06 de setembro de 2024
Publicado em • atualizado em 23/05/2017 às 17:29

Goiânia: cidade sem consciência histórica

Material é guardado em caixas no Arquivo Histórico (Foto: Seduce-GO)
Material é guardado em caixas no Arquivo Histórico (Foto: Seduce-GO)

Há poucos dias, um doutorando foi preso pela Polícia Civil por ter furtado documentos do Arquivo Histórico do Estado. A partir de trabalho de investigação de policiais do 1º DP, o material foi recuperado e devolvido para o acervo público. O episódio nos apresenta algumas lições importantes, entre elas de que é preciso preservar a história do nosso povo, sob pena de perdermos identidades. Falta consciência histórica.

A identidade está ligada a origem. Fazendo uma comparação com o Registro Geral, o popular R.G, você sabe a cidade que determinado indivíduo nasceu, nome do pai, da mãe e data de nascimento. Com o documento, é possível saber que determinado cidadão tem ligação com determinada localidade, região, família e outros elementos.

O que ocorre em Goiânia, é que primeiro não houve a preocupação devida em se preservar muitas coisas ligadas a origem da nossa cidade, que é jovem, em comparação com outras metrópoles do Brasil. Documentos, fotos (felizmente ainda temos várias de Hélio de Oliveira), casas (várias demolidas), programas e propagandas feitas no Rádio ou da TV.

Se ao escrever a história não houve a preocupação em registrá-la, quanto mais agora que muitas gerações não conhecem o significado de muitas situações ligadas a origem da cidade. A identidade em muitas situações se perdeu. Experimente andar pela Rua 24 no Centro de Goiânia. Quem chegou agora de outra cidade, ou quem faz parte das novas gerações, jamais vai saber que um dia alia naquela rua já existiu o primeiro palácio da capital, embaixo de uma árvore, criminosamente destruída, Pedro Ludovico fez os primeiros despachos.

O titular do 1º Distrito Policial, Luciano de Carvalho, explicou que os documentos estavam em caixas o que facilita um furto, ou no mínimo colabora para uma desorganização. Após o fato a Secretaria de Educação, Cultura e Esporte (Seduce) se manifestou e disse que há projetos em andamento para se preservar a documentação. O Arquivo será transferido para o antigo prédio do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Os dois espaços estão situados na Praça Cívica.

Não adianta fazer projetos, se não incentivar a população a se apropriar do que é dela. É preciso começar a criar programas que sejam desenvolvidos em escolas e faculdades inicialmente que trabalhem a “consciência histórica”. Isso não é utopia, mas leva tempo. Política como esta não vai se reverter em sucesso em dois, três anos, leva tempo, é preciso paciência.

Além disso, é preciso também entender que revitalizar um espaço para que volte a ter significado histórico, não só requer uma reconstrução, como foi o caso da Praça Cívica e depois abandoná-la como aconteceu. Vale ressaltar que até hoje, quiosques não foram reabertos e parte do calçamento já está comprometido. Precisa haver manutenção do espaço presença do poder público, para que o cidadão se sinta seguro, e que possa tomar posse do que é dele. Que o episódio do furto dos documentos nos sirva de lição.