Qual será o peso de Bolsonaro (o bolsonarismo) nas eleições do ano que vem?
Esta pergunta vem sendo feita cada vez mais por políticos de partidos variados, da direita, da esquerda e do centro. Cada um arrisca um palpite. Palpite, insisto. Na base da aposta. Não encontrei ninguém que espontaneamente crave uma resposta com convicção. A quase unanimidade é a avaliação de que tudo pode acontecer, mas a se olhar para as últimas duas eleições, o mais provável é que o bolsonarismo tende a surpreender mostrando força nas urnas.
Em 2018 Bolsonaro começou subestimado para terminar com todo mundo assustado. Em 2022 ele também chegou a ser dado como morto e surpreendeu – quase ganhou. Mesmo derrotado, ele continua com eleitorado firme, gado ou não. Em Goiânia, na sexta e sábado, pode-se dizer muita coisa sobre sua presença em eventos, menos que não juntou gente. Teve gente. Muita gente gritando seu nome e mostrando que segue na esperança de sua volta à Presidência.
Com seu jeito peculiar, era para ele bater martelo nas pré-candidaturas de Gustavo Gayer na Capital e Professor Alcides em Aparecida. Ele indicou que os dois vão construir essas candidaturas, mas deixou em aberto o futuro. Ele não se compromete. Age na base do vai depender. Confia desconfiando. A ver: como Alcides e Gayer vão montar suas postulações, com quais partidos, com quais aliados, se levantarão as bandeiras do bolsonarismo ou não.
Gayer, inegavelmente, é o mais bolsonarista. Defende as bandeiras com unhas e dentes e uma verve admirável. Ótimo orador, íntimo das redes sociais, ele personaliza o mi(li)tante. Ele mita o mito. Professor Alcides, menos efusivo, faz questão de a toda oportunidade se mostrar de direita e aliado leal e fiel a Bolsonaro. O empenho para o ex-presidente estar na festa de seu aniversário de 70 anos, e lançamento oficial de sua pré-candidatura, mostra isso.
É aí que entra a pergunta inicial. Bolsonaro e o bolsonarismo serão suficientes para eleger eleger Gayer e Alcides?
Professor Alcides aposta todas as fichas nesse apoio, por isso se esforça tanto para se mostrar tão próximo. Ele se esforça também para carimbar o prefeito Vilmar Mariano (MDB) como comunista, por ter o PT na sua administração. Enquanto isso, encontra-se nos bastidores com o ex-prefeito Gustavo Mendanha (com um pé no MDB), que vem sendo criticado justamente por Bolsonaro. E junto com o comunista PT, vários outros partidos estão na gestão de Vilmar. Serão todos vetados?
Além do anti-comunismo, os bolsonaristas se batem contra aqueles que desafiam suas pautas, como o combate à corrupção. Ocorre que é raro partido que não tenha algum de seus integrantes denunciado ou ligado a falcatruas. O próprio Bolsonaro enfrenta denúncias. O PL, idem. Com discurso e tudo. Com tantos comunistas na linha de tiro e aliados providenciais nas eleições de 20024 com senões que cobrem a cara toda, como Alcides vai compor sua aliança?
O mesmo vale para Gayer. Que chapa conseguirá montar? Chapa pura? Com duas ou três siglas? A visão estratégica neste caso é: não precisa de alianças, porque o povo está com o bolsonarismo. A resposta para a pergunta inicial, então, é uma só: o peso do bolsonarismo será tão esmagador que nem precisará compor com quem quer que seja. A meta inclusive estaria traçada: eleger mais de mil prefeitos em todo o Brasil, e em Goiás os prefeitos de municípios como Goiânia, Aparecida, Anápolis, Rio Verde, Jataí e por aí, vai.
Contra essa resposta está a história, que mostra que as disputas/interesses nacionais não interferem nas eleições locais. E que as alianças, acordos, soma de forças por lideranças até antagônicas tornam-se cruciais para as vitórias. O pragmatismo é mais forte que o ideologismo tanto na formação dos grupos e chapas quanto na cabeça do eleitor na hora em que vai votar. Esse eleitor pensa, diz a história, vota com o estômago, e não com o cérebro ou o coração. Aliás, o coração, nas eleições, é mais volúvel que na vida, podemos dizer. São tantas emoções…
Professor Alcides e Gustavo Gayer candidatos em Aparecida e em Goiânia são nomes que chamam a atenção. Neste momento, segundo pesquisas divulgadas, Alcides lidera nas intenções de voto. Gayer não aparece à frente. Está bem posicionado, porém mais para incógnita. O fato é que, com o nome na praça, tende a crescer. Eles tem chances reais, portanto, de vitória no ano que vem. Assim como podem perder o bonde, caso o eleitorado realmente siga outros mitos que não o bolsonarismo.
Alcides e Gayer vai de tudo ou nada com Bolsonaro. Tudo bem ou nada bem. Tudo a ganhar ou tudo a perder.
Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).