eliton, enquanto acena para possível aliança com o PMDB de Daniel Vilela. Ao contrário de Wilder, em campanha sem trégua, e com as armas que tem, para ser o nome de Marconi e ao lado de Marconi na chapa majoritária da base aliada no ano que vem.

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Veja a entrevista com Lincoln Tejota:

Vassil Oliveira

Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).