28 de agosto de 2024
Publicado em • atualizado em 27/05/2014 às 20:31

Iris, Gomide e Vanderlan: cabos eleitorais

Não foi Iris Rezende que tirou (pelo menos por enquanto) Júnior Friboi do jogo sucessório em Goiás. Foi a política.

O tempo todo, Iris foi o que é: animal político por excelência, como já se definiu. Jogador de xadrez como pouquíssimos no Estado, onde o que mais se vê é jogador de dama.

Bom jogar dama? Xadrez político é para poucos.

Ilusão de quem achava que Iris seria derrotado pela força, pela contundência de frases de efeito, ou porque está velho.

Ele principalmente se sobressaiu e manteve hegemonia no PMDB por sua habilidade. Ninguém se estabeleceu acima dele porque não chegou lá, e não porque, raciocínio raso, “ele não deixou”.

Assim como ele não chegou onde chegou porque alguém deixou. Política é ocupação de espaço. E preservação.

Nesta pré-campanha, impensável atribuir a Iris uma situação que fala por si mesmo. Júnior lutou, e lutou com competência em um primeiro momento (já que conseguiu), para ser o nome do PMDB.

Vencida a guerra interna, ele desiste?

O dia seguinte era o que poderia coroar o empresário. A administração da vitória. Mas o eliminou. Isso é Iris. Isso é política.

Como se o governador Marconi Perillo (PSDB) permitisse sombra a ele em sua base. Como se José Serra estivesse disposto a entregar fácil o osso do tucanato nacional.

Como se Lula topasse abdicar do poder de definir o nome do candidato a presidente, prefeito e govenador de São Paulo.

Basta ver como os aliados de Friboi estão sem rumo para que fique claro que o chão que fugiu foi o da política.

Júnior deu um passo fora e todos, como no balanço, se viram de repente catapultados para o alto. A pré-candidatura natimorta do deputado estadual Daniel Vilela fala por si.

Daniel não caiu no conto de um lançamento bombástico ao governo. Tem uma candidatura a deputado federal para cuidar.

Sandro Mabel pré-candidato a governador contra Iris no PMDB? Este, o que tem a perder?

Mas isso é o que há, o que é. O que fazer? Este é o ponto.

O dia seguinte de Iris é transformar a confusão armada no PMDB em fator de união e força partidária.

O PMDB está perdendo mais uma para si mesmo. Está novamente elegendo Marconi Perillo. Iris precisa começar a ganhar aí: mostrando que outubro é maior que a convenção em junho. Com Júnior, de preferência.

O que andava errado no PMDB não era a guerra interna, porque disputa interna todo partido tem. Não era o argumento do excesso de dinheiro – necessário em uma campanha – contra o excesso de virtuosismo – importante no palanque. Porque tudo que não conspira contra, age a favor.

O  errado é o partido partir-se ao meio, se é que podem me perdoar o trocadilho.

O PMDB só ganha se estiver unido, se estiver vitaminado nas suas virtudes. As feridas estão abertas nas duas trincheiras, e não apenas de um lado. Mas o remédio não está no ninho tucano.

A prevalência dos defeitos é derrota certa, pra variar.

***

Não há motivo para o PT não dizer que Antônio Gomide segue candidato a governador.

Gomide faz a sua parte. Anda Goiás e mostra disposição. É o novo se apresentando.

Ninguém tira de Gomide, hoje, a convicção de que pode se viabilizar.

Mas vai longe sozinho?

A mesma pergunta deve-se fazer a Vanderlan Cardoso, do PSB.

Vanderlan aparece bem nas pesquisas. Tem projeto de governo engatilhado. Gente disposta a defendê-lo de forma espontânea.

Mas até onde é capaz de ir com uma chapa de candidatos a deputado fraca, pouco tempo de televisão e recursos de menos na campanha?

Este é um momento de afirmação para Vanderlan e Gomide.

É quando, mais do que dizer que mantêm a candidatura, precisam mostrar que são capazes de ir até o fim.

É quando, mais do que negar possível capitulação em relação a Iris – por questões nacionais, que seja –, precisam apresentar perspectiva real de vitória.

Feito isso, a Iris fica ônus igual: até onde vai sem eles, ou um deles pelo menos, na chapa?

Por ora, no entanto, os três parecem mais dispostos a derrotar um ao outro do que ao verdadeiro adversário: Marconi Perillo.

Como se, mais do que ganhar a eleição, importa mesmo é passar na convenção – e que o outro ‘também’ perca em outubro.

O problema não são as candidaturas postas, mas o pressuposto que as sustenta: ter razão.

Acabam todas como cabos eleitorais de Marconi.

Vassil Oliveira

Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).