04 de outubro de 2024
Publicado em • atualizado em 24/03/2014 às 11:29

Iris, Friboi e Gomide: alguém tem que ceder… Para início de conversa

As pesquisas em Goiás divergem em alguns números, mas convergem na mensagem fundamental: o governador Marconi Perillo (PSDB) não está ‘morto’ e a oposição, dividida como anda, tem tudo para… morrer na praia.

O ‘dividida como está’ tem uma razão de ser: totalmente unida, a oposição goiana só estará mesmo, quem sabe, em um provável segundo turno.

Vanderlan Cardoso (PSB) não parece ter outra alternativa senão insistir em candidatura própria, sem esperar aliança com PT e PMDB no Estado. Com PSDB? Improvável.

Eduardo Campos, o candidato de seu partido à Presidência, critica a presidente Dilma (PT), que vai à reeleição com os peemedebistas (alguém duvida?), e não dá esperança de recuo ao PSDB.

Logo, Vanderlan tem pouco a esperar – e a oferecer. Como está, fica. É a tendência.

Oposição unida em Goiás atende por PT e PMDB juntos, mais os agregados.

É aí que a coisa pega. A guerra no PMDB está cada dia mais intensa.

Júnior do Friboi tem estrutura e pontos percentuais suficientes para argumentar que pode crescer, desde que pelo menos os peemedebistas estejam fechados com ele.

Hoje ele tem parte dos filiados. Uma outra parte está com o ex-governador Iris Rezende.

E se iludem aqueles que acreditam na tese de que apenas 10% da legenda está com Iris. O ex-governador pode ter resistência dentro do PMDB, no entanto continua sendo sua maior referência.

Iris não foi ainda para o enfrentamento aberto com Friboi. Acreditar que está vencido porque a maioria já foi negociada é, no mínimo, subestimá-lo.

Quem sabe não é exatamente este o erro que Iris espera dos friboizistas: acharem que ele está no fim, acabado, quando na verdade está no começo?

As pesquisas são claras: assim como Marconi, Iris anda longe de estar ‘morto’.

Mas, por outro lado, Iris estar muito vivo não quer dizer que, estrategicamente, possa ganhar sozinho. Em 2010, não ganhou.

Nada indica, sequer um índice de qualquer levantamento, que uma andorinha, sozinha, pode vencer esta eleição.

Não foi por acaso que o publicitário Duda Mendonça disse que um precisa do outro (leia aqui).

Iris precisa de Friboi, Friboi precisa de Iris.

Curioso como é fácil encontrar quem concorda com essa frase, de um lado e outro dos bunkers, e ao mesmo tempo impossível ver qualquer disposição para o, como diria Iris, “intindimento”.

Ninguém está disposto a ceder. Ninguém aceita ceder nem em tese, para que pelo menos o diálogo se inicie.

“Intindimento” é só uma palavra. O sentido se funda, e se perde, na ruminação.

Aliados de Friboi querem que Iris jogue a toalha. Iristas esperam que o empresário abaixe a cabeça.

Nestes termos, nenhuma conversa avança. Impávidos colossos, falta respeito de parte a parte.

Se olharmos bem, o adversário mais difícil para Marconi Perillo é o que menos existe a cada minuto: a união entre Iris e Friboi. Entre duas virtudes, em um brado retumbante.

Não se trata de um ter ‘voto’ e o outro, dinheiro.

O que a união deles representa é maior que a soma de suas qualidades individuais: a perspectiva de poder como combustível para o maior partido do Estado.

O PT entra na história como quem também precisa, antes de qualquer conversa, ser respeitado.

Júnior do Friboi desmerecer a aliança com os petistas, como já fez, e deixar em dúvida o apoio à reeleição de Dilma, como chegou a deixar, não dá outra opção aos petistas senão lançar candidato.

Foi assim que surgiu Antônio Gomide, prefeito de Anápolis que, em números, já disputa de igual para igual com Friboi – e isso com menos tempo de pré-campanha e bem, mas bem, mas bem menos dinheiro gasto.

Por que o PT de Gomide, neste momento, recuaria para Friboi?

Para Iris, recuaria? Os sinais da última semana foram de que, sim, para ele, recuaria. Mas cadê Iris?

O PT mostra que já está cansado de esperar que Iris se manifeste.

Cobra que ele saia da comodidade da negação teórica de sua candidatura e assuma de vez que quer o que todo mundo está cansado de saber que ele quer: ser candidato.

Esse truque de dizer que não quer, para depois surgir como salvação da lavoura, não comove mais. Isso é velho.

Convém a Iris uma estratégia nova. Antes que irrite e perca de vez o trunfo que tem contra Friboi: a preferência petista.

O PT merece respeito de Friboi e também de Iris.

Do contrário, é seguir em frente. Gomide se mostra decidido a isso, com razão. E com índices.

Pode-se cobrar tudo do PT goiano, menos que em algum momento tenha trabalhado contra a unidade oposicionista.

O deputado federal Rubens Otoni sempre se manifestou no sentido de que a união era mais importante que um candidato próprio, e que seu partido estava pronto para sentar, conversar e ceder.

Não dá é para ser desrespeitado. E para ver ameaçado o projeto maior: a reeleição de Dilma.

Iris, Friboi, Gomide, PT, PMDB, estão todos em estado de tensão máxima neste instante. As pesquisas só potencializam o debate e os embates.

Encontrar um tempo e um caminho para o diálogo é o primeiro passo para que não cedam outra coisa: ao impulso de colocar a razão acima da eleição.

Todos conhecem aquela velha máxima que diz que quem quer ter razão, não ganha eleição. Nem sempre dá para ter as duas coisas ao mesmo tempo.

Basta observar um pouquinho o ambiente político para que se perceba como o governador Marconi Perillo, já em plena campanha, joga com suas velhas armas e vai abrindo picadas. Criar intrigas na oposição é a menor delas.

Criticar o tucano por ‘inventar’ pesquisas, gastar com propaganda, andar pelo Estado em ritmo acelerado, é perder tempo. Porque ele sempre fez isso, é o que faz e vai fazer muito mais – só pra usar uma de suas recentes frases de efeito. Velha, por sinal.

Pior é deixar-se envolver no seu jogo.

A oposição costuma perder para Marconi não é em outubro, e sim muito antes, como agora, deixando que ele recupere forças enquanto briga entre si.

Nem usar o debate da união para desarmar o inimigo, usa. Nem alimentar o imaginário popular com o fortalecimento de um exército capaz de ganhar a atenção antes da guerra, alimenta. A expectativa alimentada é outra.

A briga da oposição não é para construir a unidade. Está mais para destruir a possibilidade de ficar unida. Daí, dividida, machucada, vai travar o bom combate para Marconi.

Essa história é velha e já virou filme, em cartaz há quase 16 anos. É um sucesso tucano de bilheteria.

***

Ah, lembrei.

O tucano Nion Albernaz, que era o prefeito de Goiânia quando a atual situação marconista era oposição, isso antes de 1998, repetia sempre uma historinha (parábola) nos discursos-pregações que fazia em favor da unidade. O adversário, à época, era o ‘imbatível’ PMDB de Iris Rezende e cia.

Nion falava de alguém que quebrava um graveto com facilidade, usando as duas mãos. E de como tinha mais dificuldade, quando tentava quebras dois, três ou mais gravetos colocados um ao lado do lado.

Porque um só graveto é fraco, mas muitos, unidos, se tornam ‘inquebráveis’. Era a mensagem de Nion para uma oposição que também batia cabeça, também não dava sinal de que poderia se unir, também não cedia. Uma oposição de gravetos que não se misturavam.

Até que todos se juntaram. Nion, como tantos outros, pode dizer, com orgulho político, que fez bem a sua parte. Juntos, PSDB, PPB (PP), PTB e PFL (DEM) – mais o PT, no segundo turno – elegeram Marconi Perillo governador.

O quadro se inverteu. Inclusive, na Prefeitura de Goiânia, que tinha um tucano, hoje tem um petista, Paulo Garcia.

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Sobre as pesquisas, veja posts anteriores (Grupom) e em diariodegoias (Serpes).

 

 

Altair Tavares

Editor e administrador do Diário de Goiás. Repórter e comentarista de política e vários outros assuntos. Pós-graduado em Administração Estratégica de Marketing e em Cinema. Professor da área de comunicação. Para contato: [email protected] .