22 de novembro de 2024
Publicado em • atualizado em 13/04/2019 às 21:41

Governo quer guerra, mas brasileiros querem paz

Cem dias de governo de Jair Bolsonaro, dois ministros demitidos (Educação e Secretaria Geral) “climão” com dois dos maiores compradores de mercadorias brasileiras (China e países árabes), desarticulação na base parlamentar e muito bate boca nas redes sociais. A análise desta obra foi avaliada pelos brasileiros em quatro pesquisas publicadas nesta semana quando Datafolha, Vox Populi, XP/Ipesp e Big Data trouxeram números onde houve queda significativa na popularidade do presidente com pior avaliação nos primeiros meses de governo.

A queda na popularidade e o aumento na reprovação servem de alerta para o governo e o presidente. O povo está dizendo mais ou menos assim: “olha, não foi para isto que elegemos o senhor. Queremos emprego e uma solução para os problemas de segurança pública e saúde”.  A saída da Ford do país, a expulsão dos cubanos do Mais Médicos e os 80 tiros de soldados do exército que vitimaram um pai de famíllia no Rio de Janeiro, nem de longe são a resposta para este clamor popular.

Mas o principal recado dado pelos brasileiros nas pesquisas veiculadas em praticamente todos os jornais, sites, rádios e canais de televisão foi outro: o povo quer paz, não guerra.

População rejeita armamento

Os números aparecem em cores nítidas, clarissimas na pequisa Datafolha, tornada pública ontem pelo jornal Folha de S. Paulo. Nesta pesquisa foi dito um NÃO em letras maísculas a ênfase armamentista do presidente Bolsonaro e ao projeto anticrime proposto pelo ministro da Justiça Sergio Moro.
Dois terços dos entrevistados 68% disseram que “a posse de armas deve ser proibida, pois representa ameaça a vida de outras pessoas”. Outro terço (30%) concorda com Bolsonaro e com Moro que “possuir uma arma legalizada deveria ser um direito do cidadão para se defender”.

A rejeição ao discurso de “armar os cidadãos de bem”, é uma convicção da maioria absoluta da população. O país não está dividido em relação a isto, ao contrário, os números mostram uma rejeição ao discurso da violência, quando 68% dos entrevistados dizem firmemente que “a posse de armas deve ser proibida” e outros 72% consideram que “a sociedade fica mais insegura quando as pessoas estão armadas”.
 
Medo da polícia
Também soa como um alerta ao ministro da Justiça e aos secretários estaduais de Segurança Pública o elevadíssimo número de pessoas preocupadas com a violência policial:
81% consideram que a polícia não deve ter liberdade para atirar em suspeitos;
79% acham necessário investigar policiais que matam em serviço;
82% consideram que deve ser punido quem atira em uma pessoa com a justificativa de que estava nervoso ou “sobre forte emoção”, como apregoa o ministro Sérgio Moro;
51% dos cidadãos responderam que tem mais medo do que confiança na polícia;
Tenho muitos e bons amigos policiais. Alguns aposentados, outros na ativa. Em conversas muito francas eles me revelaram, mais de uma vez, o estresse que sofrem com a profissão. A pressão por resultados leva a polícia ao caminho da repressão, e com ele, a tentação da violência como caminho “mais curto” para conter a criminalidade.
Um destes amigos, já aposentado, me disse em tom de tristeza e desabafo: “Meu pai nunca matou e nem me ensinou a fazer isto, que eu fui aprender na polícia”.
A boa notícia para estes policiais é que nem a sociedade está concordado mais com esta ideologia do “bandido bom é bandido morto”. E não é por pena do bandido, mas pela constatação bíblica de que violência gera mais violência.
 
Insatisfação
A pesquisa Vox Populi trouxe outros elementos, que completam a pesquisa Data Folha.
70% dos brasileiros disseram que estão insatisfeitos com o país na soma de 17% “muito insatifeitos” e 53%, “insatisfeitos”;
55% dos insatisfeitos estão entre os apoiadores do presidente, sendo 44% “insatisfeitos “ e 10%, “muito insatisfeitos”;
73%  criticaram a redução dos direitos trabalhistas;
68% reprovam o fim do aumento real do salário mínimo;
65% são contra a reforma da previdência proposta pelo governo.
 
Rejeição gerou união
Independente da pesquisa, a maioria dos brasileiros consideram que o governo não está no rumo certo. Os números são uma oportunidade para o governo rever metas, ou pelo menos, ampliar o diálogo com a sociedade. Infelizmente, dialogar não é o estilo do presidente e dos ministros, que preferem mandar recados nas redes sociais a debater com setores amplos da sociedade civil.
Independente dos rumos que o governo irá tomar, considerando ou não a opinião pública expressa nos números da pesquisas, é preciso parabenizar o presidente Bolsonaro pelo menos por unir a maioria dos brasileiros na rejeição à violência.
Se há ainda aqueles que acreditam que a posse de armas, ou que ampliar a repressão policial resolve o problema da segurança, os levantamentos mostraram que a imensa maioria já acredita que esta não é a solução.
O fato é que o discurso de intolerância do presidente está perdendo adeptos.  Isto já pode ser um bom caminho para a mudança do país.

Altair Tavares

Editor e administrador do Diário de Goiás. Repórter e comentarista de política e vários outros assuntos. Pós-graduado em Administração Estratégica de Marketing e em Cinema. Professor da área de comunicação. Para contato: [email protected] .