07 de agosto de 2024
Publicado em • atualizado em 12/01/2014 às 07:14

Gomide é o nome do PT. E já busca unidade

Na tarde de sexta-feira, 10, o prefeito de Anápolis, Antônio Gomide (PT), e o ex-governador de Goiás Iris Rezende (PMDB) tinham encontro marcado. Gomide é agora pré-candidato a governador com apoio total de seu partido. Definido e assumido. Iris é e não é. Não assume, mas se comporta como tal.

 

Os dois tem muito o que conversar. Recente pesquisa Verus para o governo, publicada pelo Diário da Manhã, mostrou Iris com bons índices. Hoje ele lidera nas intenções de voto. Gomide reflete com precisão o que outro levantamento – do instituto Serpes, publicado em O Popular – destacou como desejo majoritário dos goianos nesta eleição: o novo, a renovação.

O encontro não definiu acordos, nem encerrou conversações entre PT e PMDB. Longe disso. Mas representou o que é propósito teórico e ainda não é prática na oposição: a busca da unidade. Dois líderes de dois partidos fortes e aliados em um projeto nacional – a reeleição da presidente petista Dilma e do vice peemedebista Michel Temer –, conversando em busca de entendimento é boa nova aos partidários de lado a lado e notícia ruim para os adversários.

Com a disposição para o diálogo, Iris e Gomide destoam de forma pragmática de outros líderes e pré-candidatos oposicionistas, que apontam em direção oposta. Como o prefeito de Goiânia, Paulo Garcia, que defendeu semana passada cabeça de chapa para o PMDB, embora seu partido tenha um nome a valorizar, o que irritou os colegas de legenda. Ou Júnior do Friboi, que escanteia Iris enquanto desmerece aliança com o PT e dá ao PSB papel de coadjuvante. Ou Vanderlan Cardoso (PSB), que defende união apenas em um segundo turno.

Reforçando o que a Tribuna mostrou em reportagens e notas ao longo do ano passado, há muito uma aproximação entre Iris e Gomide é vista com receios na base do governador Marconi Perillo (PSDB) Marconi não assume, porém se comporta como candidato à reeleição. Não à toa, anunciou este ano como “o melhor” de sua administração, em virtude dos investimentos e inaugurações de obras. Quer impactar, para melhorar sua imagem e emplacar a postulação. Estratégia.

Gomide tem a seu favor uma administração muito bem avaliada, e, com o apoio total de seu partido, é o tipo de adversário que os governistas gostariam de evitar pela frente. Em 1998 Marconi também era o novo contra o velho Iris. Ganhou. No ano que vem, o grupo de Marconi terá completado o mesmo tempo de poder que o irismo tinha naquele ano. Pior: contabilizará mais anos no governo que Iris, diretamente.

No caso de Iris, conta como ponto forte a experiência de articulador, algo bem diferente do estereótipo negativo do ‘velho’ que se prega contra ele, e o fato de que, para a juventude, ele é ou desconhecido, ou conhecido pela passagem pela Prefeitura de Goiânia, fato recente e sempre acompanhado de elogios. Pode-se dizer que, com esse público, ele pouco tem desgaste (a pesquisa Verus indica). Marconi, ao contrário, reforçam as pesquisas de avaliação administrativa, tem problemas nessa faixa talvez semelhantes ao que o peemedebista tinha em 1998. Tudo por conta de fatos negativos recentes, como o caso Cachoeira.

A semana, no entanto, termina com Gomide tendo mais a comemorar por uma razão objetiva: ele assumiu a pré-candidatura ao governo e o seu partido fechou com ele; já Iris continua oficialmente não-candidato. Significa que o petista poderá agora percorrer o Estado se apresentando como nome real a ser considerado na eleição. Um nome aberto ao diálogo com o PMDB e, vale ressaltar, com Iris. Quer dizer que ele está no jogo pra valer. E vai jogar.

Como Gomide já deixou claro que só deixa a prefeitura de Anápolis para ser candidato a governador, como fez Iris em 2010, quando renunciou à prefeitura de Goiânia – Céser Donizete, presidente do PT e seu assessor em Anápolis, afirmou isso à Tribuna há poucas semanas –, uma chapa com os dois juntos só será possível se o PMDB concordar com ela e Iris aceitar o Senado. Ou concordar em conduzir o processo como magistrado. Algo difícil de ser imaginado neste momento, mas não impossível – pelos menos acreditam os petistas, que veem em Friboi o oposto: fator de desunião.

Gomide tem até março para trabalhar o seu nome e convencer que é o melhor para ganhar a eleição representando uma oposição que perdeu todas para o governo desde 1998. Até lá, muita água vai passar debaixo da ponte, como pontuou a deputada federal Iris Araújo (PMDB) na semana passada ao falar justamente das conversações em curso.

Nessas águas está naturalmente a vontade de Iris. Ele também tem deixado claro que só aceita ser candidato a governador. Como vantagem, ele tem até junho para decidir-se. Pode esperar até lá, o que Gomide não pode. Mas o ‘adversário’ de Iris no momento não é Gomide. Aliás, o prefeito de Anápolis é o ‘sonho’ dos iristas para sua vice. O adversário de Iris está no próprio PMDB: Júnior do Friboi. Para ser candidato, Iris terá também de derrotar Friboi.

Com Friboi candidato pelo PMDB, a tendência é o PT bancar Gomide. Se for Iris, a conversa vai longe. Mas é fato que, no ponto em que está, a disputa ganha inevitavelmente novo rumo. Se antes a unidade das oposições com uma chapa competitiva e motivada para petistas e peemedebistas era um sonho, hoje é um edifício em construção com dois mestres de obra trabalhando para erguer, e não para derrubar paredes.

Quem sabe, a primeira obra a ser inaugurada em caso de virada no jogo político em Goiás. E, com certeza, a única que, embora não conte com a presença do atual governador, merecerá destaque absoluto nas manchetes dos veículos de comunicação do Estado e do País.