24 de novembro de 2024
Publicado em • atualizado em 01/06/2020 às 12:44

Iris relata queda de R$53 mi na receita da Prefeitura de Goiânia após Covid-19

Reunião entre o prefeito de Goiânia, Iris Rezende, com vereadores para prestação de contas com previsão de forte queda na receita (foto Jackson Rodrigues)
Reunião entre o prefeito de Goiânia, Iris Rezende, com vereadores para prestação de contas com previsão de forte queda na receita (foto Jackson Rodrigues)

Mais de R$ 623 milhões podem deixar de entrar nos cofres públicos de Goiânia em 2.020 como efeito econômico da crise provocada pelo Coronavírus (Covid-19) segundo relatório do balanço fiscal apresentado pelo Iris Rezende (MDB) à Câmara Municipal nesta segunda-feira, 01. Os dados referem-se à demonstração e avaliação do cumprimento das metas fiscais relativas ao primeiro quadrimestre deste ano que, em decorrência do isolamento social preventivo, excepcionalmente ocorreu por meio de relatório. De acordo com a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), o relatório quadrimestral deve ser apresentado regulamente ao Legislativo.

A receita da capital com impostos registrou decréscimo em abril e há indícios de perdas ainda maiores em maio, mês que não é abrangido pela apuração, cujo recorte vai de janeiro a abril. Só no mês passado, por exemplo, a Prefeitura de Goiânia contabilizou queda de -35% na arrecadação do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU/ITU).

Em termos comparativos, em abril de 2019 ingressaram nos cofres da cidade R$ 47,2 milhões provenientes dos impostos territoriais. Em 2020, entraram apenas R$ 30,7 milhões, diferença negativa de -R$ 16,5 milhões. 

RECEITAS DE IMPOSTOS20192020Variação Nominal
IMPOSTOS,TAXAS E CONTRIB. MELHORIA740.520.268,09772.461.095,964,31%
IPTU372.858.337,73391.447.185,424,99%
ISSQN224.688.176,60233.484.361,963,91%
ITBI (ISTI)42.894.773,8936.153.123,55-15,72%
IRRF67.089.721,9081.751.051,4621,85%
Outros Impostos, Taxas e Contrib. Melhoria32.989.257,9729.625.373,57-10,20%
Fonte: Demonstrativo dos Resultados Primário e Nominal – 2º Bimestre de 2019/2020

A redução – Se considerada a previsão, o cenário é ainda mais preocupante. A expectativa antes da crise socioeconômica do Covid-19 era de arrecadar nesse mesmo período R$ 52 milhões, frustração de -40,91% ou de -R$ 21,2 milhões apenas no que tange ao IPTU/ITU. A retração no mês de abril também afeta o Imposto Sobre Serviços (ISS), cujo recuo foi de -26,11%, queda de R$ 17,2 milhões na arrecadação; e Sobre Transmissão de Imóveis (ISTI), com perdas que somam quase R$ 5,1 milhões ou -44,36%. Só em relação às receitas do Tesouro Municipal, o prejuízo chega a R$ 57,2 milhões em apenas um mês, um revés de -24,13% frente ao obtido em 2019 e de -40,30% quando comparado à projeção para 2020. Nesse recorte, os danos ultrapassam R$ 121,4 milhões. 

A análise do resultado financeiro, no entanto, deve considerar que o quadrimestre tem duas realidades diferentes. “Com um todo, a análise do desempenho fiscal de Goiânia entre os meses de janeiro e abril aponta um superávit orçamentário de R$ 303,6 milhões e também um superávit primário de R$ 199,6 milhões. Isso porque a apuração abarca o período pré-crise, que vai de janeiro até parte de março, e nele está justamente os dois primeiros meses do ano, que têm picos de arrecadação por causa dos vencimentos, dos pagamentos à vista do IPTU e ITU”, explica o secretário de Finanças de Goiânia, Alessandro Melo.

DEMONSTRATIVO RESUMIDO DO RESULTADO PRIMÁRIO
Receita Primária Total1.837.597.095,57Despesa Primária Total1.506.130.360,76
Receitas Primárias Correntes1.837.271.628,51Despesas Primárias Correntes1.451.137.970,36
Impostos,taxas,contrib. melhoria 772.461.095,96Pessoal e encargos sociais919.644.836,87
Contribuições127.708.123,12Outras despesas correntes531.493.133,49
Receita patrimonial líquida72.802.175,61Despesas Primárias de Capital54.992.390,40
Transferências correntes818.251.587,53Investimentos 54.992.390,40
Demais receitas correntes46.048.646,29Restos a Pagar131.820.765,48
Receitas Primárias de Capital325.467,06Restos a pagar processados pagos                    103.689.988,41
  Restos a pagar não processados pagos 28.130.777,07
RESULTADO PRIMÁRIO (RPT – DPT – RP) ………………………………………………………………….199.645.969,33
Fonte: Demonstrativo dos Resultados Primário e Nominal – 2º Bimestre/2020

O saldo positivo também é sustentado por aportes vindos das transferências constitucionais e legais, a cargo dos governos Federal e Estadual. Tanto, que ao contrário do indicado nas últimas prestações de conta, a maior elevação nas receitas foi em relação às Transferências Correntes, que subiram 18,46% em âmbito nominal, sem considerar a inflação do período, e 15,68% em termos reais, quando se desconta o acumulado medido pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em cifras, isso significa um acréscimo de R$ 127.484.677,97 na comparação entre os mesmos meses de 2019 e 2020. 

Essa alta está diretamente relacionada às receitas de transferências vindas do Sistema Único de Saúde (SUS), cujo incremento chega a R$ 113,7 milhões, exatamente com o propósito de subsidiar as ações de prevenção e enfrentamento ao Coronavírus. Já os Impostos, Taxas e Contribuições de Melhoria, a cargo do município, cresceram nominalmente apenas 4,31% ou realmente, 1,87%. Entre  2019 e 2020, a diferença entre esse tipo de receita foi de apenas R$ 31.940.827,87.

Reunião entre o prefeito de Goiânia, Iris Rezende, com vereadores para prestação de contas
Reunião entre o prefeito de Goiânia, Iris Rezende, com vereadores para prestação de contas com previsão de forte queda na receita (foto Jackson Rodrigues)

“De forma isolada, os superávits registrados no balanço podem induzir a erro porque eles refletem situações excepcionais, que são os picos de arrecadação em janeiro e fevereiro, por causa do IPTU e do ITU, e o incremento das verbas do SUS, por causa do Coronavírus. A análise minuciosa dos dados, no entanto, mostra um cenário preocupante no mês de abril e evidências de piora em maio. Por isso, inclusive, o corpo técnico da Secretaria de Finanças avalia que deve se materializar a prospecção pessimista em relação ao impacto do Covid em Goiânia”, acrescenta Alessandro Melo. 

Segundo os estudos feitos pela pasta, a pandemia deve provocar perdas de R$ 456 milhões na comparação com o resultado de 2019 e de R$ 623 milhões frente ao estimado para este ano. A previsão é que ocorra frustração de receitas até o mês de dezembro. “O ano de 2020, ao contrário do que ocorreu em Goiânia nos anos de 2018 e 2019, deve se encerrado com déficit fiscal”, afirma o secretário de Finanças. As receitas com as mais expressivas participações no bolo de recursos confirmam a tese. 

Só no mês de abril, a cidade perdeu R$ 13,9 milhões (-68,34%) oriundos do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA); R$ 5 milhões (-44,36%) do ISTI; R$ 16,5 milhões (-35%) do IPTU/ITU; R$ 15,4 milhões (-33,13%) do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e R$  17,2 milhões (-26,11%) do ISS. A expectativa era a de que a arrecadação desses tributos somasse R$ 301,4 milhões. O que foi efetivado, no entanto, chega a apenas R$ 179,9 milhões. Frustração de 40,30%. As maiores delas em relação ao IPVA, -70,41%; ISTI, -49,42% e IPTU, -40,91%. Ao todo, os cofres públicos do município encolheram 24,13% só em abril.

Freio – As retrações e o menor crescimento nas receitas, quando comparado à média evolutiva dos últimos dois anos, de acordo com Alessandro Melo, são os sinais que atestam que a crise socioeconômica provocada pela pandemia do Coronavírus freou a evolução fiscal que Goiânia registrava desde o segundo quadrimestre de 2017. No total, entre janeiro e abril deste ano, as receitas auferidas pela Prefeitura de Goiânia apresentaram crescimento real de 10,80%, descontada a inflação acumulada no período. Nos primeiros quatro meses do ano o município arrecadou R$ 1.988.860.053,81.

Na comparação com 2019, houve acréscimo de R$ 235,950 milhões. Esse crescimento foi puxado majoritariamente pelas receitas provenientes do SUS, cuja alta chegou a 53,15%; do IPTU/ITU, ISS e do ICMS, além dos fundos de Manutenção e Desenvolvimento da Educação (Fundeb) e de Participação dos Municípios (FPM). Todos registraram tímido crescimento, mesmo diante de dados que englobam o período pré-crise. 

Protocolo – O vereador Lucas Kitão, presidente da Comissão que recebeu o relatório, explicou que o protocolo desta prestação de contas não contou com a sessão completa com os vereadores. Primeiro, foi feito a entrega e os vereadores receberão o documento para avaliação em sessão posterior para cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal.

Altair Tavares

Editor e administrador do Diário de Goiás. Repórter e comentarista de política e vários outros assuntos. Pós-graduado em Administração Estratégica de Marketing e em Cinema. Professor da área de comunicação. Para contato: [email protected] .