A cobrança da taxa do lixo da Prefeitura de Goiânia, iniciada via conta de água no mês de julho, não é apenas uma formalidade tributária. É, antes de tudo, um teste de credibilidade para uma gestão que assume a responsabilidade de onerar o contribuinte e, ao mesmo tempo, promete resultados de limpeza que outras administrações não conseguiram Quando se cria um custo direto, cria-se também uma obrigação inequívoca de eficiência.
A memória recente da cidade já oferece um exemplo claro do risco político desse caminho. Quando a taxa de iluminação pública foi instituída, havia o discurso de que ela resolveria o problema crônico de lâmpadas queimadas e trechos escuros nos bairros.
Por vários anos, não aconteceu.
O resultado foi um aumento da arrecadação, enquanto muitas ruas permaneceram às escuras. Essa contradição alimentou a desconfiança e consolidou uma percepção de que pagar a mais não significa receber um serviço melhor, infelizmente.
Agora, com a Taxa do Lixo, o enredo tende a se repetir se a COMURG não apresentar capacidade de transformar a paisagem urbana em pouco tempo, além do que já foi feito na atual gestão. A empresa, marcada por graves problemas administrativos, de estrutura e de gestão terá que provar que não é apenas um grande cabide de empregos como já foi criticado pelo próprio prefeito Sandro Mabel.
A cobrança explícita vai expor todas as falhas que antes eram toleradas por inércia.
O desafio é ainda maior porque parte do serviço depende do Consórcio LIMPAGYN, a terceirizada que atua em coleta. Terceirizar pode ser uma estratégia de gestão, mas, em Goiânia, historicamente, a terceirização muitas vezes serviu para pulverizar responsabilidades e criar zonas de impunidade operacional. (Lembremos do tempo da ENTERPA e da QUALIX, na gestão de Nion Albernaz e Pedro Wilson).
Se a LIMPAGYN não cumprir metas, a culpa acabará na conta da Comurg — e, por extensão, na biografia política de Sandro Mabel. E, não adianta o prefeito repetir o discurso de que cobra da empresa muitas vezes. O cidadão não vê diferença: a conta é da prefeitura.
A taxa do lixo não será apenas um ítem no boleto de cada mês. Será um lembrete constante de que o contribuinte agora paga por algo que, na prática, deveria ser obrigação básica do poder público.
A diferença é que antes a insatisfação se expressava em reclamações pontuais. Agora, cada esquina suja será convertida em prova concreta de que a promessa de modernização pode não passar de retórica.
É pouco provável que o contribuinte aceite justificativas burocráticas. A cobrança cria uma régua implacável: ou a cidade fica visivelmente mais limpa, ou o prefeito será cobrado por ter aumentado a conta da população sem contrapartida real.
E, como ocorreu com a iluminação pública, a frustração não será esquecida na próxima eleição.
O risco político não se limita à rejeição difusa. A partir de julho, o eleitor estará armado de fatos. Cada falha, cada lixeira abarrotada, cada entulho esquecido na porta de casa se transformará em argumento para deslegitimar a gestão e alimentar a narrativa de que a taxa do lixo é só mais uma forma de arrecadação disfarçada de política pública.
A criação da cobrança obrigatória é, portanto, uma aposta alta e perigosa. Sandro Mabel terá que provar, semana após semana, que sua administração tem competência operacional para entregar uma cidade limpa de verdade — e não apenas no discurso.
Caso contrário, corre o risco de ver a taxa do lixo se tornar um símbolo do desgaste político que ele próprio escolheu criar. E, na via contrária, se Mabel conseguir colocar a cidade limpa como há décadas não se vê será um ponto marcante da gestão.
Altair Tavares
Editor e administrador do Diário de Goiás. Repórter e comentarista de política e vários outros assuntos. Pós-graduado em Administração Estratégica de Marketing e em Cinema. Professor da área de comunicação. Para contato: altairtavares@diariodegoias.com.br .

