07 de setembro de 2024
Publicado em • atualizado em 15/03/2017 às 20:12

Goiânia cidade sem memória

"Primeiro Palácio de Goiânia" já não existe mais. Foto tirada em 2012: Samuel Straioto
"Primeiro Palácio de Goiânia" já não existe mais. Foto tirada em 2012: Samuel Straioto

Goiânia completa em 2017 84 anos de existência. A capital de Goiás pode ser considerada como uma cidade jovem. Para construção de casas e de prédios públicos foi adotado o Estilo Art Decó. O acervo arquitetônico e urbanístico de Goiânia é um dos mais significativos conjuntos do País.

Foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em novembro de 2003. No tombamento estão incluídos 22 prédios e monumentos públicos, o centro original de Goiânia e o núcleo pioneiro de Campinas.

No entanto, com o passar dos anos, com as transformações urbanísticas que a cidade sofreu, as construções em Art Decó foram sendo descaracterizadas. Não houve preocupação de se preservar o patrimônio.

Faço convite para um passeio pela Avenida Anhanguera no Centro de Goiânia. É possível observar que as placas de publicidades das lojas são muito grandes. Os traços das construções ficam escondidas atrás das placas.

Ainda há a preocupação quanto à destruição de vários imóveis. No início dos anos 2000, familiares de pioneiros da cidade, que eram os donos de uma casa na Rua 10, ao saberem da possibilidade de tombamento, demoliram o imóvel e comercializaram o terreno. Relembro ainda de um imóvel na Rua 20, em que o dono foi deixando de forma proposital ficar abandonado até que a Prefeitura demolisse, com a alegação que ali havia se tornado um “mocó”, esconderijo de marginais.

Reportagem de O Popular publicada no último dia 13 feita pelo jornalista Vandré Abreu mostra uma série de lugares históricos em Goiânia, que hoje já não existem mais. O conteúdo da matéria é bastante pertinente, pois ilustra que ao longo dos anos, o goianiense não teve preocupação de preservar a história da cidade.

Goiânia tem resquícios de memória e a crítica que faço é que a cidade cada vez mais perde identificações com a origem. Dois exemplos: primeiro nos anos 1980. Praticamente todo o Polo Ferroviário da cidade foi destruído para construção da nova Rodoviária. Os problemas estão aí evidentes naquela região: Tráfico de drogas, roubos, entre outros delitos.

O segundo exemplo é o primeiro palácio de Goiânia. Uma árvore em que Pedro Ludovico, o fundador da cidade ficava a sombra dela fazendo despachos. Foi colocado um bloco de pedra, indicando que se tratava do primeiro palácio.

Pessoas que tinham interesse no lote onde estava a árvore que era tombada como patrimônio histórico, começaram a matá-la aos poucos, jogando veneno, cavando em volta dela. Pragas atacaram a árvore e morreu. Foi arrancada e no terreno foi feita uma edificação.

Pra encerrar uma crítica ao Poder Público. Reformar a Praça Cívica é pouco. O que o poder público fez até hoje para preservar a memória da capital? A continuar da forma como está, aos 100 anos certamente Goiânia será uma cidade sem memória.