23 de novembro de 2024
Publicado em • atualizado em 21/05/2017 às 12:29

Joesley, Meirelles, Caiado, Marconi… Os goianos no jogo bruto pelo poder nacional

O governo de Michel Temer está caindo por conta de gravações e da delação do goiano Joesley Batista.

Desde que assumiu, há um ano, vem resistindo em razão de outro goiano, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

Meirelles, além de segurar a onda na economia hoje, é a base sólida das principais reformas que o presidente sustenta para o futuro: Previdência e trabalhista.

Com as gravações e a delação de Joesley, Temer fia-se agora, mais do que nunca, em Meirelles. Bate na tecla de que as mudanças não podem parar.

Joesley já está no Estados Unidos, onde vai morar. Meirelles morou lá, como presidente do Banco de Boston. Tempos distintos.

Ao mesmo tempo, Joesley e Meirelles estiveram no grupo que comanda o Banco Original. Meirelles foi funcionário de Joesley até ser convidado para assumir a Fazenda.

Joesley pode derrubar um presidente. Meirelles está numa seleta lista de nomes cotados para, quem sabe, até ser candidato em uma eleição indireta para presidente da República.

É um nome acima de Temer para boa parte dos que sustentam o PIB brasileira. E para quem defende o que define como estabilidade, embora não veja saída para o presidente – ou veja: a sua saída da Presidência, com renúncia ou impeachment.

Meirelles sempre sonhou em ser presidente do Brasil.

Quando voltou ao País para participar da vida política do País, já indicava isso.

Pragmático, foi eleito deputado federal em Goiás pelo PSDB, mas antes mesmo de tomar posse, assumiu outra presidência, a do Banco Central, no governo Lula, do PT.

Meirelles disse a pessoas próximas, segundo a Folha de S. Paulo deste sábado, que está “absolutamente tranquilo”, e que fica no governo mesmo se Temer cair.

Joesley e Meirelles têm como origem a cidade de Anápolis. Que tem ainda entre seus filhos ilustres o senador Ronaldo Caiado (DEM).

Caiado nasceu lá em 25 de setembro de 1949.

Apoiador da ascensão de Temer, passou a opositor ferrenho. E aqui e ali aparece entre possíveis presidenciáveis, apesar de ser citado mais como governadoriável.

Já foi candidato, em 1989, e perdeu.

Em artigo neste sábado publicado na Folha de S. Paulo (Sem renúncia de Temer, resta o impeachment), ele fala de Temer, mas também de Meirelles, indiretamente.

O que Caiado escreveu:

Os acontecimentos desta semana, que sepultaram o governo Temer, evidenciam o estado terminal da política brasileira — e devolvem a economia à UTI, para onde a gestão desastrosa do PT a havia conduzido. Economia e política são, na verdade, indissociáveis.

Não é possível que uma esteja sã quando a outra está doente. A esperança de que o governo Temer representasse efetiva mudança no país, depois de 13 anos de escândalos e gestão temerosa, fez com que a economia, ainda sem melhorar, parasse ao menos de piorar.

Mas o governo Temer frustrou essa expectativa. Perdeu a oportunidade histórica de atender o clamor da sociedade, que, em megamanifestações de rua, sem precedentes na história do país, pedia justiça, transparência e elevação do padrão moral da política.

Temer, inversamente, optou por formar um ministério em que figuravam alguns personagens associados às piores práticas. Em vez de um governo de notáveis, optou por um governo de notórios.

Não podia dar certo. A cada ministro que saía, envolto em escândalos, a reputação e a confiabilidade do governo derretiam. Se a economia, entregue à gestão de técnicos competentes, continha a sangria herdada do desgoverno anterior, a credibilidade política, que deveria avalizá-la, definhava. A melhora dos indicadores, anunciada com euforia, não tinha sustentabilidade política.

Dependia de reformas, sobretudo a da Previdência, que o governo, mesmo antes das denúncias desta semana, não estava em condições morais de impor à sociedade. Agora, muito menos.

Um governo desacreditado não pode pedir sacrifícios à sociedade, sobretudo a uma já suficientemente penalizada, com 14 milhões de desempregados, perplexa diante do circo de horrores que a Lava Jato exibe há mais de três anos.

O país só terá condições de retomar a agenda reformista —e com ela a restauração efetiva da economia— em outro ambiente político.

O governo Temer acabou. O presidente, político experiente e pragmático, sabe disso, mas insiste em desafiar a crise, em defesa de sua imunidade institucional. O cargo lhe garante foro privilegiado. Com isso, presta um desserviço ao país —e a si mesmo.

Renúncia, em prol de algo maior —no caso, o interesse público—, é também ato de grandeza. Temer está diante de um momento decisivo de sua biografia, em que definirá em que termos a história irá tratá-lo. Se insistir em ficar, será supliciado.

Não estão em pauta suas chances de absolvição no campo jurídico. Politicamente, ele já foi condenado pelo conjunto da obra. Convém lembrar que Fernando Collor, condenado politicamente, foi absolvido pelo STF. O tribunal político tem régua própria — e é implacável quando se quebra o cristal da confiança.

É possível ainda que o presidente caia em si e perceba que o melhor serviço que pode prestar à recuperação da economia é permitindo a salvação da política.

Não percebeu que reformas de tamanha profundidade — e aí destaco a da Previdência, por sua profunda repercussão na vida de cada trabalhador — não se restringem à contagem de votos no Parlamento. É preciso que tenham a chancela do cidadão, que só a dará mediante o fator confiança, que inexiste.

Sem renúncia, resta o doloroso caminho do impeachment ou o (mais provável) da cassação da chapa Dilma-Temer. Só eleições diretas podem renovar e oxigenar o ambiente poluído da política. Crise política se resolve com política. E a necessária mudança constitucional pode ser obtida por um pacto suprapartidário que contemple, enfim, a voz das ruas.

Palavras de Caiado. Do candidato Caiado? A presidente? A governador de Goiás?

Outro goiano sonha ser presidente da República: o governador Marconi Perillo (PSDB).

Neste momento, o seu partido está entre contra a parede. A saber:

1) O que fazer com seu presidente, senador Aécio Neves, entregue na bandeja por Joesley?;

2) Fica ou não fica com Temer?

O primeiro item foi resolvido com o afastamento de Aécio e o discurso de que ele vai se defender. O segundo, virou dilema.

Talvez seja definido neste domingo, em reunião marcada pelo partido.

Neste sábado, Marconi falou sobre o momento brasileiro, e sobre Meirelles, diretamente:

“O que nós temos que ter agora é sabedoria, equilíbrio, maturidade para nos unirmos em favor do Brasil. Não adianta ficar brigando contra um ou outro. É preciso nos juntarmos para ver o que é o melhor para o Brasil. Não pode haver saída irresponsável. Nós também não podemos também apostar numa experiência nova. Nós temos que ter uma condução extremamente equilibrada para que o Brasil possa sair desse momento agora e voltar àquele status que estava nos conduzindo para um porto seguro.”

“A equipe econômica que nós temos no Brasil hoje é a melhor equipe econômica que nós já tivemos no governo. As coisas estão indo bem, as reformas estão muito bem encaminhadas. Eu acho que, mais do que nunca, nós brasileiros, especialmente aqueles que têm responsabilidade pública temos que estar juntos discutindo, refletindo e pensando sobre o que é melhor para o Brasil daqui para frente.”

“É uma situação delicada (para o PSDB) e, mais do que nunca nós temos que conversar muito e pensar no que é melhor para a nação.”

Palavras de Marconi. Do candidato Marconi? A presidente? A senador, ano que vem?

Meirelles, Caiado e Marconi estão no jogo. Joesley, que sempre financiou todos nas campanhas pelo Brasil, também. Cada um à sua maneira.

E o jogo é bruto.

Tanto produz candidatos quanto destrói sonhos. E reputações.

Façam suas apostas.