23 de novembro de 2024
Publicado em • atualizado em 01/05/2013 às 22:21

Interesses cruzados travam renovação política em Goiás

Não é Iris Rezende (PMDB). Nem Marconi Perillo (PSDB). O que mais trava a renovação política em Goiás é a falta de originalidade. São os interesses cruzados de gente de um lado e outro que estão amarrados dos dois lados.

Os políticos, de maneira geral, preferem ficar atrelados a um líder estabelecido que buscar um caminho próprio. Ou a dois, no caso goiano: um de forma explícita, para goiano ver, e outro implicitamente, nos bastidores, que só ele e quem interessa veem.

Já ouvi de pesquisados que é difícil, muito difícil, imaginar futuro que não esteja sob o chapéu de uma linhagem ou outra, no Estado. O pulo do gato por aqui é a dupla ligação. Isso que é esperteza. Para nenhum Machiavel ou Sun Tzu botar defeito.

Ou seja: por pragmatismo ou por puro comodismo, o mais fácil é escolher um lado, em vez de abrir nova picada, e negociar com o outro, para ver no que dá.

Nesse aspecto, a vontade de se estabelecer uma terceira via é a vontade explícita de se sair da camisa de força da dualidade. Isso se não for o aceno, como às vezes acontece, para os dois outros lados em busca de um conversinha mais ao pé do ouvido.

A contradição vem a ser na teoria evidente, porque hoje, por exemplo, os políticos alinhados nesta via estão lá mais por não encontrarem abrigo num dos outros do que por desejo real de diferenciação. Quem negócio? Talvez. Vá saber.

Buscam um lugar ao sol confrontando a ordem estabelecida? Sim. Mas são fruto dessa ordem. Não  a subvertem nem a reinventam.

Talvez fosse bom para Goiás uma alternativa, sim. Porém verdadeiramente diferenciada. Nova. O que ainda não há.

Uma que fugisse de tudo, ou quase tudo, porque nada é absoluto em política. Que saísse do guarda-chuva dos dois líderes e que inspirasse renovação de métodos, comportamentos e alianças. Coisa parecida com nada, olhando o quadro goiano atual.

Já seria muito, no caso, fugir dos interesses cruzados, cada vez mais flagrante.

Basta ver o comportamento do presidente do PMDB, deputado estadual Samuel Belchior, para se ter uma ideia disso.

Ele é o líder do principal partido de oposição. Mas curiosamente está sempre servindo à situação.

Esta semana ele simplesmente ‘se ausentou’ da Casa, onde deveria dar expediente, no momento em que o governo seria constrangido com a apresentação de um pedido de abertura de CPI e outro de impeachment do governador. O que se deu: vitória do grupo que, em tese, é contrário ao grupo de Samuel. E não foi a primeira vez que ele fez isso. Será a última?

Há muitos “samuéis” no PMDB. Como há também na tal terceira via (que o diga o evangélico deputado estadual Simeyzon, do PSC), e no PT, com compadres que se comprazem etc. etc.

Assim como há governistas, neste momento, de malas prontas para migrar para o lado de PMDB e PT, em virtude do desgaste de Marconi. Só não irão de mala e cuia se o tucano se recuperar e voltar a ter perspectiva de vitória.

Como entender um Estado em que os seus políticos negociam por baixo do pano e, de uma forma ou de outro – normalmente nada republicanas –, se entendem?

Ninguém é contra ninguém, porque depende da conversa, depende da verba, depende do que uma Agetop da vida – em algum momento da história – repassa para um peemedebista. (O que se ouve nos bastidores…).

Os interesses cruzados é que mandam na política de Goiás. Como o centro deles é estrutura de campanha, dinheiro, verbas, naturalmente que o governo sempre tem levado vantagem. Até quando? A pergunta que não quer calar.

A desilusão – para muitos, decepção – é que juventude não tem sido sinônimo de renovação em Goiás. Os jovens apenas se locupletam politicamente em velhas práticas com mais juventude.

Mudança de verdade, em Goiás, ainda é uma utopia. Do tipo ‘Sonha, Bertulino’.

Sim, sonhamos.

Quem sabe, sonhando, acordamos para a realidade. A esperança é a última que morre.

Vassil Oliveira

Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).