22 de dezembro de 2024
Publicado em • atualizado em 20/03/2019 às 10:14

Iris manda recado ao MDB

O prefeito Iris Rezende Machado (MDB) revelou em primeira mão  à jornalista Fabiana Pulcinelli que não é candidato à reeleição. A entrevista foi  publicada no  seu blog e reproduzida pelo jornal O Popular. 

Iris relembra que em 2014, após o insucesso na disputa ao governo do Estado,  havia anunciado sua aposentadoria  e que só retomou as lides politicas em 2016 “pelo sentimento de culpa” de ter deixado a prefeitura em 2010, para ser candidato ao governo, faltando dois anos e nove meses para o término do seu terceiro mandato (2008-2012).

“Alí foi um erro porque eu ainda tinha quase três anos de mandato e realizava o melhor mandato da minha vida, modéstia à parte. Fui candidato pela situação deprimente, tudo deixando a desejar. E assumi para consertar a prefeitura. Vou começar a pagar as dívidas de 2016 para trás. Vou entregar a Prefeitura sem dívida. E não serei candidato”, enfatiza.

Questionado se não pretende recuar da nova aposentadoria, como fizera anteriormente ele é assertivo:. “Eu já estou com 85 anos. Quando chegar a eleição,estarei com 87 e tenho de ter autocrítica. E tenho de dar oportunidade aos mais jovens. (…) Eu me candidatei para consertar a Prefeitura. Não preciso fazer propaganda como administrador. Não vou mais enfrentar eleição. Vim acudir a Prefeitura porque eu tive culpa nesta situação”.

Numa frase que parece ser muito atual para o Brasil pós-eleição presidencial, o prefeito Iris faz um alerta: “Eu vou dar o meu voto,mas não vou assumir compromisso de arranjar e indicar um candidato porque eu não quero ficar com a responsabilidade. eu apenas vou dizer na eleição: a responsabilidade é de quem vota. Os eleitores têm de pesar bem a vida, a competência, a moral e o espírito público do candidato. Um apelo que eu vou fazer ao povo: não eleja qualquer aventureiro”.

Na politica gestos, ações falam tanto ou mais do que as palavras. Nem sempre o que é dito ou escrito traduz necessariamente aquilo que o agente político quer expressar.

Ao longo de sua longeva vida política de mais de seis décadas, Iris Rezende soube como poucos se posicionar no palco político. Cassado em 1969, com os direitos políticos cassados por dez anos – portanto, impedido de atuar em partidos ou agremiações politicas -, foi exercer sua profissão de advogado, onde seus dons de oratória lhe renderam fama e prestígio nos tribunais de juri, mantendo assim o contato estreito com  o público.

Com a anistia em 1979, retornou ao cenário politico tendo que driblar com maestria dois pesos pesados da oposição, que tinham como ele pretensões ao governo do Estado: o popularíssimo ex-governador Mauro Borges, que havia sido cassado em 1964 e o combativo Henrique Santillo, que ocupava como poucos a tribuna do Senado com discursos inflamados pela redemocratização do país. Em 1990, transformou uma tragédia pessoal – um acidente que vitimou seu motorista e quase o leva a óbito -, como ponto de virada numa apertadíssima disputa contra o líder cooperativista Paulo Roberto Cunha (PDC). 

A derrota de 1998 quebrou o mito do líder invencível, a de 2002, na disputa à reeleição ao Senado, poderia ter sepultado sua carreira politica, mas lançou as bases para o seu retorno triunfal à prefeitura de Goiânia, dois anos depois, em 2004, garantindo sua reeleição em 2008 e a de seu sucessor, Paulo Garcia em 2012.

Em 2014 Iris sofre o terceiro revés para Marconi Perillo (PSDB) na disputa pelo governo do Estado. Parceria que seria um fim melancólico para o líder politico que foi duas vezes governador, duas vezes ministro (Agricultura e Justiça), senador, deputado estadual, vereador e até aquele momento, três vezes prefeito da Capital. Mas se há algo que Iris tem se sobra é instinto de sobrevivência. É um animal politico na acepção da palavra. . Viu nas dificuldades administrativas que sufocaram o final de governo de Paulo Garcia, que os ventos soprando para ele novamente. Noutros tempos, o insucesso de Celso Pitta, que sucedeu Paulo Maluf na prefeitura de São Paulo, inviabilizou a volta do próprio Maluf ao Edifício Matarazzo, sede do executivo paulistano. 

Iris transformou o limão numa limonada, e voltou aos palanques com o discurso de recuperar a prefeitura de Goiânia. Foi sua disputa mais apertada. Mas venceu pela quarta vez.

Há sinceridade nas palavras de Iris à Fabiana Pulcinelli. Ele reconhece que a idade pode ser um empecílho. e avalia que há espaço para novas lideranças. Mas o que diz nas entrelinhas é o mais importante na sua narrativa:

–  vai terminar o mandato com a prefeitura enxuta, sem dívidas e com obras para mostrar;

– não pretende indicar sucessor ou fazer campanha para quem quer que seja;

– adverte os eleitores para não colocarem um aventureiro no Paço Municipal.

Na politica só se mantém no poder quem consegue ser contemporâneo de seu tempo. Iris percebeu, desde sua posse neste quarto mandato que os tempos são outros. Vide sua relação com a Câmara de Goiânia. Evitou ao máximo o toma-lá-dá-cá com o Legislativo Municipal. Teve uma relação mais política e menos clientelista com os vereadores.

Trouxe para administração técnicos experientes em arrecadação. Modernizou procedimentos. Utilizou na sua gestão as modernas ferramentas do mundo digital. Manteve uma relação respeitosa com os servidores públicos e com os sindicatos da categoria. Foi fiel ao seu partido, o MDB. Apoiou a candidatura o deputado federal Daniel Vilela  num momento de grave crise interna, com o grupo dissidente apoiando a candidatura de Ronaldo Caiado (DEM) ao governo do Estado. Passadas as eleições, restabeleceu as relações com o governador, a quem deu apoio fundamental na sua eleição ao Senado, em 2014, pleito este que foi a pedra fundamental para a vitória deste em 2018.

Iris pode estar mesmo caminhando para sua última administração, mas ao lançar o alerta contra a eleição de um aventureiro, demonstra mais uma vez que está antenado com o estes dias em que o Brasil todo está espantado com o despreparo de certas figuras na Esplanada dos Ministérios e no Palácio do Planalto.

Iris sinaliza que quer ver do MDB unido. Demonstra que tem nas mãos a decisão de ser candidato ou de emprestar seu prestígio para assegurar a vitória de um correligionário.

Não combina com Iris a ideia de aposentadoria. Irá sim fazer 87 anos em 2020, e pode comemorá-los com a quinta vitória em Goiânia, sendo candidato ou não. 

Altair Tavares

Editor e administrador do Diário de Goiás. Repórter e comentarista de política e vários outros assuntos. Pós-graduado em Administração Estratégica de Marketing e em Cinema. Professor da área de comunicação. Para contato: [email protected] .